Mauricio Figueiredo
Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera
segunda-feira, 7 de abril de 2014
100 anos do furacão Carlos Lacerda
Carlos Frederico Werneck de Lacerda -
político e jornalista brasileiro
(30 de abril de 1914-21 de maio de 1977)
Carlos Lacerda está no panteon dos grandes políticos do Brasil moderno, com seu nome associado à direita, por ser um dos principais quadros da antiga União Democrática Nacional (UDN) e articulador civil, como governador da Guanabara, ao lado de Ademar de Barros, de São Paulo e Magalhães Pinto, de Minas Gerais, do golpe militar de 31 de março-1º de abril que derrubou o governo João Goulart. Jornalista contudente, orador brilhante e grande polemista foi o principal opositor de Getúlio Vargas, sendo responsabilizado pela crise que levou ao suicídio do ex-ditador a partir da crise instaurada com o Atentado da Rua Tonelero, na qual foi assassinado o Major da Aeronáutica Rubens Vaz e Lacerda apareceu com o pé engessado, alegando que também fora atingido.
Começou na esquerda, quando jovem, fazendo parte dos quadros do Partido Comunista, e terminou na direita, como muitos, aliando-se a chamada ala tradicionalista do catolicismo brasileiro. Mas, ideologias à parte, era um brilhante político de grande inteligência, raciocínio rápido e polemista.
Como primeiro governador da Guanabara, a partir do desmembramento do antigo Distrito Federal do restante do Estado do Rio, com a criação de Brasília, Lacerda com base eleitora fortíssima na zona sul da cidade priorizou aspectos de maior apelo da chamada classe média carioca. Criou o Parque do Flamengo, abriu túneis em direção à Zona Sul, como o Rebouças; construiu diversos viadutos (raros no cenário da cidade); e acabou com uma extensa rede de bondes que cortava de norte a sul todo o Rio, sendo acusado de conluio com empresários de ônibus que tiveram esse meio de transporte, anteriormente secundário, alçado ao principal do sistema.
Lacerda promoveu através de seu secretário de Educação, Flexa Ribeiro, dono do Colégio Andrews, a expansão da rede escolar do Rio, antes restrita a um pequeno número de colégios, principalmente no segundo segmento do atual ensino fundamental (na ocasião chamado de ginasial). Foi criticado, no entanto, pela criação de muitas escolas sem a infraestrutura adequada.
Criou a Cedae e o atual sistema de abastecimento de água do Rio, o Guandu, uma obra de enorme envergadura. Fracassou na criação de uma rede de telefonia (Cetel), mas no aspecto urbano implantou as chamadas ruas e avenidas de mão única. Seu secretário de transporte Coronel Fontenelle foi rigoroso com o combate aos estacionamentos irregulares na cidade, ganhando fama com a adoção do sistema de guinchos e sobretudo da tática de esvaziamento sumário dos pneus de veículos estacionados em locais proibidos.
No aspecto político, Lacerda pagou o ônus pelo episódio de em seu governo ter sido descoberto que mendigos retirados da zona sul e Centro da cidade terem sido exterminados por afogamento no Rio da Guarda. O assunto foi muito explorado pelos opositores, mas sem nada se provar em relação ao governo e a secretaria dirigida pela professora Sandra Cavalcante.
A remoção de favelas, como a do Esqueleto, no entorno do Maracanã, dando surgimento à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (inicialmente como UEG por causa da Guanabara e atualmente UERJ) também foi implementado pelo governo Lacerda, aumentado a antipatia entre as classes populares, devido ao distanciamento do local de trabalhos. Foram criados bairros populares em locais mais distantes como a Vila Kennedy, em Bangu, e a Cidade de Deus.
Com o golpe que derrubou Goulart, Lacerda acreditava que os militares tinham aberto caminho para que fosse alçado a presidência da República. Tinha uma eleição marcada - constitucionalmente - para 1965. Só que Lacerda com toda sua argúcia acabou levando uma rasteira e os militares ficaram no poder por 20 anos.
Quando viu que os militares não largariam o osso, criou a Frente Ampla e tentou se aglutinar com JK e Jango pela volta do poder civil. Chegou a chamar o Castelo Branco de anjinho da Rua Conde Lajes (área de prostituição do Rio) em discurso exaltado. Desgostoso dos rumos do golpe, passou a se dedicar a sua editora de livros (a Nova Fronteira) e a criação de rosas. Morreu antes de ver o poder ser devolvido aos civis para a redemocratização do país. Dessa vez, não levou um tiro no pé, mas no fundo da própria alma.
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