Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

LUZ, CÂMERA, AÇÃO! - * Carlos Ney


Tia Zulmira (com a devida licença do Stanislaw Ponte Preta, que a consagrou em seus escritos) entrou em casa esbaforida. O que não era de todo raro, sendo ela tão intensa. A Dilma vai virar filme! A frase saiu meio que atravancada, num só fôlego, com a pressa de não virar notícia velha. Dilma, que Dilma? Perguntei, já que sou meio lento antes das sete horas, chovendo ou fazendo sol. A presidente que não é mais presidente, exclamou. Ah, a Dilma... Mas, sem querer deter a marcha acelerada, Tia Zulmira contou o resto da história. O partido, que os meios produzidos pelo empreiteiro mais corrupto (olha só a redundância), tornou-se governo, estaria produzindo um filme, estilo documentário, sobre o golpe. Dilma é claro, já que cada país tem a Angelina Jolie que merece, protagonizaria a película. Lula (o genérico de um Brad Pitt), que a esta altura dos acontecimentos já será tão ex quanto ela, deverá fazer o par romântico (como todo folhetim, deverá haver um Temer para compor o triângulo amoroso). Enquanto minha tia querida, indiferente ao meu alheamento, falava pelos cotovelos, eu interpretava o boato. Então, mesmo que contra nossa vontade, vivemos a realidade virtual de uma chanchada, onde os fatos serão tratados como detalhes, de modo a transformá-los, pela mágica do cinema, na história que os atores/autores querem contar. Não serão mostradas as mentiras que, pelas hábeis mãos do marqueteiro milionário (hoje, prisioneiro), João Santana, tornaram verdades eleitoreiras. Não se falarão nos membros da cúpula partidária que hoje residem nas penitenciárias. Não será citada a Refinaria de Pasadena, nem registrado o momento em que, com a assinatura de Dilma, concluiu-se um dos maiores escândalos financeiros da República. A implosão da maior empresa estatal brasileira, uma das dez maiores do mundo, ranqueada na Forbes, transformada na mais endividada da mundo, sequer será mencionada. Para quê? Tudo o que se vê agora, relacionado ao processo de impeachment, é mero material cinematográfico. As Olimpíadas, com suas fantásticas abertura e encerramento, desfilarão como obra de Lula e Dilma. Não se falarão, é claro, nas crateras criadas na Saúde e Educação, com a evasão das verbas que lhes deveriam caber, por direito. O filme é deles e eles escolhem o roteiro. Dilma, acompanhada de Lula, irá ao Senado, nos próximos dias, pretextando defender-se. Puro cinema. Se ela voltar, algo tão improvável quanto o Donald Trump tornar-se monge budista, o apoio financeiro, travestido de patrocínio cultural, estará garantido. Afinal, na ótica desse governo que deixou de ser governo, que outra finalidade, senão esta, teriam as estatais? Tremendo estarão os cineastas americanos. Contrariando a lógica do mercado, o Oscar viria para o Brasil. Porque, sejamos francos, não existem gênios tão criativos a ponto de urdirem uma tragédia que, além de hilária, é baseada em fatos reais.

* Carlos Ney é jornalista e escritor

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