Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Comentário sobre o apartheid

A leitora Liseane Morosini nos enviou o seguinte comentário sobre nossa postagem "Apartheid brasileiro 10":

"Sou descendente de italianos e poloneses. Meus bisavós eram lavradores e vieram em busca de melhores condições aqui no Brasil. Fizeram um longo percurso de navio e se instalaram em áreas inóspitas da serra gaúcha. Ninguém queria ir para lá, por sinal. Como eles, inúmeros outros imigrantes que ocuparam espaços vazios no Brasil não tiveram a sorte dos poucos premiados com "excelentes áreas de cultivo". Foi uma vida muito dura, enfrentada sem condições materiais. Da mesma forma, os estudos históricos atuais mostram que vários negros alforriados tornaram-se também eles proprietários de escravos e reproduziram a lógica escravista em seus negócios. Por isso creio que reduz a historicidade e em nada contribui para a reflexão, o fato colocar negros oprimidos de um lado e brancos privilegiados de outro. Quanto à realidade, os indicadores privilegiam sobretudo os homens brancos numa visão de diferença social com preconceito não apenas de raça, mas também de gênero. Abs. Liseane"


Resposta - É inegável a contribuição dos diversos grupos de imigrantes para o processo civilizatório brasileiro. Japoneses, italianos, alemães, poloneses e tantos outros enriquecem a cultura brasileira nos mais diversos campos. O que colocamos em questão foi o abandono total da população negra a partir e antes da Abolição da Escravatura. Marginal dos marginais na pátria que ajudou a construir, o negro brasileiro continua restrito a senzala do nosso apartheid social, no qual poucos conseguem escapar e assim mesmo em maior número em segmentos restritos (mundo artístico e esportivo, principalmente). Os negros alforriados a que você se refere são parte da própria estrutura econômica e social que gerou a figura do capataz, do capitão do mato, do dedo duro, do alcaguete, entre outros tipos, que não retratam o quadro geral de exclusão. A presença do negro no Brasil atual, ainda é a da reserva de cota consentida para amenizar o racismo existente. Essa é uma questão que deve ser discutida em profundidade. O "embraquecimento" da sociedade brasileira, durante muitos anos e governos constou como política de Estado, no qual o fluxo de imigrantes fez parte dessa estratégia — sem que eles tenham qualquer tipo de responsabilidade ou culpa do processo desenvolvido —.
Nos dedos das nossas mãos - cinco dedos representam os 500 anos da História do Brasil. Cortemos, praticamente, três deles. Esse é o período de nosso longo período de escravidão, um dos mais longos entre os diversos países. Uma chaga que ainda não soubemos cicatrizar.
Como diz o samba enredo: "moço não esqueça que o negro também construiu a riqueza do nosso país". Ou no registro mais atual do século XXI, na voz rascante de Elza Soares: "o negro é a carne mais barata do mercado".

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