Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

sábado, 26 de janeiro de 2013

NÓS, OS SUPER EUS


"Veja quanto livro na estante!
“Don Quixote”
“O Cavaleiro Andante”
Luta a vida inteira contra o rei"
(Raul Seixas)


De repente você dá uma olhada na estante da sala e depara com uma verdadeira biblioteca. São centenas de livros, sem contar outros espalhados em outros locais da casa. O mesmo ocorre em relação a CDs e DVDs e antes já houve coleções de centenas de fitas cassetes e fitas de vídeos que com o passar do tempo foram criando uma camada leve de um pó branco misterioso, se deteriorando com o tempo, até saírem de moda e virarem peça de museu, tão qual a sua filmadora de seis cabeças com fitas beta max e outros aparatos tecnológicos. E os seus primeiros celulares que você carregava pela rua, como quem estivesse protegendo um valioso tesouro preste a ser roubado pelos "marginais do sistema produtivo", que ficam também de tocaia para entrar na onda do consumo. Se lembra do tempo em que roubavam tênis e relógios nos ônibus urbanos?

Mas graças a grande produtividade do mundo capitalista, com o aval da China comunista (mas não tanto), hoje todos nós temos direito ao acesso a qualquer quinquilharia, "Para a nossa alegria". O colega jornalista me pede emprestado o DVD do filme "O Jornal", que teve interesse de ver depois que teci alguns comentários. Me devolveu no dia seguinte. Perguntei se gostou. Alegou que só ia ver no fim de semana. Então, jurassicamente disse para que ele ficasse com o "produto" por mais algum tempo. Ele olhou-me espantado e disse: "não
é preciso. Já tirei duas cópias. Uma para mim e outra para minha namorada".

E se tira cópia por menos de 2 reais de qualquer coisa. Vejo postagem na ARD de um casal - a Barbie e o Ken - e não chego a acreditar que são humanos. O Ken admite que já fez mais de 100 plásticas para ficar idêntico ao boneco da Mattel.

Vejo que os Kids já não possuem mais apego as coisas, como era costume com os de minha geração. Sinto vergonha da minha biblioteca e coleção de coisas, quando no mundo atual tudo é tão descartável.

Custei a perder a mania de quando saia do restaurante guardar palito ou guardanapo não utilizado, achando que iria tudo para a lixeira. Estocava em casa coisas como alguém que temesse o fim do mundo ou a terceira guerra mundial.

Agora, vejo que as coisas não funcionam mais assim e entendo perfeitamente o sentido de termos como "pau na máquina". Tudo é feito para escangalhar e se possível com a máxima rapidez. Tudo é pronto para ser descartado. Igual a seringa que a enfermeira me aplica algo na veia na UPA para instantaneamente acabar com uma dor nas costas de um exercício feito de mal jeito.

O médico __ com feições de descedente japonês __ me chama e por trás de seu computador e imprime a receita de manutenção. Comento gentil que fui pego de surpresa, na madrugada, e não tinha sequer um comprimido contra dores em casa.

Ele me olha espantado e diz: "isso não é bom. Remédio perde a validade muito rapidamente. O melhor é usar a quantidade prescrita e depois jogar fora."

Preciso de uma nova coluna ou quem sabe umas cirurgias que me aproximem um pouco do Brad Pitt.