Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Neurônio espelho

Em véspera de feriado, trazemos para os leitores o artigo Educação e Família, da psicóloga Dora Lorch*, publicado no site da Comunicação Católica:


Muitas das grandes descobertas são feitas respondendo a perguntas aparentemente bobas. Por exemplo: por que gatos só têm gatinhos? A genética explica esta pergunta. Por que todas as frutas caem das árvores? Para esta questão, a lei da gravidade explica o fenômeno. Existem, porém, alguns comportamentos que parecem inexplicáveis. Por que bocejamos toda vez que vemos alguém bocejar? Para responder a questões como esta, descobriu-se há pouco tempo uma série de neurônios responsáveis por “copiar” alguns comportamentos. Eles são chamados de neurônios espelho.Você já percebeu que ao alimentar um bebê a pessoa parece estar comendo também? Abre a boca, mastiga e engole. Na verdade, são movimentos involuntários que servem para ensinar o bebê a comer, a mastigar e a engolir. Ele aprende copiando os movimentos que vê.Quando sorrimos, em troca recebemos sorrisos. Mas este gesto é um reflexo que fazemos, independentemente de gostarmos ou não da pessoa que nos sorri.

Sorrimos em resposta a uma atitude amigável. Faz parte do gênero humano. Os neurônios espelho têm uma função especial. Eles permitem que nós identifiquemos o sentimento de outras pessoas. São eles que nos fazem chorar em cenas tristes, ou sentir medo, quando assistimos a um filme de suspense. Eles funcionam como verdadeiros radares, facilitando a comunicação com o mundo ao nosso redor. Por causa deles, podemos nos colocar no lugar de outra pessoa, imaginar o que ela está sentindo e também aprender como devemos nos comportar em determinadas situações. Chamamos isso de empatia. Mas será que podemos desenvolver a empatia quando o mundo ao nosso redor não nos acolhe ou compreende?

Naiara é uma criança delicada, amorosa e tranquila. Aos dois anos de idade, ela e os irmãos foram retirados da casa dos pais e encaminhados para um abrigo. Os pais eram usuários de drogas e não tinham estrutura para cuidar das crianças. Por sorte, ela e o irmão gêmeo foram adotados por uma família. Mas meses depois foram devolvidos. O casal alegou que a menina apresentava comportamentos agressivos e pediram para ficar somente com o irmão. O juiz considerou que romper o vínculo entre os irmãos seria demais para ela e vetou o pedido.No abrigo, a coordenadora percebeu que Naiara tinha comportamentos compulsivos[1], especialmente na hora de dormir, e pediu uma avaliação psicológica. A menina mostrou-se tranquila, companheira e afetiva. Sua delicadeza comoveu a psicóloga: “você sabe o meu segredo?”. Um pouco depois repetiu: “você sabe o meu segredo? Eu não tenho família”. Depois disso, perguntou algumas vezes quando sua mãe iria buscá-la. É possível que o acolhimento recebido neste novo lar tenha ensinado a ela a noção de família. Pessoas reunidas em uma casa, com vínculos de amor, amizade e cooperação. Como a adoção não deu certo, ela foi devolvida. Com tanta dor, não é de se estranhar que ela busque alguma coisa que lhe traga prazer e a sensação de que está protegida. Como é que alguém pode devolver uma criança como se fosse um objeto sem sentimentos? Onde está a solidariedade que nos tornou a espécie dominante? Mas não se devolve somente os filhos adotivos. Quando expulsamos nossos adolescentes de casa, ou quando banimos um aluno da escola - especialmente se a escola é pública -, simbolicamente, estamos fazendo a mesma coisa. Acredita-se que o neurônio espelho seja responsável por compreender o que está nas entrelinhas da comunicação. Nestes casos, estamos dizendo que eles não merecem nossa consideração, nem que lutemos por eles, ou mesmo uma nova chance. E, provavelmente, eles responderão às vezes se submetendo, outras vezes agredindo a quem não os acolhe. Por enquanto, Naiara espera todos os dias a hora em que uma mãe irá buscá-la. Ela tem seis anos.

[1] Comportamentos compulsivos são comportamentos normalmente repetitivos, em geral servem para tentar controlar algum sentimento.

VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV

O que você achou do artigo? Dê sua opinião, envie dúvidas e sugestões para a psicóloga Dora Lorch! Para isto, basta enviar um e-mail para: doralorch@uol.com.br.

* Dora Lorch é psicóloga, mestre em psicologia e autora do livro “Como educar sem usar a violência” (Summus Editorial). Atua também como coordenadora do Projeto Florescer da Fábrica do Futuro, melhorando o relacionamento entre pais e filhos.Dora Lorch participará, entre os próximos dias 1 e 4 de julho, em São Paulo, do 12º EDUCAIDS, um encontro de educadores para a prevenção das DST / AIDS e das drogas. Inscrições podem ser feitas até o próximo dia 24 de junho pelo site www.apta.org.br ou pelos telefones (11) 3467-9386 e (11) 3467-9391.

Nenhum comentário:

Postar um comentário