Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

segunda-feira, 2 de março de 2020

As águas de março

O PÃO E CIRCO
DO POVO ABANDONADO

"É o carro enguiçado
é a lama é a lama"
(Tom Jobim)

O crescimento vertiginoso das cidades brasileiras é um fato marcante de boa parte do século XX, perdurando até os dias atuais. O Rio cantado em verso de Carlos Drummond de Andrade, com seus 2 milhões de habitantes, há muito ficou para trás. No entorno da cidade flutua uma população que se aproxima dos 10 milhões e muito mais pode-se dizer em relação a São Paulo.
O brasileiro abandonou o campo, ou melhor, foi expulso, em busca de melhores condições de vida. As cidades não foram preparadas para esse crescimento bruto. Regra geral, calcula-se que no Brasil haja um déficit de quase 15 milhões de moradias, levando-se em conta as chamadas sub-moradias, com construções irregulares em locais de risco e também as, por si só, inadequadas para abrigar uma família média e o que fará com grade número de pessoas.
A população pobre brasileira é vítima do descaso de vários governos, independente, do matiz ideológico. Investir fortemente em moradias, com o adequado saneamento, rede de esgoto, luz e água encanada é algo que não rende dividendos eleitorais.
De forma geral, os governantes optam por obras de fachada, na qual procuram atrair os votos de um eleitorado despolitizado e sem o adequado desenvolvimento do pensamento crítico. O voto brasileiro é um instrumento de toma lá dá cá. O exemplo claro disso são as pessoas que a cada pleito se amontoam em praças e ruas balançando bandeiras de políticos que mal conhecem em troca de alguns trocados, em flagrante compra de votos mal-disfarçada.
No passado, nos morros mal vestidos de lugares como o Rio, o voto era conquistado com a inauguração de uma bica de água em favor da população carente. Agora, no vale-tudo há o sistema de  bolsas até um encaixe irregular em algum órgão em detrimento de pessoal concursado para o preenchimento da vaga.
Nessa prática em que as obras de fachada dão a tônica, hospitais, escolas e investimentos em qualidade de vida (parques, áreas de lazer, conservação do mobiliário público, atenção à ecologia, etc) são deixados de lado, com a população vivendo verdadeira via crucis em busca de atendimento.
A camada asfáltica priorizada com o automóvel particular gera grande impermeabilização das vias, com sacrifício de árvore e espaços de lazer para o povo, em especial as crianças. As praias, rios, lagoas e demais belezas naturais são alvo da degradação geral.
Como na Roma antiga, o Turismo é pautado pelo pão e circo. Há um desprezo total pelos bens culturais. A cultura de massa com sua indigência estética, educativa e lúdica dá lugar a um império do prazer pelo prazer que aproxima as pessoas do mundo animal. Esse quadro desolador explica o crescimento da violência e o apogeu do mundo das drogas, no qual se busca a fuga de uma realidade amarga para a maioria.
Que o Brasil pode e tem condições de ser diferente não resta dúvida. No entanto, a política papai-com-mamãe eternizada em seus mais de 30 partidos políticos, demonstra que a farsa ideológica em que muitos se afundam em gasto de energia representa o eterno gigante adormecido, que beneficia e enriquece a tão poucos, ao meio do lamaçal que envolve a todos. (Mauricio Figueiredo - Agência Repórter Digital)