Vagas pode reduzir número de menores em abrigos
A causa da infância e da juventude obteve mais uma conquista na sexta-feira, dia 6. Foram abertas cerca de 300 vagas no Programa Família Acolhedora, com o objetivo de ampliar o número de famílias dispostas a receber em suas casas crianças e adolescentes em situação de risco ou abandono. A iniciativa beneficia diretamente o trabalho das quatro Varas da Infância, da Juventude e do Idoso da Capital, nas quais juízes poderão destinar um maior número de menores para ambientes familiares em vez de encaminhá-los a um abrigo.
O programa, desenvolvido há mais de 15 anos pela Prefeitura do Rio de Janeiro, já beneficiou 3 mil acolhidos. Atualmente, existem 300 acolhidos no programa. A campanha foi relançada nesta sexta no Museu Histórico Nacional (MHN), no Centro da cidade, onde o vice-prefeito e secretário municipal de Desenvolvimento Social, Adilson Pires, assinou uma resolução que reajusta os valores pagos às famílias para auxiliar na criação dos acolhidos. A partir de agora, famílias que acolherem menores de qualquer idade vão receber uma ajuda de custo de R$ 688. Nos casos de crianças e jovens com necessidades especiais, o valor aumenta para R$ 1.000. Antes, os valores eram definidos de acordo com a faixa etária. Ainda segundo a Prefeitura, o valor do orçamento do programa vai depender da quantidade de famílias inscritas e para isso não há limite.
Os magistrados que atuam na área da infância e da juventude comemoraram a novidade. O juiz Sergio Luiz Ribeiro de Souza, titular da 4ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, disse que a família acolhedora pode prestar um cuidado mais individualizado a quem precisa de amor e afeto. “É uma demanda já antiga por um número maior de vagas. Trata-se de um acolhimento que tem condições de dar atendimento mais individualizado. Ele é preferencial em relação ao acolhimento institucional, que é menos pessoal no trato com a criança. Num abrigo você tem 20 crianças e adolescentes e numa família você cuida de um ou dois. O olhar é muito mais detalhista”, ressalta o magistrado.
Já o titular da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, juiz Pedro Henrique Alves, destacou que o aumento de vagas no programa vai possibilitar a redução de crianças e adolescentes em abrigos. “É um marco para o município do Rio. O programa, como modalidade de acolhimento, é o que se aproxima mais de uma família, é o que dá o sentimento de acolhimento real, de ser cuidado e de receber amor. Isso vai fazer com que a gente diminua o número de crianças e adolescentes em abrigos, vamos sempre dar preferência à família acolhedora”, enfatiza.
A expectativa é que até o fim de dezembro sejam criadas mais 250 vagas. Com isso, os juízes da infância terão cerca de três anos para “respirarem aliviados”, sabendo que os menores em situação de vulnerabilidade que chegam até as varas terão destino garantido e de qualidade. “Não há afeto nos abrigos porque instituições não amam. Quem ama são pessoas. Queremos que até o fim do ano olímpico nenhuma criança esteja em abrigo ou cumprindo medida socioeducativa. Precisamos libertar as nossas crianças para fazer história”, disse o desembargador Siro Darlan.
O vice-prefeito e secretário municipal de Desenvolvimento Social, Adilson Pires, anunciou que a Prefeitura vai fazer uma campanha para sensibilizar mais famílias a se inscreverem no programa. “Por melhor que seja o abrigo oferecido pela Prefeitura não é uma família. Tenho certeza que o valor pago às famílias acolhedoras é o que menos influencia na decisão delas. São pessoas que tem um nível alto de amor ao próximo e generosidade. Se gasta menos quando a gente transfere o recurso para a família acolhedora do que com os abrigos. Nosso desafio agora é sensibilizar outras famílias através do depoimento de pessoas que já passaram e passam por essa experiência. Vamos fazer uma campanha ampla para consegui captar mais famílias”, destacou.
A acolhida e a acolhedora: amor incondicional
A mãe biológica de Thayná Costa Nazareth, atualmente com 20 anos, perdeu a guarda da menina após ficar doente e não poder mais cuidar dela. Dos 7 aos 10 anos, Thayná ficou sob os cuidados de uma família acolhedora, mas não se adaptou. Depois, fez uma segunda tentativa em uma nova família, onde permanece até hoje. “Foi muito bom para o meu desenvolvimento pessoal e formação de caráter porque eu me sinto melhor com a minha família acolhedora do que com a de sangue. Fui sendo ensinada e acompanhada a todo momento para ter uma história diferente da família biológica e hoje eu sou muito feliz. Eu só saio de lá quando casar”, brinca a jovem.
Foi dessa forma que a risonha Thayná ganhou uma segunda mãe: Benedita de Souza Machado. A dona de casa já havia criado os dois filhos e, por gostar de conviver com crianças, queria adotar mais uma, mas foi apresentada ao Programa Família Acolhedora por uma assistente social e mudou de ideia. “Assim que eu recebi a primeira criança para cuidar começou a surgir algo diferente dentro de mim porque eu não sabia que eu tinha um amor oculto. Antes eu me preocupava muito com meus problemas e com o que estava ao meu redor. Quando ela chegou e começamos a dar amor eu vi que eu era uma pessoa muito egoísta. Quando eu comecei a pensar neles curei minha alma. O importante é a gente amar incondicionalmente”, diz Benedita, emocionada.
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