Quando a arte faz justiça: TJRJ anuncia 'desenforcamento' de Tiradentes
A arte talvez não seja capaz de reescrever a história, mas pode revisitar olhares e propor reflexões através do espetáculo. E é o que pretende a Diretoria Geral de Comunicação e de Difusão de Conhecimento (DGCOM), do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), que anunciou o ‘desenforcamento’ de Tiradentes no dia do seu feriado nacional: 21 de abril, às 14h. A peça ‘O desenforcamento de Tiradentes: Justiça ainda que tardia’ vai realizar um júri popular, no qual Joaquim José da Silva Xavier será novamente réu. Mas seu destino, pelo menos no Salão do Tribunal do Júri do Antigo Palácio da Justiça, será diferente.
O evento tem a coordenação do diretor da DGCOM, Joel Rufino, que avalia o ‘desenforcamento’ como uma re-atualizção do que Tiradentes sofrera no fim do século XVIII. “Nós queremos propor uma reflexão sobre temas que eram discutidos na época e trazê-los para os dias atuais: liberdade, justiça, dominação estrangeira, abuso fiscal”, avalia Rufino, que acrescenta: a classe social ao qual Joaquim José da Silva Xavier pertencia – ele era uma espécie de sargento de polícia – pode ter contribuído para que sua sentença tivesse mais dura do que a dos demais inconfidentes. Eles foram condenados à morte, mas suas penas foram comutadas em chibatadas e degredos para a África.
O elenco será composto por pelo menos oito atores e nomes de peso do Direito nacional. O papel de juiz será interpretado pelo desembargador Claudio dell’Orto, que não esconde o entusiasmo em interpretar o personagem. “Refletir sobre a construção da Independência do Brasil é essencial na atualidade. O colonialismo, a corrupção, o patrimonialismo, os excessos tributários continuam na pauta brasileira. O Tiradentes simbólico continua vivo. Deve ser condenado ou absolvido? Martirizado ou esquecido? Esse o dilema que esse julgamento pretende resolver. É muito emocionante participar dessa iniciativa do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que, desse modo, reitera seu compromisso com a cidadania”.
A defesa do alferes ficará a cargo do criminalista Técio Lins e Silva. E o promotor será vivido por Jorge Vacit Filho. A peça também terá a participação especial das desembargadoras Cristina Gaulia e Ana Maria Oliveira.
A diretora da peça é de Silvia Monte, que também é responsável pelo Centro Cultural do Poder Judiciário (CCPJ-Rio). Entusiasmada, ela considera a iniciativa oportuna.
“A ideia é fantástica. Num momento em que estamos questionando tantas coisas, uma peça que revisita a história de Tiradentes pode ser um bom exemplo de reflexão”, avalia a diretora. Um dos motivos que provocou a condenação e o enforcamento de Tiradentes foi sua luta contra a Coroa Portuguesa que havia aumentado os tributos sobre a colônia.
Depois da peça, cortejo com samba e mais homenagens
A ideia da DGCOM não é apenas de que a Justiça seja feita no novo julgamento de Tiradentes. Feita a sentença, um cortejo irá deixar o Antigo Palácio da Justiça e vai se dirigir até a Praça Tiradentes. No trajeto, a bateria do bloco das Carmelitas promete empolgar com sambas que homenageiam o mineiro, como ‘Exaltação a Tiradentes’, de 1949, do Império Serrano. A coordenação do cortejo é de José Paulo.
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