Caminhada pela adoção reúne famílias na orla de Copacabana
Um mar de famílias vestindo a camisa da adoção. Este era o cenário da 6ª edição da Caminhada da Adoção, que ocorreu na manhã de domingo, dia 24, na orla de Copacabana, cartão-postal do Rio de Janeiro. No evento, ocorrido em um típico dia de sol carioca, era possível ver pais e mães com os filhos que adotaram, crianças integradas aos seus novos núcleos familiares segurando balões coloridos, famílias ainda à espera da chegada do tão sonhado filho.
Esse é o caso de Sara Pereira Guimarães, que levou a mãe para participar do evento neste domingo. À espera do seu primeiro neto, Maria da Glória não vê a hora de Sara, sua única filha, receber o seu filho adotivo. "Vai ser excelente. Estou pedindo a Deus que venha logo esta criancinha para podermos recebê-la com muito amor e carinho. Já vou fazer 71 anos e quero curtir logo meu netinho", disse, entusiasmada, a futura vovó. Aguardando há dois anos e meio, a candidata à adoção deu entrada no processo em Brasília e, recentemente, mudou-se para o Rio de Janeiro. Sara não esconde a expectativa pela chegada do filho. "Estou doida que chegue o meu filho, vai ser o meu primeiro, por isso, acredito que a expectativa é ainda maior", afirmou.
O taxista Nelson Monteiro e sua esposa, Cláudia Monteiro, moradores de Jacarepaguá, na Zona Oeste, fizeram questão de comparecer à caminhada com seus dois filhos adotivos, Aron e Sofia. O casal, que optou pela adoção após tentativas frustradas de tratamentos para engravidar, adotou o menino aos 9 meses, mas, para deixar a família ainda mais completa, oito meses após a primeira adoção, recebeu a Sofia, então com três meses. "Eles vieram não só para nós, mas para a toda a família, para os avós, os tios, os primos, os amigos, os vizinhos. Eles foram muito bem recebidos e acolhidos por todo mundo", disse. Vestido com uma camisa do Papai Pig - conhecido personagem do universo infantil, do famoso desenho animado da atualidade "Peppa Pig", que retrata uma família de porquinhos - o orgulhoso pai disse que as crianças mudaram a vida da família para melhor. "É uma bênção em nossas vidas. Estamos passando por uma fase muito boa. Aconselho a todos a adoção, mesmo que já tenham filhos biológicos", afirmou.
Emocionada, a comerciante Márcia Ferreira fala com os olhos cheios de lágrimas da chegada do filho, Rafael, hoje com cinco anos e adotado em 2011, quando tinha apenas um ano e sete meses. Ela participa do grupo de Adoção Ana Gonzaga II, em Cascadura, e costuma frequentar festas em abrigos e eventos voltados a apoiar a adoção. "Eu, como mãe adotiva, me sinto muito feliz. O Rafael é a nossa vida, é a nossa razão de viver. Eu não poderia ter outro filho que não fosse o Rafael. Ele foi o meu filho escolhido por Deus, chegou na hora em que tinha que chegar, no momento certo, preencheu o nosso coração. Faltava ele", afirmou, aproveitando para mandar um recado àquelas pessoas que pensam em adotar, mas ainda têm algum tipo de receio. "Vençam seus medos e vão à luta pela sua felicidade, vão à luta por aquela crianças que está em um abrigo esperando por um amor, por um carinho, por uma família, para que elas possam ter educação e uma vida digna. Na nossa vida, o que eu e meu marido buscamos é fazer o nosso filho feliz", disse. O pequeno Rafael, que gosta de frescobol, de passar temporadas na casa de praia da família, em São João da Barra, na Região dos Lagos, e de fazer tatuagens infantis de tinta, já descobriu até um dom: é atleta infantil de ginástica olímpica do Flamengo, famoso clube carioca. Seu marido, o também comerciante Albere Lopes, disse que a adoção do menino preencheu uma lacuna. "Cobriu um pedaço que faltava na gente", disse o pai.
Meta de mil adoções em um ano
Animado, o coordenador da Coordenadoria Estadual de Articulação das Varas da Infância, da Juventude e do Idoso (Cevij) do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), desembargador Siro Darlan, compareceu ao evento e falou sobre o pacto que será firmado amanhã, dia 25, entre o TJRJ, o Ministério Público e a Defensoria Pública com o objetivo de desburocratizar o processo de adoção. Com a meta de alcançar a marca de mil adoções em um ano, os juízes do TJRJ estão empenhados em dar mais celeridade aos cerca de cinco mil processos de adoção em andamento no Judiciário fluminense. "A iniciativa é no sentido de desburocratizar a busca pelas mães que, muitas vezes, abandonam crianças, e nós temos que buscar um número excessivo de fontes até localizar essa família porque não se pode destituir o poder familiar sem localização, sem comunicação com os pais biológicos. O pacto vai facilitar muito, dar uma celeridade maior ao processo de adoção. O mais importante é que as pessoas se habilitem a adotar acreditando que é possível dar uma família para uma criança, mas que se habilitem sem preconceito, sem qualquer forma de discriminação, sem um processo de escolha muito estreito. As crianças estão aí, elas estão nos abrigos, em estado de abandono, de violência, e, se nós formos capazes de dar a elas uma família de qualidade, certamente estaremos respeitando um dos mais importantes direitos fundamentais, que é o direito à convivência familiar e comunitária", destacou o desembargador, citando que há cerca de 33 mil famílias no país à espera de filhos para adotar e que existem em torno de quatro mil crianças brasileiras aguardando, em abrigos, a oportunidade de ter uma convivência familiar.
Segundo a organizadora do evento, a diretora de Relações Institucionais da Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção e presidente do mais antigo grupo de adoção do estado, Quintal de Ana, Bárbara Toledo, o número de adoções vem aumentando ao longo dos anos, conseguindo abranger cada vez mais grupos de irmãos e crianças mais velhas. "Adoção não combina com preconceito", acredita bárbara, que, no entanto, consegue compreender o que leva muitos casais a preferirem a adoção de crianças mais novas. "Quem não quer passar por todas as fases da vida do seu filho?", acredita, elogiando a iniciativa do desembargador Siro Darlan. "Ela é fundamental para garantir esse direito de as crianças terem uma família. Quanto mais congregarmos pessoas, instituições, vamos ter mais chances de despertar a atenção para essa realidade do abandono de crianças, das crianças sem família, crianças esquecidas nas instituições de acolhimento e que estão crescendo", disse.
Participando pela primeira vez da caminhada, o professor federal Mauro Braga França e sua esposa, a servidora pública federal Patrícia Fernandes França destacaram o entusiasmo pela adoção. "Nosso filho Antônio é do coração, está conosco há dois anos e dois meses. A vontade de ser mãe e ser pai nos levou à adoção, para realizar um sonho de formar uma família de uma forma legítima, com amparo legal, e que não tem a menor diferença de outra família que se forme". Para Mauro, os interessados em adotar podem vir de braços abertos. "Venham sem medo de ser feliz, sem preconceito, é uma família como outra qualquer. Quem vai dizer que o Antônio não é nosso filho?", indagou. O casal está na fila de adoção novamente aguardando mais um filho para completar a família. "A qualquer momento, o telefone pode tocar e começar a alegria toda de novo", afirmou Patrícia, animada.
Para a deputada estadual Jucélia Freitas, mais conhecida como tia Ju, a relação com a adoção vem de família. "O meu envolvimento com a causa é bem afetivo mesmo porque toda a minha família adota. Tenho irmã adotiva, meu pai foi filho adotivo. Acreditamos que dá certo por experiência própria. Uma caminhada como essa chama a atenção da população, da sociedade para uma causa tão nobre, tão bela que é a adoção. Não importa se o filho foi gerado no ventre ou no coração, o importante é acolher", afirmou, defendendo que a família é a base fundamental para toda a sociedade.
Organizado por grupos de apoio à adoção e com a participação do TJRJ, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Caixa de Assistência dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro (Caarj), o evento contou ainda com a participação da banda da Polícia Militar, do grupo de dança Saving Souls e da Corte Mirim do Rio de Janeiro, representando a Associação de Escolas de Samba Mirim do Rio de Janeiro. Cerca de duas mil pessoas participaram da caminhada, realizada em comemoração ao Dia Nacional da Adoção.