Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Conte algo que não sei

Especialistas defendem ampliação do debate sobre as drogas

Ampliar o debate com o objetivo de quebrar os tabus sobre a legalização e a descriminalização das drogas. Esse é o caminho para promoção de uma ampla discussão sobre a questão, na opinião do delegado da Polícia Civil, Orlando Zaccone, e da mestra em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Gilberta Acselrad, que participaram, na quinta-feira, dia 10, da sexta edição do “Conte Algo que Não Sei”, promovido pela Diretoria Geral de Comunicação e Difusão do Conhecimento (DGCOM), do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ).
Na opinião do delegado Orlando Zaccone, a legalização poderá resolver questões importantes provocadas pela proibição, “que muitas vezes são muito maiores que os problemas causados pelo uso das drogas”, opinou, citando a política criminal repressiva e o alto índice de mortes que ela ocasiona, e a política de encarceramento no país.
“No Brasil, temos uma política repressiva irracional no combate às drogas. A legalização pode resolver dois problemas gravíssimos causados pela proibição das drogas: o grande encarceramento e a alta letalidade provocada pelo sistema de justiça criminal. Atualmente, convivemos com cerca de 630 mil presos no país. Desse total, cerca de 1/3 se refere a crimes relacionados à droga”, destacou. 
Para o delegado, outra questão fundamental que a legalização poderá atacar é em relação à grande letalidade provocada pela política de combate às drogas. “Só para traçar uma comparação que comprova essa grande letalidade, em 2007, cerca de 1330 pessoas foram mortas no Rio de Janeiro por essa justiça criminal. Esse número é superior ao total de mortos na Guerra das Malvinas, entre a Argentina e a Inglaterra, que provocou cerca de 900 mortes”, argumentou.
Já para a  mestra em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Gilberta Acselrad, a proibição das drogas é uma pedra no meio do caminho da educação. “Ela impede o pensar, a construção de uma opinião a respeito e apaga a memória de outros consumos de drogas que já existiram”, afirmou.
A professora apresentou recortes de dois anúncios de publicidade, como forma de ilustrar o fato de algumas drogas, hoje consideradas ilícitas, terem sido comercializadas livremente no passado.
 “O primeiro anúncio é de um produto recomendado para dor de dente para adultos e para crianças, veiculado em 1885, que era, na verdade, a cocaína. O segundo, de 1914, anunciava o produto Heroína Vicario, também livremente divulgado para a população. O uso terapêutico já existia, só que foi esquecido, apagado da nossa memória em razão da proibição”, disse.
Ela também criticou a falta de incentivo nas escolas para a discussão de temas relacionados às drogas, principalmente, se o debate for proposto pelos alunos. "Essa iniciativa é rapidamente reprimida pelos dirigentes educacionais", contou.
“Se um aluno se apresentar falando sobre drogas, ele jamais será encarado como aquele que está motivando a discussão, que está trazendo para dentro da escola um conhecimento que é preciso ter. Mas ele vai ser interpretado, imediatamente, como alguém que usa, comercializa, como traficante amaldiçoado, que será excluído da escola”, avaliou.
O debate, mediado pela diretora do Departamento de Comunicação Institucional do TJRJ, Regina Lunière, foi aberto com uma homenagem ao professor Joel Rufino, diretor-geral da DGCOM, que morreu no dia 4 de setembro.
 “Na abertura desta sexta edição do “Conte Algo que Não Sei”, gostaria de prestar uma homenagem ao idealizador do projeto, nosso saudoso professor Joel Rufino, que nos deixou há uma semana. Todos nos sentimos órfãos por todo o trabalho que ele desenvolvia aqui no Tribunal. As suas ideias, os seus pensamentos, os seus projetos realizados no Tribunal eram de extrema importância para a sociedade. Sua preocupação maior era a de aproximar a Justiça do cidadão mais carente, que, ele dizia, entrava aqui no Tribunal como réu, mas que ele queria que entrasse como ator, como artista, como foi o que aconteceu no Baile Charme, realizado no TJRJ, na semana que antecedeu a sua morte”, destacou a diretora.


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