Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

DE MALAS PRONTAS - * Carlos Ney

Uma viagem encerra ganhos e perdas. Levamos conosco algumas esperanças, mas deixamos para trás diversas saudades. Uma certeza, contudo, sobre a inflexibilidade do tempo: não seremos, amanhã, o mesmo que fomos ontem. Simbolicamente, despeço-me aqui dos amigos. Pelas artes e manhas da escrita, cheguei a lugares impensáveis e falei a amigos improváveis. Concordantes ou discordantes, eventuais ou eternos, peço que relevem, uns e outros, aquilo que de mais áspero formulei. Eram somente ideias expostas. Convicções momentâneas, importando pouco o tempo que durem. Fico feliz, contudo, imaginando que, num dos meus bons momentos, pude trazer um sorriso radiante ou a lágrima emocionada (a medalha de ouro para qualquer escritor). Apesar de ainda me comunicar através de outros veículos, gosto da quase-solidão do Face. Danço, por aqui, com aquela dama (sim, confesso, escrevo para mulheres, embora converse com homens) que aceitar o convite. Por vezes, provocado pela inteligência alheia, invado espaços (logo eu que prezo enormemente a individualidade) e me torno parte da multidão. Sendo a palavra apenas prata, ela interfere com a imensa sabedoria do silêncio. Talvez, chegando mais próximo do século vivido, eu me cale. Hoje, ainda, transgrido através do verbo.Justifico-me perante eu mesmo, com a certeza de que, se a verdade agride, o silêncio de não dizê-la acumplicia. Que este país governado por um presidente que é prótese, depois que foi amputada a parte politicamente necrosada do organismo, encontre um futuro que é seu. Que nossas cidades, atreladas aos pés criminosos de prefeitos incapazes de olhar o próximo como a si mesmos, libertem-se. Porque o tempo é inflexível. O presente está escorrendo por entre nossos dedos. O futuro, mesmo a Deus pertencente, pode e deve merecer nossa pequena ajuda. Até a volta.

* Carlos Ney é jornalista e escritor

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