Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

domingo, 22 de março de 2009

Cultura para um novo mundo

Luiz Gonzaga Bertelli*

Em 2008, o Teatro do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), numa iniciativa inédita na casa, abriu espaço à dramaturgia. Embora já tivesse tradição na área musical, com a realização de shows e concertos, ainda não cedera os palcos à encenação de peças. Na estréia, o ganhador do Prêmio Shell de Melhor Ator, Julio Adrião, brilhou no monólogo “A Descoberta das Américas”, inspirado em improviso do italiano Dario Fó. Na sequência, realizou-se mais um espetáculo de ator único, “A Voz do Provocador”, dirigido e interpretado pelo polêmico Antonio Abujamra, rebelde septuagenário ao qual não falta fôlego para agradar todas as faixas etárias e lotar a platéia.
Tanto as duas peças quanto os espetáculos previstos para 2009 – dentre eles, “A Mulher que Escreveu a Bíblia”, de Moacyr Scliar, com apresentação marcada para 10 de março – fazem parte do projeto Teatro nas Universidades, concebido pelo ator Paulo Goulart. Seu objetivo é aproximar os jovens da produção teatral, algo extremamente necessário em um País onde mais de 60% dos alunos matriculados em algum curso superior nunca assistiram a uma peça.
Porém, se a missão do CIEE consiste em promover a inserção dos estudantes no mercado de trabalho, por que investir na produção de eventos culturais? Não seria mais proveitoso concentrar esforços na realização de treinamentos e programas de estágio? Para responder a essas perguntas, é necessário refletir sobre o que é a inserção no mercado de trabalho. Decerto não se trata de fornecer às empresas um exército de jovens autômatos, habilitados ao exercício de uma função específica; é o exato oposto disso, pois, cada vez mais, vemos os especialistas em recursos humanos valorizarem os profissionais criativos, com habilidade em conviver em equipe, que possuam formação multidisciplinar, sejam dotados de raciocínio rápido e tenham boa cultura humanista.
Desse modo, a preparação para o mercado de trabalho passa a exigir também o ganho de experiências diversificadas, imprescindíveis para que o jovem aprenda a analisar os fatos e as perspectivas sob ângulos diversos. É com esse conceito inerente à formação plena, que ambiciona transformar o estudante de hoje no profissional capacitado e no cidadão consciente de amanhã, que nascem as iniciativas culturais do CIEE. Acreditamos ser o acesso ao conhecimento, à cultura e às diversas manifestações artísticas fundamental para aprimorar os talentos natos e lapidar o modo como o jovem relaciona-se com as pessoas e o mundo exterior.
Ultrapassando as fronteiras do pragmatismo e avançando pela seara da filosofia e da melhor literatura, é importante entender a função da arte, neste efervescente cenário do Século XXI, como a classificou, em 1896, o novelista, pacifista e pensador russo Leon Tolstoi. Para a definir corretamente, ponderava ele, é necessário deixar de considerá-la um simples entretenimento; é crucial passar a entendê-la como uma das condições da vida humana. Vista deste modo, é impossível deixar de reparar que é um dos meios de as pessoas se relacionarem, um fator de união, ligando-as nos mesmos sentimentos. “A arte é indispensável à vida e ao progresso em direção ao bem-estar dos indivíduos e da humanidade”.
Assim, ousamos dizer que, quando o Teatro do CIEE cede seu palco a um clássico de Shakespeare ou a uma peça de vanguarda, a um concerto erudito ou ao show de uma banda de rock, está transcendendo ao ato de ofertar entretenimento gratuito ao público universitário. Trata-se de algo muito maior. É uma contribuição infinitamente mais ambiciosa, relacionada à construção de um novo homem e de uma nova mulher, detentores de visão de mundo mais ética e menos preconceituosa, dotados de mentalidade moderna, arrojada, cosmopolita – exatamente como o Brasil e o mundo necessitam, para que este século seja marcado pela superação das limitações e a consolidação de novos e melhores paradigmas.

*Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

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