Reconhecimento internacional conquistado pelo Hemorio certifica instituição que realiza trabalho de referência em coleta e distribuição de sangue, além do tratamento de doenças
Mario Brizon
O Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio) completou 70 anos com uma história de lutas, dedicação, solidariedade, profissionalismo e, acima de tudo, salvando milhares de vidas. Não são poucos os casos de pessoas salvas em função do nobre gesto dos doadores. Assim como é virtuoso o trabalho de uma equipe incansável de profissionais que se dedica dia a dia para não deixar faltar sangue àqueles que necessitam. O Hemorio é um hospital de referência no país e, além de coleta e distribuição de sangue, possui internação para doenças relativas ao sangue.
O reconhecimento internacional e realização de campanhas periódicas são fatores motivadores dainstituição, que trabalha todos os dias da semana para atender a demanda de fornecimento de sangue para cerca de 200 unidades de saúde em todo o Estado do Rio de Janeiro. Essas unidades estão vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) nas esferas estadual, municipais e federal, com prioridade para os hospitais de emergência, maternidades e UTI´s neonatais. Mesmo as unidades privadas acabam recebendo ajuda do Hemorio, que lhes fornece hemocomponentes (as quatro partes do sangue fracionado: hemácias, plasma, plaquetas e crioprecipitado) mediante solicitação e disponibilidade no estoque, principalmente em situações de emergência, grupos sanguíneos raros ou para pacientes em casos especiais.
Diante de todo este esforço, o Hemorio ainda tem uma capacidade diária ociosa de coleta de sangue, já que pode atender a 600 pessoas por dia, contra uma média é de 300 doadores. Para que as demandas transfusionais pudessem ser atendidas em todo o Estado, seria necessária uma média de 500 doadores/dia, sete dias por semana. “Os brasileiros não possuem o hábito de doar sangue regularmente. Menos de 2% da população o faz continuamente. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, seria necessário que entre 4% e 5% da população doasse sangue com regularidade para que os hospitais pudessem ser abastecidos com maior tranquilidade”, informa a diretora geral do Hemorio, Simone Silveira.
Para amenizar este cenário, o Instituto realiza campanhas sistematicamente e conta com o apoio do trabalho de voluntários, de artistas que ajudam a sensibilizar para a doação e da própria mídia que ajuda na divulgação. “As campanhas de rotina e as pontuais são essenciais, pois costumam reverter a queda no volume de doações, mas apenas de forma imediata. Por isso, as campanhas são estruturadas para que aconteçam em períodos estratégicos para mobilizar a população exatamente nos momentos mais críticos”, explica.
É sabido que algumas épocas do calendário podem exigir um fornecimento maior do material do banco de sangue, como Carnaval, Réveillon e feriadões, e que tem em contrapartida um agravante, a baixa nas doações. Para enfrentar essas fases, o Hemorio se utiliza das campanhas. “Nesses períodos, já que historicamente há uma excessiva queda no número de doações, o Hemorio prepara campanhas específicas para alertar a população para o problema. A mídia é uma grande parceira na divulgação, assim como a opinião pública e os artistas, que geralmente apoiam a causa. Há doze anos, por exemplo, no período que antecede o Carnaval, realizamos a tradicional campanha ‘Vista a Fantasia da Solidariedade’, com o apoio de escolas de samba e celebridades, que convidam a população e enfatizam a importância da doação de sangue regular. Nestes períodos, o Hemorio também amplia as suas coletas móveis para sensibilizar ainda mais população para o hábito de doar”, conta Simone.
A prevenção também é alvo do Hemorio que conta com alguns programas, como o Jovem Salva-Vidas, iniciado em 1996, que atua junto às escolas de ensino fundamental e médio das redes pública e particular do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo é a proteção da saúde dos jovens, agindo na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, AIDS, hepatites e outras situações de risco.
Há também a Semana Comemorativa pelo Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue, na última semana de novembro, com o Dia Nacional comemorado em 25 de novembro. “Neste período, os hemocentros de todo o Brasil realizam uma campanha que dura toda a semana como forma de agradecer aos doadores que costumam doar sangue durante o ano, assim como também numa estratégia de abastecer os estoques para o mês de dezembro. Neste mês, em geral, os níveis caem muito devido às férias, chegada de turistas e festas como Natal e Réveillon”, reitera a diretora.
E o engajamento do voluntarismo é mais uma ferramenta que ajuda o Instituto nos seus objetivos. “Temos um grupo de voluntários atuando dentro e fora da instituição, mas sempre é necessário incrementar ações que envolvam o bem-estar dos pacientes em tratamento. Portanto, quanto mais pessoas ajudando, melhor. O Hemorio sempre está precisando de novos voluntários para atuar em diversas frentes e atividades institucionais”, convoca Simone.
Equipamentos modernos e alta tecnologia |
Sangue não se fabrica
O Hemorio possui 100 mil pessoas cadastradas como doadores, no entanto, nem todos fazem doação com regularidade. “Se cada um dos 100 mil cadastrados fizesse uma doação por ano, todos os nossos estoques estariam abastecidos”, avalia a chefe do Setor de Promoção de Doação de Sangue, Neusimar Carvalho. De acordo com ela, a população atende aos chamados e às campanhas, mas ainda não se imbuiu de que a doação de sangue deve ser feita com regularidade, dentro da rotina da vida das pessoas. “A necessidade é muito grande. O sangue não se fabrica, só existe uma forma de obtê-lo, através da coleta e doação. Existem mais de 100 subgrupos de tipos de sangue, além das famílias A, B, O”, explica.
Trabalhando há 30 anos no Hemorio, a enfermeira diz que a organização do setor é relativamente nova e que os erros do passado criaram medos nas pessoas. “Antes, não havia regulamentação. Ninguém doava sangue porque existia um mercado que comprava e vendia sangue e não se fazia controle sanitário do material colhido. O resultado disso foi catastrófico com o surgimento da AIDS. Muitas pessoas, especialmente hemofílicos, acabaram contaminados com HIV, além de hepatite e outras doenças. Diante daquele quadro, houve pressão da sociedade, da mídia e dos médicos para que finalmente fossem criadas regras rígidas para o setor”, disse.
O Hemorio, historicamente, participa do fomento das políticas do setor, até em função da origem de muitos de seus médicos atuais e do passado, oriundos da área de sanitarismo. A norma que regulamenta a coleta, o processamento, a estocagem, a distribuição e a aplicação do sangue, seus componentes e derivados, e estabeleceu o ordenamento para execução adequada dessas atividades é a Lei 10.205, de 21 de março de 2001. Neusimar disse que a Lei é o marco do setor. De lá para cá, muito tem sido feito para garantir a segurança de quem doa e de quem recebe sangue, e que hoje o controle de qualidade obedece padrões e normas internacionais e que não há qualquer risco.
Perfil do doador
O perfil do doador do Hemorio é predominantemente masculino, entre 29 e 35 anos, moradores, em sua maioria, da Baixada Fluminense e da Zona Oeste. Neusimar explica que há 11 anos é feita uma campanha para incentivar a doação junto às mulheres, mas o resultado ainda não é expressivo. “Saltou de 28% para 33%”, informa. Ela acredita que as dificuldades com a mobilidade e a falta de tempo das pessoas são alguns dos agravantes para a doação. “Para enfrentar esse problema, ampliamos nosso antedimento. Abrimos todos os dias, até às 18 horas. Também temos um ônibus que se desloca para diversos lugares para fazer a coleta. Possuímos a Caravana Solidária, que acontece quando é possível juntar um grupo mínimo de 15 doadores. Quando isso ocorre, mandamos nosso ônibus buscá-las, desde que dentro de um raio de 60 quilômetros”. Ela conta também que empresas e faculdades organizam grupos de doadores.
Ciclo do Sangue
No Hemorio há o ‘Ciclo do Sangue’, um roteiro obrigatório que o mesmo passa desde a chegada do doador ao hospital, até o momento da expedição, quando é entregue para outras instituições de saúde. Um dos setores mais importantes desta cadeia é o Laboratório de Preparação de Hemocomponentes, onde o sangue é separado em hemácia, plasma e plaqueta. A técnica de laboratório Maira Alves dos Santos explica a importância desta separação e do quanto vale para um paciente de dengue hemorrágica, por exemplo, as plaquetas, que são extraídas do plasma. “Uma bolsa de plaquetas equivale a dez quilos do peso de uma pessoa. Se tivermos um paciente de 70 kg, ele vai consumir sete bolsas”.
Nos laboratórios de qualificação as amostras de sangue do doador são examinadas para se detectar possíveis doenças transmissíveis. O Hemorio conta com a mais alta tecnologia laboratorial, conhecida como Teste Ácido Nucleico (“NAT” – sigla em inglês). Para se entender a importância deste equipamento, durante a janela imunológica (período de incubação dos vírus, intervalo de tempo entre a infecção e a produção de anticorpos) são realizadas verificações através da Sorologia, que faz a medição de anticorpos produzidos pelo organismo. No caso do HIV, esse prazo é de 14 dias e no HCV (Hepatite C) leva 90 dias. Utilizando-se a NAT, há uma redução substancial no prazo, uma vez que a medição é feita na carga viral já presente no organismo. No caso do HIV, cai para sete dias, e no HCV, para 14 dias.
“Sangue vale mais do que ouro”
Todos os dias, há 27 anos, Maria José dos Santos, a enfermeira Zezé, de 61 anos de idade, realiza a coleta de sangue de dezenas de pessoas no Hemorio. Tem público fiel e inúmeros amigos e trata a todos com o carinho. Bem humorada e falante, não há doador que esteja tenso que não consiga relaxar diante dela. “Doador é que nem criança. A gente conversa, acalma, tranquiliza e sai tudo bem”. Enquanto atendia duas pessoas à sua maneira, ela disse que o ato de doar sangue é o mais nobre de todos. “Uma bolsa de sangue vale mais do que ouro. Sangue salva vidas, ouro não”, define ela com a precisão e a simplicidade de uma profissional que entende o real valor da doação de sangue.
Hemorrede estadual
Para atender às demandas de todo o Estado, o Hemorio coordena os trabalhos da Hemorrede, que compreende um conjunto de serviços de hemoterapia e hematologia, organizados de forma hierarquizada e regionalizada, de acordo com o nível de complexidade das funções que desempenham e a área de abrangência para assistência. O Hemocentro Coordenador é o próprio Hemorio. Além dele, a rede é composta por quatro Hemocentros Regionais, 21 Núcleos de Hemoterapia, uma Unidade de Coleta e Transfusão, 60 Agências Transfusionais e 15 Serviços de Hematologia localizados no Rio de Janeiro e Niterói. O mapa completo da rede pode ser acessado no link: http://www.hemorio.rj.gov.br/ html/Hemorrede_mapa.htm
Solidariedade e dádiva
Marcos Araújo, que há 11 anos trabalha no Hemorio como assessor de comunicação, decidiu se aprofundar no tema “doação” e tornou-se um estudioso do assunto. Ele está finalizando uma dissertação de mestrado que trata deste tema. Segundo ele, a Teoria da Dádiva é um estudo antropológico iniciado por Marcel Mauss, que foi sobrinho de Émile Durkheim, considerado o “pai” da sociologia moderna. Ele analisa que a grande maioria dos doadores é motivada por essa relação da tríade “dar + receber + retribuir”, que move a sociedade como um todo. “Existem alguns estudos franceses que consideram a doação de sangue voluntária como a única forma de ‘verdadeira dádiva’, mas também temos observado que o discurso é algo que pode compelir direta ou indiretamente a doação. O Brasil nunca passou por situações de grandes guerras em seu território, ou catástrofes de proporções épicas, diferentemente da Europa, por exemplo, onde os índices de doação de sangue são muito maiores. Mas, quando temos situações-limite como as que observamos durante as chuvas na Região Serrana do Rio em 2011, a morte de crianças na escola pública de Realengo, no mesmo ano, e até mesmo o incêndio na boate Kiss, no sul do país, temos resultados assombrosos no aumento das doações de sangue”, conta.
Segundo ele, os dois primeiros exemplos citados provocaram um aumento impressionante no comparecimento de voluntários. “Em janeiro de 2011 recebemos mais de 1.400 pessoas em um único dia, dispostas a doar sangue para as vítimas da Região Serrana. Isso é mais do que o dobro de nossa capacidade física instalada e comprova que a população é solidária, mas que a ‘identificação’ entre doador e receptor é um mote para que ele seja imbuído a realizar o ato da doação”, explica.
Reconhecimento internacional
O Hemorio foi fundado em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, e hoje é reconhecido internacionalmente pelo profissionalismo e pela qualidade dos seus serviços, tanto que foi o primeiro órgão público do Brasil a ser acreditado, em 2001, pela Joint Commission International (JCI), um dos mais respeitados institutos de acreditação do mundo, sediado nos Estados Unidos. Ao todo, o Hemorio recebeu três reacreditações conquistadas em 2003, 2007 e 2010, o que atesta a patente da qualidade do serviço oferecido.
Além da JCI, o Hemorio também foi acreditado por sete vezes consecutivas pela Associação Americana de Bancos de Sangue (AABB), entidade que promove o desenvolvimento científico da hemoterapia e audita esses serviços nos Estados Unidos e em outros países. Em todo o mundo, cerca de dois mil serviços estão filiados à AABB. O Hemorio foi a primeira instituição pública fora dos Estados Unidos a obter esse certificado, em 2001. O manual da associação faz rigorosas exigências e avalia centenas de itens, como organização, recursos humanos, equipamentos, fornecedores e clientes, controle de processo, documentação e registro, desvios, não conformidades e complicações, avaliações internas e externas, melhoria de processos através de ações corretivas e preventivas, instalações e segurança.
No Brasil, o Instituto recebeu o Selo Pró-Equidade de Gênero, do Governo Federal, em reconhecimento às organizações que priorizam a igualdade entre homens e mulheres no ambiente de trabalho. Também recebeu, por duas vezes, o Troféu do Prêmio Nacional de Gestão Pública.
Simone Silveira, diretora geral do Hemorio, explica que a acreditação é um processo de avaliação periódica de instituições de saúde para determinar se as mesmas atendem a um conjunto de padrões para melhorar a qualidade do cuidado ao paciente, e a segurança de funcionários e visitantes. “O processo é realizado de acordo com os padrões internacionais da JCI. A avaliação é feita por diferentes grupos de profissionais que visitam as instituições e fazem análises técnicas e estruturais”, disse.
Mariana Rios |
Solidariedade que faz a diferença entre a vida e a morte
Há inúmeros exemplos de cidadãos que se dedicam a salvar vidas, doando sangue várias vezes por ano e há também casos de pessoas que tiveram suas vidas salvas, depois de muita luta, esforço, trabalho dedicado e esperança. Um dos doadores voluntários mais emblemáticos é o taxista Rômulo da Silva, de 58 anos. Desde abril de 1996, ele faz uma doação mensal de aférese (tipo de coleta de apenas um componente específico do sangue, no caso dele, plaquetas). “Não sei explicar bem o motivo de fazer doação com essa frequência. Para mim é uma coisa natural. Sinto falta quando não faço”, explica.
Ele conta que antes do Hemorio, fazia doações para a extinta Casa do Hemofílico. Sua relação com o Instituto começou a partir de uma notícia que ouviu no rádio do seu taxi quando um ônibus foi abalroado por um trem na Baixada Fluminense, em 1996, provocando muitas vítimas. “Ouvi o apelo para a doação. Corri para o Hemorio e nunca mais deixei de doar”. Ele revela também que doar faz parte da sua rotina. “Criei um vínculo com as pessoas do Instituto. Há uma carência grande de doadores que se comprometam. É preciso ser solidário”!
Emoção - Flagramos momentos de emoção quando visitamos o Hemorio. Um deles foi o encontro de uma doadora cadastrada que foi convidada a doar para um menino de quatro anos de idade que precisava do tipo sanguíneo dela. Após a doação, Rosemeri de Souza Rabelo, operadora de caixa de supermercado, de 37 anos, recebeu um abraço carinhoso de Neusimar Carvalho, a chefe do Setor de Promoção de Doação de Sangue. Pudemos ouvir quando Rosemeri, com lágrimas nos olhos, sussurrou baixinho. “Obrigado por me ligarem. Queria muito ajudar. Obrigado Deus por esta oportunidade”.
As palavras sinceras e emocionadas da doadora demonstram inequivocamente a grandeza do ato de poder ajudar ao próximo, de salvar vidas. Ela confessou que doar sangue lhe faz se sentir útil. “Estou salvando vidas de outras pessoas e estou ajudando a quem eu nem conheço”. Ela é doadora desde 2004 e sua filha, de 13 anos, também é uma entusiasta desta atitude e que pretende também ser uma doadora quando atingir a idade mínima.
Exemplo - Luis Cláudio, que também doava sangue no mesmo dia, contou que aquela era a sua quinta doação. Venho agora de três em três meses. Não vou parar mais de doar”, disse. Perguntado sobre por que estava ali, ele disse: “Entendi o valor e a importância da doação quando sofri um acidente e precisei de sangue”.
Esperança e superação - Na outra ponta da tênue linha que separa a vida da morte, mas que une solidariedade e esperança está Raissa Azevedo, moradora da cidade de Cabo Frio, na Região dos Lagos. Em setembro de 2002, aos 25 anos, ela viu sua vida mudar drasticamente ao descobrir que tinha um tipo raro e agressivo de leucemia. “Eu tinha uma vida agitada, muito corrida. De repente passei a sentir muito cansaço. Fui no médico e fiz os exames. Descobri que tinha leucemia linfoide aguda”. Depois dos primeiros três meses de tratamento a situação se agravou com uma mucosite severa que a impedia de comer, falar, tomar banho. Ela emagreceu e com o início da quimioterapia perdeu os cabelos. Ficou internada no Hemorio e teve que se afastar da família, amigos e trabalho. Passou a se comunicar com parentes através de um caderninho onde descrevia seu dia a dia do doloroso tratamento. Realizou incontáveis transfusões de sangue e em todos os procedimentos, por mais sofridos que fossem, sempre sorria. Ela conta que muitas vezes tinha vontade de chorar e ficar triste, mas quando lembrava de toda a equipe que a tratava tão bem e que se dedicava com tanto carinho, acabava trocando as lágrimas pela esperança. Lembrava também dos doadores de sangue voluntários, que realizavam esse gesto mesmo sem saber a quem estavam realmente ajudando, e sua esperança se revigorava.
Raissa recorda as muitas vezes em que ficava aguardando a chegada do seu tipo de sangue, mas ele não vinha, pois faltavam doadores. Nesses momentos, as horas insistiam em ser mais longas do que de costume. “Quando o sangue chegava e os médicos e enfermeiros faziam a transfusão, parecia que a alegria estava voltando para dentro de mim novamente e, enfim, eu chorava muito, mas de alegria”, relata.
Foram dois anos de tratamento. No Hemorio, Raissa fez amigos, ajudou pacientes na recuperação e nunca permitiu que a tristeza a abatesse. Quando deixou o setor de internação, todos também choraram de alegria, pois sua esperança iria fazer muita falta. “Hoje tenho a certeza de que essa doação é especial. Isso me transformou e me deu a oportunidade de ser uma nova pessoa, de ter uma nova compreensão da vida. Quando olho uma flor, ela é muito mais bonita. Quando eu respiro, é muito mais prazeroso. Quando olho as pessoas, os amigos, a família, isso não tem preço. A beleza da vida é a superação. Gostaria que as pessoas compreendessem a importância e o valor de doar. Digo para você: Faça! Participe da campanha de doação de sangue! Seja um herói você também!”
Raissa fez faculdade de Biologia e terminou sua pós-graduação. Hoje tem uma vida normal e saudável e está sempre engajada em campanhas para incentivar a doação de sangue.
Doar não engorda. Seja um doador você também
Mesmo com todas as campanhas de esclarecimento realizadas pelo Hemorio, persistem no imaginário popular alguns mitos que acabam por afastar os potenciais doadores. Qualquer pessoa que tenha entre 16 e 69 anos e tenha boa saúde pode ser um doador voluntário. O principal temor ainda é o medo da agulha. Entretanto, existem vários mitos que há décadas se constituem como inverdades: “doar sangue engorda” ou “emagrece”, “afina o sangue”, “engrossa o sangue”, “quem doa uma vez é obrigado a doar sempre”, “que existe o risco de se contrair uma doença infecto contagiosa na hora da doação”. Nada disso é real, atesta o Hemorio, que acrescenta que não existe a possibilidade de um doador contrair uma doença durante o ato, pois todo o material utilizado é descartável e a doação de sangue não faz com que existam anormalidades na estrutura sanguínea. Todo material coletado passa por controle de qualidade de padrões internacionais, e é testado nos laboratórios.
Para vencer essas barreiras, o Hemorio procura periodicamente esclarecer sobre estes mitos nas campanhas e trabalhar de forma viral na internet e nas redes sociais, especialmente entre os jovens, para que desde cedo esses medos sejam vencidos.
Recomendações - Quem vai doar sangue deve obedecer as seguintes recomendações: primeiramente, não deve estar em jejum (o que é outro mito). O doador deve estar bem alimentado, evitando apenas alimentos muito gordurosos nas três horas e ingestão de bebidas alcoólicas nas 12 horas que antecedem a doação.
O voluntário deve levar consigo um documento oficial de identidade com foto (original) e estar dentro dos critérios básicos para poder doar: ter entre 16 e 69 anos, pesar mais de 50 quilos e ter boa saúde. Jovens com 16 e 17 anos precisam de autorização expressa dos pais e/ou responsáveis para realizarem a doação. Todo candidato é submetido a uma entrevista clínica de triagem para verificar se está apto para doar sangue. Por questões de segurança, não é permitida a doação de sangue do doador acompanhado de menor de 12 anos.
Serviço
Hemorio
Endereço: Rua Frei Caneca, nº 8, Centro, Rio de Janeiro, RJ
Funcionamento: todos os dias, de 7 às 18 horas, inclusive finais de semana e feriados
Telefones: (21) 2505-0750 / 6750
Disque Sangue: 0800-282-0708
E-mail: doasangue@hemorio.rj.gov.br
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