Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Folha Dirigida: a força de uma ideia


A generosidade do Adolfo Martins e Arnaldo Martins propuseram-me a oportunidade de formar o trio de fundadores da Folha Dirigida, em 1985. Os dois amigos jornalistas já possuíam experiência administrativa e por isso, coube-me a missão de ser o primeiro editor da publicação, discutindo, principalmente, com o Adolfo a linha editorial a ser seguida. Na ocasião, os chamados jornais alternativos utilizavam o formato tablóide. Em nossas reuniões defendi que o jornal surgisse no formato standard (o tamanho grande adotado pelos grandes jornais – Globo, Folha de São Paulo, Estado, etc). Apenas o Zero Hora do Rio Grande do Sul fugia a essa tradição. Minha posição foi acatada, naquelas primeiras épocas de implantação da publicação. Começamos também com a cor vermelha, com suas variantes, devido à necessidade de maior impacto nas bancas. A ideia dos manchetões – marca registrada da Folha até hoje – partiu do Adolfo. Contribui com a insistência para que o jornal abrisse uma brecha para a Educação, não se restringindo a área do mercado de trabalho. O Arnaldo foi decisivo para fazer o projeto andar, negociando preços, tiragem e distribuição. Começamos na antiga Última Hora e enfrentávamos a fila de “jornalecos” que rodavam no jornal, próximo à Rodoviária Novo Rio. Depois de alguns números fomos orientados por um funcionário da impressão a mudar a cor para azul, pois passaríamos a rodar mais cedo. O argumento era de que a Última Hora era em azul e todos os jornais que seguiam aquele padrão eram beneficiados, pois os demais deviam aguardar “a lavagem do tinteiro”.

Foram muitas as histórias da Folha em seus 25 anos. O mérito do jornal foi o de ter defendido a bandeira do concurso público, em uma época na qual, muito mais que hoje, e, sobretudo, com o beneplácito de um regime ditatorial, as vagas na administração pública direta e indireta serem ocupadas por meio de apadrinhamento, com honrosas exceções, entre as quais a do Banco do Brasil e a Petrobras (de maneira parcial). Serviço público era sinal de cabide de emprego e do famoso QI (Quem indicou). Isso explica, em muito, os efeitos danosos do mau funcionamento da máquina pública até os dias atuais.

Os primeiros repórteres da Folha encontravam enorme dificuldade em suas entrevistas ou mesmo participando de coletivas. Perguntar sobre concurso público e cobrar transparência no preenchimento de vagas representava quase que um assunto proibido. Mas, o jornal persistiu em sua linha e teve um papel de grande importância para que a partir da Constituição de 1988, a obrigatoriedade do concurso público fosse melhor explicitada. Ainda, hoje, há muito a ser feito, principalmente, a regulamentação dos concursos, com medidas como a garantia da ocupação das vagas pelos concursados; maior rigor e punições em relação às fraudes; maior transparência na divulgação dos resultados, gabaritos e elaborações das questões; entre outros pontos.

Estive ausente da Folha em um período no qual assumi a Editoria de Educação do Jornal dos Sports, onde iniciamos os primeiros passos sob o comando do Adolfo, oriundo do antigo Diário de Notícias. Lá se formou uma grande geração de pessoal especializado na área educacional, dentro de uma perspectiva da educação que acontece em sala de aula e não apenas por meio de uma visão academicista muitas vezes fora da realidade. Quando retornei à Folha, passei a editar a Folha do Esporte, um projeto da empresa nesta área. Em pouco tempo, no entanto, voltei a origem da Educação, passando a fazer parceria com o saudoso Manoel Cordeiro, na elaboração de muitos projetos, entre os quais o do conceituado e ponto de referência que é o Suplemento do Dia do Professor. Com a perda precoce do Manoel, em um rearranjo redacional, minha última fase na empresa foi de maior atuação na área de recursos humanos (concursos), especialmente, com a atribuição da formação dos novos quadros de repórteres e estagiários, dividindo a tarefa com o amigo Benito Alemparte. Deixei à Folha em abril do ano passado, em busca de novos caminhos, mas certo de ter lá grandes amigos.

Quando o jornal comemora os seus 25 anos, orgulho-me da minha modéstia contribuição, certo de que a força das ideias continua sendo o caminho a ser trilhado nessa difícil e fundamental área da comunicação. Diante do fenômeno da internet e de outros instrumentos eletrônicos que surgem, mais do que nunca é preciso ideias e coragem para colocá-las em prática. Nesse aspecto, a Folha Dirigida é um belo exemplo.

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