Dirigentes de clubes cariocas acreditam que a violência ocorre mais fora do que dentro dos estádios
A violência está mais presente no entorno dos estádios do que nas arquibancadas e cadeiras ocupadas por torcedores. Esta é a opinião de dirigentes de importantes clubes cariocas de futebol, que acreditam que a paz nos estádios vem sendo gradativamente alcançada, e que o Juizado do Torcedor e dos Grandes Eventos é um aliado nesse combate.
Para o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, é muito importante a convivência pacífica entre torcedores de times distintos. “Nós não somos inimigos das torcidas dos outros times, todo mundo convive com torcedores de clubes rivais na própria família, com os amigos e nunca ninguém brigou por causa disso. Então, eu acho que aquela ‘zoação’ é saudável, não tem nada mais gostoso do que numa segunda-feira você brincar com seu colega de trabalho, de escola, porque seu time ganhou, mas tudo dentro do limite da educação e da boa convivência”, acredita.
O dirigente lembrou o tempo em que torcedores de times variados da antiga Geral – em que torcedores assistiam em pé aos jogos em uma área próxima ao campo, com ingressos a preços populares - frequentavam o Maracanã lado a lado, sem que isso resultasse em briga, e defendeu as torcidas organizadas do ponto de vista de incentivo ao clube. “Mas algumas pessoas desvirtuaram esse movimento de torcidas organizadas e criaram verdadeiras gangues. Tenho a impressão de que os dirigentes de clubes, aliados às autoridades policiais, esportivas podem perfeitamente tentar virar esse jogo”, acredita.
Na opinião do presidente do Botafogo, Carlos Eduardo Pereira, está havendo um processo de conscientização em relação à paz nos estádios. Para o dirigente, é importante o retorno das famílias às partidas de futebol. “É muito importante e agrega não só um número de pessoas, mas, também, um consumo relacionado”, explicou. Para o dirigente, os clubes já estão fazendo sua parte no sentido de não financiar torcidas organizadas. Ele também defendeu a punição como forma de combate à violência no futebol. “A Justiça é muito importante para que o torcedor se sinta tranquilo e estimulado a comparecer ao estádio”, defendeu, ressaltando que medidas como chegar antes ao local ajudam a evitar maiores problemas na hora de assistir com segurança ao jogo.
Sanções mais sérias também são, na visão do presidente do Vasco, Eurico Miranda, o meio de combate definitivo à violência. O dirigente citou que, recentemente, uma torcida de um time chegou a avisar no seu site para que os torcedores não levassem mulheres e crianças ao estádio, pois teria confusão em determinado jogo, que acabou sendo interrompido e teve consequências graves. “A torcida organizada é no sentido de promover a festa. Os que se metem em confusão são baderneiros infiltrados e podem até levar outros que não sejam. Futebol é com os torcedores incentivando seu clube. Não sou favorável à extinção da torcida organizada, sou favorável à punição”, declarou.
O dirigente também defendeu a presença das famílias nos estádios, o que, inclusive, é sua prática mesmo durante o período em que não esteve à frente do clube. “A maior satisfação que tenho é de poder trazer os meus netos para ver um jogo de futebol ao meu lado. Eu tive o prazer de levar meus filhos e estou tendo hoje o prazer de levar meus netos. Tragam seus filhos ao estádio. Acho que muita coisa mudou e está mudando para melhor”, disse otimista, destacando que a violência, infelizmente, é encontrada no mundo todo e não apenas no futebol.
O presidente do Fluminense, Peter Siemsen, também concorda que, no Rio, já houve uma evolução no que se refere à prevenção da violência nos campos e que evitar o apoio a torcidas organizadas, o que tem sido prática dos quatro grandes clubes cariocas, pode ajudar a manter a paz. “Os clubes podem evitar o apoio a quem pratique atos de violência e, também, desenvolver campanhas pela paz no entorno, no acesso ao estádio, envolvendo torcedores”, disse, recomendando ainda que o público procure estacionamentos próximos ou utilizem o metrô para facilitar o acesso ao estádio.
Com o intuito de discutir o tema, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com o Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol (STJD), promoveu o I Encontro Nacional pela Paz no Futebol, dia 26 de junho.
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