Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

domingo, 15 de junho de 2014

UniRio 35 anos, entre avanços e desafios

A UNIRIO completou dia 5 de junho, 35 anos desde sua criação, por meio da Lei nº 6.655, que transformou a Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado do Rio de Janeiro (Fefierj) na então Universidade do Rio de Janeiro. Na época, a instituição contava apenas com oito cursos de graduação; hoje, são mais de 40, incluindo na modalidade a distância, e mais de 30 cursos de mestrado, doutorado e especialização.
Considerada ainda como uma Universidade jovem, em comparação a outras do Brasil e, principalmente, da Europa, a UNIRIO celebra seu aniversário no ano em que assinou um acordo de cooperação com a instituição de ensino superior considerada a mais antiga do mundo, a Universidade de Bolonha (Itália). A parceria com instituições estrangeiras é apenas um aspecto do fortalecimento da UNIRIO ao longo de sua história.
Mais recentemente, com o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), instituído em 2007, a Universidade passou por uma expansão da infraestrutura física e do quadro de docentes e técnicos-administrativos, e ampliou o acesso de estudantes ao ensino superior, com a criação de cursos e de novos turnos para as aulas.
“Com o Programa, pudemos criar cursos que ampliaram a visibilidade de nossa instituição. Passamos a ter nosso primeiro curso na área de Engenharia [Engenharia de Produção], criamos o curso de Letras para completar o atual Centro de Letras e Artes. Tudo isso, fruto de uma política voltada para a ampliação do ensino público de qualidade. A Universidade vem crescendo, no quantitativo de estudantes, no seu corpo docente e de técnicos-administrativos. Essa perspectiva fortalece nosso trabalho à frente da Reitoria, em que buscamos ultrapassar os possíveis percalços”, avalia o reitor Luiz Pedro San Gil Jutuca, que também em 2014 celebra 35 anos dedicados à UNIRIO.
Avanços
O crescimento e o desenvolvimento da Universidade, com manutenção da qualidade, são evidenciados pela decana do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), Ana Maria Mendes Monteiro Wandelli. “No cenário do Rio de Janeiro, podemos dizer, o desafio da UNIRIO é eterno, por termos um caminho curto em comparação a outras instituições federais. Mas o que vemos é que a Universidade conseguiu um progresso ao longo dos anos, por ter crescido sem deixar cair a qualidade.”
Wandelli, que também é professora e pesquisadora da Escola de Nutrição, destaca como principais avanços ao longo dos anos a internacionalização da UNIRIO e o fortalecimento do ensino a distância e da pós-graduação.
“No campo da Saúde, onde atuo, temos uma pós-graduação bastante consolidada e interdisciplinarizada. Esse aspecto, juntamente com o crescimento da graduação, é um diferencial competitivo de nossa instituição”, avalia.
Professora do Instituto Villa-Lobos (IVL) desde 1985, a decana do Centro de Letras e Artes (CLA), Carole Gubernikoff, ressalta que, com as verbas do Reuni, foi possível não só abrir os cursos de Letras e expandir os de Música, mas também melhorar as condições de laboratórios e salas de aula.
“O CLA é um centro de excelência na Universidade”, sentencia Carole. “Nas áreas contempladas, estamos, sem dúvida, entre as escolas mais importantes do país, tanto na graduação quanto na pós”. A professora lembra que na última avaliação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), realizada em 2014, os cursos de licenciatura em Música e em Teatro obtiveram conceito máximo.
Para a decana, embora o IVL, fundado pelo próprio Villa-Lobos, e a Escola de Teatro da UNIRIO, originada do antigo Serviço Nacional de Teatro, estejam entre as instituições de ensino de artes mais antigas e tradicionais do país, ambos se destacam por explorar as possibilidades do mundo contemporâneo. “Nunca fomos muito conservadores”, revela. “Desde a década de 70, o IVL já contava com um laboratório de música eletroacústica onde se trabalhava com composições e vanguardas, utilizando ruídos, sons e meios.”
Ex-aluno de Museologia da UNIRIO, na década de 80, o atual decano do Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCH), Ivan Coelho de Sá, também testemunhou os avanços na instituição nas últimas décadas. Para ele, a criação de normatizações internas, a ampliação da oferta de bolsas para os estudantes e o fortalecimento da pesquisa são conquistas importantes da Universidade.
“Tenho uma visão otimista. Já melhoramos muito, em relação ao passado, e estou certo de que vamos melhorar ainda mais”, afirma o decano.
Desafios
Apesar dos avanços, ainda há desafios a serem superados. Atualmente, a UNIRIO, assim como a maioria das instituições federais de ensino superior, enfrenta uma greve de servidores técnico-administrativos. Entre as reivindicações apresentadas à Reitoria, estão a criação de creche para os funcionários, melhorias na acessibilidade dos campi e adequada transparência nas questões relacionadas ao Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), que sofre com a insuficiência de recursos humanos e financeiros. Por determinação do reitor, as demandas deverão ser analisadas por comissões compostas para este fim.
No que se refere à infraestrutura física, uma das principais reivindicações da comunidade acadêmica é pelo início das atividades do Restaurante-Escola. Com o término parcial das obras, no fim de 2013, a Coordenação de Engenharia da UNIRIO verificou a necessidade de ajustes em itens como acabamento, esquadrias, instalações elétricas e exaustão, que estão sendo providenciados. A Direção de Assuntos Comunitários e Estudantis (Dace), responsável pela aquisição dos equipamentos, já aprovou 69% do que foi adquirido – o restante está em análise, aguarda entrega ou substituição por não cumprir as especificações exigidas.
A ampliação do espaço físico para atender às necessidades dos cursos é também uma demanda apontada como urgente pelo decano do CCH, Ivan Coelho de Sá. “Tivemos um grande crescimento no número de cursos e de alunos, no mesmo espaço. Já ocupamos salas que eram apenas gabinetes ou laboratórios, mas hoje somos obrigados a recorrer a salas de outros Centros”, explica.
Da mesma forma, a manutenção e a ampliação da estrutura física figuram entre os principais desafios do CLA. “Por muito tempo, os prédios ficaram sem manutenção”, relembra a decana Carole. Segundo ela, a situação começou a mudar há pouco mais de 10 anos, quando professores do Centro iniciaram o esforço coletivo de angariar verbas para melhorias, por meio de projetos de pesquisa. “Criou-se uma mudança de mentalidade, que perdura até hoje.”
A expansão física é uma preocupação recorrente do reitor Luiz Pedro San Gil Jutuca: “A Urca [onde se localizam três dos seis campi da UNIRIO] é um bairro excelente, muito bonito, mas complicado para a Universidade, porque ficamos sem a possibilidade de crescimento. Precisamos recorrer a outros espaços na cidade”.
Nesse sentido, duas recentes aquisições merecem destaque: três andares em prédio no centro da cidade, e uma área de 5.300m2 no Engenho de Dentro, zona norte do Rio. “Isso fará com que a Universidade possa ampliar suas ações, facilitando o acesso de estudantes de outras regiões da cidade”, observa Jutuca.
Além da Urca e dos novos espaços no Centro e no Engenho de Dentro, a UNIRIO conta com campi em Botafogo, no Centro e na Tijuca. A multiplicidade geográfica aponta para outra questão importante: a relação com a sociedade. Para a decana do CCBS, é necessário ampliar esse contato. “Precisamos solidificar a prestação de serviços à sociedade, em especial no campo da Saúde”, diz Ana Maria Wandelli.
Potencial
Tanto os avanços quanto os desafios observados ao longo dos anos podem ser considerados como oportunidades para o desenvolvimento da UNIRIO. Na visão da decana do Centro de Ciências Jurídicas e Políticas (CCJP), Rosângela Maria de Azevedo Gomes, a Universidade tem um grande potencial a ser explorado, por abrigar cursos de excelência, mas que ainda podem crescer.
“Temos muitas possibilidades de projetos. Temos escolas que não existem em outras universidades públicas no Estado do RJ, temos escolas muito bem-avaliadas. Acho que o grande desafio da UNIRIO é encontrar sua identidade e, dentro de suas potencialidades, se tornar um grande centro de pesquisa”, reflete a decana.
Rosângela destaca que o fato de ser uma Universidade jovem, e de porte médio, possibilita maior integração e diálogo e facilita o acesso à Administração Central. A visão é compartilhada pelo decano do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET), Amâncio Machado de Souza Júnior.
“Quando recebemos um professor novo, faço questão de deixá-lo o mais à vontade possível, promovendo um passeio pelas dependências do prédio para mostrar como as coisas funcionam”, revela. Para Amâncio, por ser um Centro relativamente novo – o primeiro curso oferecido, Bacharelado em Sistemas de Informação, foi inaugurado há 15 anos –, o CCET tem estrutura flexível, livre dos vícios comuns em instituições mais antigas.
“Uma das vantagens é a facilidade de acesso às autoridades”, aponta. Além disso, ele ressalta que não há imposições rígidas em relação à exclusividade dos docentes sobre determinada disciplina. “Atuo no campo da Geometria e, quando a matéria se aproxima de minha área de estudos, os próprios alunos pedem que eu conclua uma disciplina que outro professor iniciou”, revela.
Coletividade
Para aqueles que pretendem ingressar na UNIRIO, seja como estudante ou como servidor, o reitor Luiz Pedro San Gil Jutuca destaca que a instituição é reconhecida nacional e internacionalmente, constituindo um excelente polo de ensino e de trabalho.
“Dentro de suas características, com muitos cursos voltados para a área de Humanas, mas também com força na área da Saúde, das Ciências Exatas e das Artes, a UNIRIO merece uma atenção especial dos candidatos”, reflete. Para técnicos e docentes, o reitor destaca a política de atenção ao servidor, que foi reforçada com a recente criação da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas.
Jutuca ressalta ainda a importância de toda a comunidade acadêmica, e também da comunidade externa, para a construção de uma Universidade ainda mais forte. “O atendimento das expectativas de nossa comunidade não está ao alcance de indivíduos isolados ou de um grupo dirigente. Somente juntos seremos capazes de realizar nossos sonhos e metas, com determinação, respeito ao outro e consciência social. A construção de uma Universidade é obra de toda a sociedade”, reflete.

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