Povo marcado, povo feliz!

Uma das letras mais fortes da música popular brasileira atual é a do paraibano Zé Ramalho, quando em seu Admirável Gado Novo assinala de maneira áspera: "vida de gado. Povo marcado. Povo feliz". Ela pode ser vista como um contraponto com os versos antigos de Geraldo Vandré, em sua Disparada, na qual frisava que "gado a gente tange ferra e mata, mas com gente é diferente". A marcha da sociedade, no entanto, nos conduziu para caminhos diferentes. Verifica-se que tanto como ocorre com o gado, as pessoas também são tangidas, ferradas e mortas. A própria morte passou a ser uma coisa banalizada. A morte de qualquer ser humano pode ser alvo de piadas ou comentários sarcásticos na internet. O povo marcado e feliz detectado por Zé Ramalho transforma a vida em uma espécie de brincadeira constante, no qual qualquer tipo de seriedade é colocada de lado. O clown - o palhaço - está sempre à disposição, seja na escola, na mídia, na empresa, na igreja ou qualquer outro ambiente social. O importante é levar as coisas na flauta, em um mundo marcado pelo cinismo a começar pela classe dirigente.E essa vida de gado é marcada pelo conformismo. Pelo pensamento uniforme no qual discursos são repetidos de forma padronizada, sem que o indivíduo exerça verdadeiramente uma análise crítica em relação ao que ocorre ao seu redor. A verdadeira transformação só é possível, quando a pessoa está disposta e tem a coragem de romper com os grilhões que confortavelmente a mantém na imobilidade. Chutar o pau da barraca (de maneira consequente), procurando novos caminhos, novas ideias, novos horizontes, novas formas de pensar é o que permitirá que cada um se afaste da "vida de gado" e comece realmente a ser gente. Gente como no dizer de Maiakovski, "feita para brilhar e não para morrer de fome."