Aprovação Automática para o jornalista Benito Alemparte, em precisa análise sobre a situação do Jornal dos Sports. Uma única ressalva - felizmente, a morte de jornais não ocorre devido a nós jornalistas. Muito pelo contrário. Quando o diálogo é interrompido pelos "donos", que, em uma atitude arrogante assumem os ares de que sabem tudo, transformando o Jornalismo em uma simples questão empresarial, achando que devem ser seguido à risca, o processo de queda se torna inevitável.
Construir uma equipe coesa é tarefa que demanda muito tempo. A destruição de uma equipe, no entanto, ocorre da noite para o dia. Em pouco tempo, muitos acabam se afastando e, infelizmente, os novatos que chegam não possuem a experiência necessária para fazer a máquina andar da maneira correta.
O Correio da Manhã é um caso à parte, pois foi destruído em uma época de autoritarismo. Já o velho JS - criação do imortal Mário Filho - foi vitimado por administrações que não tiveram o bom senso de ouvir os jornalistas experientes e consagrados que poderiam colocá-lo em sintonia com os novos tempos.
"Tudo que é sólido desmancha no ar", alertava o velho Marx. Antes dele, o Mestre dos Mestres alertava para a necessidade de se construir uma casa em bases sólidas.
E o Eclesiastes fazia menção a "vaidade", como em tudo, destruidora de muitas coisas.
Com a palavra o Benito Alemparte:
"Caro Maurício, se quiser pode usar no blog. Abraços
Fiquei sabendo hoje, pelo site do nosso sindicato, que a marca 'Jornal dos Sports' (o mais antigo diário de esportes do país) será leiloada no dia 14 de julho, por decisão da Justiça do Trabalho, para indenizar um ex-funcionário. Informa ainda o sindicato que o JS velho de guerra, hoje instalado próximo à Praça da Bandeira, tem o péssimo hábito de não indenizar demitidos e não depositar o FGTS. Mesmo quando firma acordos para pagamento parcelado, como fez com o Roberto Porto, não os cumpre, e fica por isso mesmo, demonstração inequívoca de que nossa Justiça, além de morosa, muitas vezes é ineficiente, diante das muitas artimanhas e firulas jurídicas. É aquela história que a nossa categoria conhece muito bem: a empresa vai mal, mas seus donos estão muito bem, obrigado.
Uma lástima, um triste fim. A situação é particularmente triste para os trabalhadores que estão com seus direitos ignorados e para pessoas como nós, Maurício, que iniciamos nossa trajetória profissional no Cor-de-Rosa, com muita honra. No meu caso, trabalhei lá por 21 anos consecutivos, passando pelas editorias de Educação e de Esportes. Fui demitido em 1997, sem saber o motivo, e felizmente recebi quase tudo a que tinha direito. O mesmo não ocorreu com quem foi desligado depois. Temos um colega que até foi readmitido, sem saber, e por isso até hoje não conseguiu receber o FGTS.
Nesse período, embora à distância, acompanhamos com pesar a crise do JS, que o levou à UTI em que se encontra, ferido de morte. Sofremos mais um pouco quando soubemos que a antiga sede do jornal, na Tenente Possolo, fora demolida sem pompa nem circunstância. Você deve lembrar, Maurício, que o prédio e aquela rua têm história. Por ali passaram grandes jornalistas e muitas autoridades. Na Tenente Possolo houve, por exemplo, desfiles relativos aos Jogos da Primavera e aos aniversários do jornal, assim como grandes filas e multidões por ocasião dos vestibulares. Alegria e tristeza tinham endereço certo: Tenente Possolo, 15/25 e imediações. Houve até uma vitória do JS sobre O Globo, quando da divulgação do listão de aprovados no vestibular, quando o JS adotou uma tática inovadora, lembra?
Muito mais haveria a lembrar, como os Jogos Infantis, o Torneio de Pelada do Aterro, Mário Filho, a quem devemos o Maracanã, motivo de orgulho dos cariocas e provável local da abertura ou encerramento da Copa de 2014, mas fiquemos por aqui. Lembremos a mais, apenas, que a agonia do JS não é de hoje. Ela começou ainda na sede anterior, há muitos anos, sob o alto patrocínio de dirigentes considerados gênios, que meteram os pés pelas mãos, deixando escapar a galinha dos ovos de ouro,
A possibilidade de morrer mais um jornal sem que os leitores sintam falta assusta (ou deveria assustar) os profissionais do ramo. Sabemos que a culpa não é nossa, mas, no fundo, nos sentimos cúmplices desse 'fracasso'.
O lance mínimo do leilão é de R$ 1,1 milhão. Temos dúvida se alguém estará disposto a dar tanto dinheiro por um título tão desgastado, ainda mais com o Lance! consolidado e com a concorrência cada vez maior do rádio, da TV e da internet. Creio que sairia mais barato, e seria mais eficiente, lançar um jornal com outro nome qualquer, pois o que vende não é o logotipo, mas o conteúdo, ainda mais se vier acompanhado de propaganda maciça. É por isso que ninguém se atreveu a ressuscitar títulos outrora fortíssimos, como 'Correio da Manhã', 'Última Hora' e 'Diário de Notícias'.
Tomara, Maurício, que a gente não seja obrigado a enterrar mais um jornal, pois a cada um desses enterros, não somos só nós que ficamos mais pobres, mas toda a sociedade."
Mauricio Figueiredo
Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Belíssimo e contundente texto do Benito! Abraços Maurício! ASS. Paulo Chico
ResponderExcluir