João Saldanha |
Este 3 de julho é marcado pelo centenário de nascimento do jornalista, escritor e técnico de futebol João Saldanha. O "João sem medo" como técnico com passagem brilhante pelo seu Botafogo, também foi quem classificou o Brasil nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970, no México, sendo substituído no comando por Zagallo.
Cronista esportivo consagrado, Saldanha até hoje é tido como referência ao aliar a precisão de suas análises que atraiam tanto o torcedor mais sofisticado até o mais humilde, fazendo jus a vinheta criada por Valdir Amaral: "João Saldanha, o realmente técnico".
Tive contato pessoal com Saldanha, já quando estava muito adoentado. Mesmo assim compareceu a uma assembleia de jornalistas na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em um momento conturbado do cenário nacional, no qual se discutia a possibilidade da classe deflagrar uma greve geral abrangendo jornais, rádio e televisão.
Foi-me apresentado pela colega jornalista Eleonora Monteiro, esposa do Marcelinho, Marcelo Monteiro, ilustrador histórico das crônicas de Nelson Rodrigues, entre outros. Na ocasião, enquanto a assembleia não começava, Saldanha pôde tecer alguns comentários sobre a sua visão do futebol. Disse-me que como técnico sempre teve preocupação com a coloração de suas equipes, inclusive da seleção brasileira.
A tese de Saldanha era a de que os craques deveriam ser escalados sempre em primeiro lugar, mas quanto as posições em que os atletas brancos e negros se equivaliam, a preferência deveria ser dada na escalação ou convocação para o negro.
Explicava Saldanha que o futebol, como na análise de Mário Filho, em seu "O Negro e o futebol", servia como importante instrumento de ascensão do negro na sociedade brasileira, altamente discriminatória e racista. Via o consagrado jornalista o futebol como veículo de crescimento econômico de muitos negros e consequentemente de seus familiares e amigos.
Nascido em 3 de julho de 1917 (ano da Revolução Russa), em Alegrete, Rio Grande do Sul, Saldanha foi quadro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), sendo formado em Direito pela atual UFRJ. Ele morreu em 12 de julho de 1990, em Roma, em plena disputa da Copa do Mundo na Itália.
Mais do que um jornalista, um personagem polêmico mas com grande contribuição para o crescimento brasileiro, além do futebol. (Mauricio Figueiredo)
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