Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

sábado, 29 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo


AJUDE A FAZER
DE 2013 UM ANO
MELHOR


Muitas coisas dependem dos governantes, da ação dos políticos,
dos partidos, instituições, igrejas, ongs e organismos nacionais
e internacionais. Mas, outras - e são muitas - dependem de nosso
comportamento e ação como cidadãos.

E vão de coisas simples
como as de não jogar papel na rua até outras um pouco mais
complexas, mas não impossíveis de serem feitas.

E muita coisa pode ser feita por nós, se deixarmos de lado a
nobre intenção de querer endireitar o mundo para começarmos
a consertar as coisas que nos são mais próximas.

E neste aspecto vale o sempre atual soneto
“A cada canto um grande conselheiro”, de Gregório de Matos:

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um freqüentado olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha
Para a levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos Mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Aos amigos leitores

Mensagem de Natal

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25 de dezembro

NASCEU O
MENINO JESUS

Que essa notícia mude a sua vida, fazendo
de você uma pessoa cada vez melhor e
importante para todos os que lhe são próximo.

E a boa nova é "amar ao próximo como a si mesmo".

Um feliz Natal e ótimo 2013

domingo, 16 de dezembro de 2012

AMACORD CABOCLO

Eu e o amigo Paulo Figueiredo recordando nosso encontro com Taiguara em um festival universitário... Um artista que merece uma revisão da obra e maior atenção do público jovem atual... Foi o mais censurado pela ditadura militar...
Paulinho lembrou lances importantes, como o fato de em plena abertura política ele ainda andar pela vida temeroso, achando-se perseguido. São coisas que regimes de exceção pode fazer em mentes sensíveis e talentosas como foi Taiguara, um poeta que cantava o amor mas com conteúdo altamente crítico...

AMACORD CABOCLO 2

 Gostaria de público de dizer que Paulo Fernando Figueiredo foi durante muito tempo companheiro, aliado em trabalho que realizamos diretamente no presídio Milton Dias Moreira, enfrentando todo tipo de barra para podermos ter contato com os presos... Foi em uma época barra pesada e na nossa indignação de jovens com o péssimo estado que os presidiários viviam - como ainda hoje - não deixamos de dar nossa modesta contribuição. Tem gente que olha de maneira depreciativa, quando digo que lá conhecemos o Prof. William que, na ocasião, só queria apoio para que muitos presos já com pena cumprida pudessem ganhar liberdade e também melhores condições (no que históricamente o advogado Sobral Pinto classificou de Direito de ser tratado como os animais - invocando o serviço de proteção aos animais). Fomos postos para correr do presídio e tempos depois William foi um dos fundadores da famosa Falange Vermelha... O resto é história. A triste história da omissão do poder público...

domingo, 9 de dezembro de 2012

A procura do Antonico

Um amigo me liga no fim de semana. Muitas notícias, muitas novidades e no fim o lamento acompanhado de um pedido. Em mais um passaralho nas redações de jornais acabou sobrando para um colega nosso. Não em idade, pois um pouco mais moço. Não matusalém, talvez um jovem-senhor com um ou dois filhos, que mais que isso nos dias atuais é considerado falta de juízo. O amigo lamenta o fato de que não há mais espaço para profissionais experientes. Segundo ele, experiência só serve para atrapalhar. Muitos veículos de comunicação preferem trabalhar com a garotada, saída das faculdades e com bastante energia e esperança em relação à profissão. Na avaliação dele, os mais velhos são muito críticos e sempre prontos a reclamar. E para dar exemplo faz menção a manchete de um jornal do dia que ensinava o leitor a gastar o 13º. "A quem pode interessar isso? Será que o infeliz, coberto de dívidas, não sabe o que fazer com o 13º?", esbraveja.

Prefiro ouvir calado e não me meter em seara alheia. Acho que cada um sabe onde lhe dói o calo e o que para nós pode parecer idiotice pode ser algo genial, confirmado pelos aumentos de vendas e com isso a preservação de empregos, algo tão difícil nos dias atuais, no qual muitos apregoam a extinção dos jornais impressos.

Eu não sei de nada disso. Acho que tanto o livro como os jornais possuem muito espaço. Talvez seja preciso encontrar, no caso dos impressos, um caminho que não seja mera repetição do que muitos já souberam no dia anterior, ouvindo rádio, assistindo televisão ou navegando pela internet. Os jornais do dia seguinte, muitas vezes são apenas o noticioso do óbvio já conhecido por todos. Mas, acho que isso é problema para a garotada nova que em tão pouco tempo já galga postos como chefia de reportagem, editorias, etc, coisa que no passado muitos tinham de ralar muito para conseguir.

Talvez a saída esteja mesmo na inexperiência, como na piada atribuída a uma cantora popular que confundiu a morte de Oscar Niemeyer com a do craque Neymar, levando-a as lágrimas. Muitas gafes também são cometidas por jovens repórteres, mas isso não é culpa deles. Também, nós veteranos também cometemos muitas e muitas, mas com a vantagem de que com o tempo a gente esquece e muitos dos que poderiam lembrar já bateram as botas.

O amigo me faz um apelo para que eu tente ver alguma colocação para o colega desempregado. Sinto-me o próprio Antonico da letra antológica de Ismael Silva. "Oh Antonico vou lhe pedir um favor, que só depende da sua boa vontade. É necessário uma viração pro Nestor que está vivendo em grande dificuldade. Ele está mesmo dançando na corda bamba. Ele é aquele que na escola de samba. Toca cuíca, toca surdo e tamborim. Faça por ele, como se fosse por mim...."

Digo o que vou ver o que posso fazer (mas no íntimo sem saber o que posso fazer). Nas minhas andanças vejo a gurizada esticando cordas entre árvores e postes e se equilibrando na corda bamba. Em um mundo em que a então poderosa Espanha tem metade da sua força de trabalho desempregada e a vizinha Argentina passa por sérias dificuldades em relação ao emprego fico pensando no futuro que nossos jovens e velhos-jovens como o amigo desempregado terão pela frente.

Por via das dúvidas, estico a corda no corredor do apartamento e tento também me equilibrar na corda bamba. Nunca se sabe o dia de amanhã e nunca se sabe se teremos pela frente um Antonico para resolver nossos problemas.

Um Antonico, que como nossos governantes, só precisa tem um pouco mais de boa vontade.


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O dinheiro do fenômeno



No século passado, muitos regimes foram criados sob a alegação de que havia pessoas ganhando muito dinheiro e outras poucas e acabaram indo a falência ou estagnado economicamente. Não tenho nada contra o Ronaldo Fenômeno e outros. Mas, acho que deveriam ser vistos como artistas "artistas do espetáculo". Pessoas como ele merecem ganhar muito porque são geradoras de muitos e muitos empregos. Outras profissões também deveriam ser valorizadas, mas isso não tem nada a ver com os poucos que conseguem - pelo fruto de seus trabalhos conseguirem um lugar ao sol brasileiro. Nos anos 60, um primeiro ministro inglês resolveu taxar fortemente as grandes fortunas, em especial os artistas. Foi uma debandada de pessoas para o exterior. Há um documentário dos Rolling Stones sobre o assunto. Essa estratégia caolha fez com que a arrecadação de impostos na Inglaterra sofresse um sensível abalo. Eu, de minha parte gostaria de ser o cabelereiro de uma tal moça que gasta R$ 3 milhões no salão...

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Vamos de Fuleco!!!

PARA UM FUTEBOL
FURRECA,
VAMOS DE 
FULECO

sábado, 24 de novembro de 2012

Ministro Joaquim Barbosa e o racismo brasileiro

PRESIDENTE DO STF

É DEFENSOR DA POLÍTICA
DE COTAS RACIAIS NO PAÍS

Mauricio Figueiredo





 Muita gente tem usado a imagem do ministro Joaquim Barbosa (foto) como argumento contra as cotas raciais. É um artifício que apenas enfatiza a discriminação histórica contra nós os negros. Muitos negros no passado foram alçados a condição de capataz e passaram a defender a escravidão (é o velho artifício de gente que luta para salvar a própria pele), mas ao contrário desse pequeno grupo a maioria abominou o estado em que vivia, criando centenas de quilombos por todo o Brasil. O atual presidente do STF há muito escreveu sobre o assunto, mostrando a importância do uso das afirmações afirmativas para o combate ao racismo no Brasil.

O voto do ministro Joaquim em defesa das cotas fala por si só: "O ministro Joaquim Barbosa definiu as ações afirmativas como políticas públicas voltadas à concretização do princípio constitucional da igualdade material e à neutralização dos efeitos perversos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição física. "A igualdade deixa de ser simplesmente um princípio jurídico a ser respeitado por todos, e passa a ser um objetivo constitucional a ser alcançado pelo Estado e pela sociedade", ressaltou."

E tão divergente, em muitos pontos,  no episódio do mensalão, o ministro Joaquim Barbosa acompanhou o voto do relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 186, ministro Ricardo Lewandowski, em defesa da implantação das cotas raciais, afirmando que "sua manifestação foi tão convincente e abrangente que praticamente esgotou o tema. O voto de Vossa Excelência está em sintonia com o que há de mais moderno na literatura sobre o tema", afirmou.

Além disso, o novo presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STF) é autor de vários artigos doutrinários sobre a questão da política de afirmação. Ao dar o seu voto no Supremo sobre o assunto, o ministro Joaquim Barbosa reproduziu parte de um texto que escreveu há mais de 10 anos intitulado "O debate constitucional sobre as ações afirmativas" e fez declarações pontuais para demonstrar o que pensa ser essencial em matéria de discriminação.

"Acho que a discriminação, como componente indissociável do relacionamento entre os seres humanos, reveste-se de uma roupagem competitiva. O que está em jogo aqui é, em certa medida, competição: é o espectro competitivo que germina em todas as sociedades. Quanto mais intensa a discriminação e mais poderosos os mecanismos inerciais que impedem o seu combate, mais ampla se mostra a clivagem entre o discriminador e o discriminado", disse.

Confundir a ascensão do ministro Joaquim Barbosa como exemplo para anular a natureza do sistema de cotas raciais, como forma efetiva de combate ao racismo no Brasil, tem o mesmo significado de achar que basta dar uma bola de futebol a cada criança, jovem ou cidadão negro na expectativa de que surjam novos Pelés e passem a ganhar a admiração de todo mundo.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Imperador contrariado manda botar fogo em Roma

Em espetáculo na arena de Roma, a multidão vendo a coragem dos cristãos morrendo queimados em fogueiras ou sem temer leões esfomeados, cantando louvores ao seu Deus, em um gesto de compaixão começa a exigir do imperador Roma a libertação das pessoas que estavam sendo sacrificadas.

Mas, um assessor do imperador, de nome Tigelinus, um de seus principais auxiliares, ao ouvido de Nero aconselhava: "um deus não se curva à multidão". Então Nero ordenou a execução dos cristãos, mas se retirando frustrado do estádio, pois, o espetáculo não foi como queria. "Por que eles cantam felizes na hora da morte?" - indagava o imperador.

A história é contada de forma brilhante pelo escritor polonês Henryk Sienkiewicz, Prêmio Nobel de Literatura em 1905, sendo considerado um dos mais brilhantes escritores da segunda metade do século XIX. A  sua obra mais conhecida é o clássico da literatura também adaptado ao cinema Quo Vadis.

Como ocorre com Nero, também, nós muitas vezes agimos em nossas vidas, sempre prontos para recebermos elogios, especialmente dos amigos. Em hipótese alguma gostamos de ser contrariados. Quando isso ocorre nos sentimos injustiçados ou achamos que a outra pessoa não avalia bem a situação ou não compreende corretamente nosso ponto de vista.

Nessas ocasiões, em atitude tresloucada também tocamos "fogo em Roma", como forma de extravasar nossa ira. No caso de Nero, o registro feito é de que buscava inspiração para mais um poema cantado ao som de sua cítara. Quando o povo se revoltou veio a sugestão de um acólito para que jogasse a culpa nos cristãos. Normalmente é o que ocorre muitas vezes em que as pessoas procuram por um bode expiatório.

O poeta e escritor Petrônio, autor do Satiricon - que foi filmado por Fellini -, era um dos que viviam na corte de Nero e procurava dar a ele um pouco mais de lucidez em sua loucura, evitando com isso muitos desatinos.

Por isso, ao verificar que o imperador tinha se excedido em relação aos cristãos, ele confidencia aos amigos que iria se matar, pois não queria dar ao imperador o gosto de mandar executá-lo pelas críticas que fez ao gesto tresloucado de Nero.

No filme, ao contrário do livro, é inserido um comentário de Nero (interpretado por Peter Ustinov - foto) que bem simboliza a posição dos que não aceitam ser contrariados: "como ele se mata sem a minha autorização".

Mas, logo o imperador se recobra ao ver que o amigo lhe deixara uma carta de despedida, dizendo que se tratava "do amigo, do único de Roma que soube reconhecer devidamente minha arte."  Sienkiewicz escreve de forma magistral a carta atribuída a Petrônio, em que ele começa condenando Nero por todos os assassinatos que lhe abriram caminho para o trono, inclusive o da própria mãe. Em seguida, o acusa pelo incêndio de Roma e por muitos outros crimes.

No entanto, o que deixou Nero ensandecido foi o registro final em que Petrônio escreve que "a morte não era tão má, afinal de contas, já que, por meio dela, pelo menos, se livraria da já insuportável obrigação de vir Nero, achando-se gracioso ao dançar desengonçadamente, recitar versos ridículos e ferir seus ouvidos com um canto que deixava a qualquer um saudoso dos uivos dos cães."
Nero foi tomado de um ataque histérico, pois considerou a carta um deboche, mas que o tornava ainda mais colérico pelo fato de não poder se vigar mais de Petrônio.

O filme traz outra versão também deliciosa. Nela, em sua carta, Petrônio faz um apelo final ao imperador: "Nero, pela nossa amizade, poupa os seus ouvintes: deixa a música e a poesia em paz".

Isso é para enfurecer qualquer um. Por isso, pense bem antes de contrariar um amigo.

Quo Vadis - o filme


Após três anos em campanha, o general Marcus Vinicius (Robert Taylor) retorna à Roma e encontra Lygia (Deborah Kerr), por quem se apaixona. Ela é uma cristã e não quer nenhum envolvimento com um guerreiro, mas apesar de ter sido criada como romana Lygia é a filha adotiva de um general aposentado e, teoricamente, uma refém de Roma. Marcus procura o imperador Nero (Peter Ustinov) para que ela lhe seja dada pelos serviços que ele fez. Lygia se ressente, mas de alguma forma se apaixona por Marcus. Enquanto isso as atrocidades de Nero são cada vez mais ultrajantes. Quando ele queima Roma e culpa os cristãos, Marcus salva Lygia e a família dela. Nero captura os todos os cristãos e os atira aos leões, mas no final Marcus, Lygia e o cristianismo prevalecerão.
 Dirigido por Mervyn LeRoy, o filme é do gênero épico, drama, romance (EUA-1951)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

José Dirceu: do "Abaixo a Ditadura" ao banco de réu da Democracia

 Maurício Figueiredo

Nos anos 60, o Brasil era um país extremamente pobre, com elevadissimo número de analfabetos, uma classe média insignificante em termos numéricos e uma elite altamente poderosa em termos financeiros, beneficiada pela grande concentração de renda somada a uma série de privilégios que contribuiam para o aumento constante dessa riqueza.
 
Da mesma forma que um Castro Alves, no passado, se indignou com o regime de escravidão era natural que muitos se indignassem nos anos 60 com o grande estado de miséria do povo brasileiro e entre esses, os estudantes, naturalmente, eram os mais revoltados com a situação existente. 
 
Em 1959, um grupo de barbudos chefiados por Fidel Castro e seu fiel escudeiro Che Guevara realizou a Revolução Cubana. Grande parte da juventude brasileira passou a sonhar também com uma Revolução Brasileira. Praticamente, ela surgiu anos depois, mas não como a revolução sonhada, mas no melhor estilo de um golpe militar, mas cujos idealizadores fizeram questão de chamar de Revolução Gloriosa, antepondo-se a Revolução de 30, que historicamente passou a ser assim intitulada por ter mexido com as estruturas políticas e econômicas em vigor.
 
Já o Movimento Militar de 1964 não teve essas característica. Pelo contrário, para muitos serviu para impedir as reformas que vinham, timidamente, sendo colocadas em prática pelo governo João Goulart. A gota d'água da queda de Jango foi um Comício realizado na Central do Brasil, no dia 13 de março de 1964, quando o então presidente pisou um pouco mais no acelerador adotando medidas como a da encampação de empresas petrolíferas estrangeiras.
 
Mais ou menos dois anos depois de o movimento militar ter se estabelecido, dois rapazes da PUC de São Paulo trocavam ideia sobre a situação política brasileira. Luiz Travassos não titubeou: "Dirceu, vamos para Cuba? Isso aqui está insuportável. A gente pega um ônibus, sai do Brasil pedindo ajuda, consegue dinheiro com os estudantes". E completou a proposta com "Vamos conhecer o Che Guevara".
 
Por ironia do destino, o estudante que sonhava com um Brasil diferente, 48 anos depois, do golpe militar, é a figura central de um dos mais importantes julgamentos da História Republicana, acusado de corrupção, no episódio que passou a ser denominado de Mensalão. Justamente Zé Dirceu que, no primeiro governo Lula, como Chefe da Casa Civil, tinha status de Primeiro Ministro e orgulhava-se do seu partido (PT), alegando ser a agremiação que "não rouba e não deixa roubar".
 
Durante o golpe militar, com o endurecimento do regime, José Dirceu, juntamente com Vladimir Palmeira e Luiz Travassos, era um dos principais líder do Movimento Estudantil. Eles foram presos logo após a União Nacional dos Estudantes (UNE) ter realizado Congresso clandestino em Ibiúna São Paulo, mas em setembro de 1969, junto com outros, foram libertados na troca feita entre as organizações armadas de resistência à ditadura com o embaixador norte-americano que havia sido sequestrado, gerando um grande incidente e revés para os militares no poder. Junto com mais 12 presos políticos foram enviados para Cuba. Nesse dia, Dirceu disse ter ironizado o fato com Travassos: "Veja só demorou mas afinal estamos indo para Cuba. Não é bem como a gente imaginava, mas..."
 
Dirceu também conta um diálogo, que segundo ele, ocorreu na hora do embarque:
__ Quando o cara do Dops me pôs no avião naquela tarde de setembro, eu prometi: "Vou voltar, hein! Ele respondeu: "E eu vou te matar". Devolvi: "Vamos ver quem vai morrer primeiro". Ele era um baixinho meio careca, usava uma gravata solta, toda aberta, e nessa hora ainda gozou: "Vocês estão indo embora, conseguiram escapar." E eu respondi: "Mas vamos voltar, eu não estou indo embora, não estou escapando de nada. Pode tomar nota que vou voltar..."
 
Em seu livro "Abaixo a Ditadura - O Movimento de 68 contado por seus líderes", em parceria com Vladimir Palmeira, da Editora Garamond, Dirceu descreve sua capacidade de liderança, alegando que: "Muitas vezes fiquei pensando sobre onde aprendi a comandar, como surgiu em mim essa capacidade que até hoje muitas vezes me surpreende. No tempo do movimento estudantil e depois, na prisão, eu relacionava isso com a minha preocupação de trabalhar mentalmente, analisar as situações, tomar uma decisão e no mesmo instante aplicá-la. Continuo sendo assim. Uma das minhas principais características sempre foi, e ainda é, resolver as coisas e executá-las imediatamente".
 
E ainda: "Foi graças a isto que, muitos anos depois, tive iniciativas políticas que considero importantes: dei início junto com o Suplicy à CPI do Collor, desempenhei um papel de destaque contra o Quércia em São Paulo e ajudei a organizar a campanha das diretas. Aliás, foi na executiva estadual do PT de São Paulo que surgiu a palavra de ordem das diretas, muito antes da campanha, num encontro do partido em junho de 83. Lembro que na época nós dizíamos que era preciso unificar as lutas que tinham um aspecto institucional e a chamada esquerda do PT odiava isso, achava "direitismo". Mas impusemos nosso ponto de vista, conseguimos estendê-lo a todos os setores da oposição e depois incendiar os corações de norte a sul do Brasil. O povo queria eleger seu presidente; isso iria tranquilizar a sociedade e restabelecer a normalidade constitucional. Estas ideias simples desembocaram na campanha pelas diretas que encheu o país de esperanças."
 
Com a volta da normalidade democrática, José Dirceu foi um dos 111 que assinaram a ata exigida para a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), mas alega que inicialmente preferiu trabalhar na construção do partido, não se candidatando a cargo eletivo. Somente em 1986 é que acabou sendo eleito deputado estadual em São Paulo e em 1990 foi eleito deputado federal.
 
Por ironia do destino, em 1995, José Dirceu estava completamente afastado da estrutura do PT, tendo montado um escritório de advocacia. Seu trabalho político, no entanto, era o de coordenar um programa no Comitê da Cidadania - um projeto contra a corrupção. Foi daí que afirma ter levado um susto, quando foi convidado pelo Lula para ser presidente do PT, convite que já havia declinado em 1993. "Mas dessa vez concordei e acabei me tornando aquilo que realmente queria, presidente do PT".
 
Foi justamente essa volta à política partidária que levou o menino asmático (como o ídolo Guevara) de um dos maiores líderes estudantis do Brasil ao banco de réus no julgamento histórico pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que passou a ser conhecido como Mensalão, apontado como o "Poderoso Chefão" do esquema de corrupção.
 
O jovem que lutou contra a Ditadura acaba no banco dos réus da Democracia que ajudou a construir.
 
_______________________________________________________________________________________________
 
"Toda a agitação que dominou o centro
da cidade na tarde de ontem começou pouco
depois do meio-dia, na esquina das ruas México
e Santa Luzia, fundos da embaixada americana,
quando dois soldados da PM que guardavam
a entrada lateral da embaixada, acompanhados
de agentes do DOPS e da Polícia Federal à
paisana, abriram fogo contra os estudantes, que
já haviam feito sua concentração no pátio do MEC
e caminhavam pela Rua Santa Luzia, em direção
ao restaurante do Calabouço.
Uma moça morreu e outras duas saíram feridas a
bala: Márcia Jurkiewics, aluna da Faculdade de
Estatística, ferida no tornozelo esquerdo quando
tentava refugiar-se em um estabelecimento bancário,
(...) e Jeni de Barros Lopes, com um tiro na coxa
direita. (...) Maria Ângela Ribeiro, atingida por um
tiro calibre 22 na fronte, foi levada com vida ao QG
da PM, onde não recebeu socorros médicos, morrendo
em seguida. Até esta madrugada desconhecia-se o
destino de seu cadáver."
 
Correio da Manhã, 22 de junho de 1968
 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A tentativa de volta do Imperador


Adriano está se esforçando em sua volta ao Flamengo da difícil retomada de sua carreira esportiva. O enfoque  dado ao jogador é o correto. Mais do que sessões de terapia, clínicas de recuperação, aconselhamentos e tudo o mais - que sem dúvida são importantes - é na própria atividade do jogador que está a possibilidade de sua recuperação. O trabalho, nesses casos de problemas de ordem emocional, é sem dúvida o melhor remédio.

Tivemos no passado o triste caso de Mané Garrincha, destruído pelo vício do alcool, apesar do apoio de amigos, especialmente Nilton Santos e de sua companheira a cantora Elza Soares. O grande ídolo do futebol brasileiro ao lado de Pelé ao deixar os gramados não encontrou sentido   levar a sua vida adiante. Sem a escolaridade necessária e conhecimentos que o pudessem dentro do meio esportivo fazer com que desse continuidade a carreira, Garrincha se rendeu à bebida. Já Adriano é um atleta que, se dedicar ao futebol - e não precisa ser muita dedicação, tendo em vista o baixo nível atual - poderá voltar a vitrine.

Muitos, apressadamente, determinam que Adriano deva descalçar a chuteira. A hora de alguém parar profissionalmente deve ser algo de natureza íntima. Agora mesmo vemos juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) deixando o cargo por terem completado 70 anos e estarem no apogeu de suas carreiras, podendo contribuir muito para o país. Em outros países, o cargo chega a ser vitalício, em virtude disso.

O Flamengo e a presidente Patrícia Amorim, com sua sensibilidade feminina, poderia intervir nisso, deve dar a Adrino um tratamento diferenciado. Certamente, ele mesmo fora de forma não perderia muitos gols que atacantes rubronegros, regiamente pagos, têm perdido debaixo do gol. Mesmo o título de campeão brasileiro ostentado pelo Corinthians, se deve muito a um gol marcado por Adriano no auge dos seus 110 kilos.

Um jogador como o Imperador, que detém um contrato de risco, não pode ser colocado na rigidez do horário, como um simples atleta proveniente do time de juniores. Deve ser mostrado a ele, que quanto mais treinar, maiores serão suas possibilidades de recuperação, voltando mais próximo de uma boa forma. Faltar ao treino ou chegar atrasado só serve de material farto para a mídia,  mas nada contribuindo de positivo para o clube e para o próprio atleta.

Adriano é jogador pelo seu passado e pelo seu possível presente que faz parte da estirpe definida pelo deputado Romário Farias, com o seu célebre "treinar pra quê?" , nada mais do que a atualização da máxima do  Mestre Didi: "treino é treino jogo é jogo".

O jornalista João Saldanha definiu que um time de futebol não é feito de "anjinhos". Em época do politicamente correto, o jogador de futebol - proveniente de classes pobres - tem a vida vasculhada por vários setores, sempre em busca de escândalos. Até torcedores se sentem no direito de cercar jogadores em suas residências ou no local de trabalho para cobrar desempenho profissional e isso é visto, por alguns, com grande naturalidade.

É como se de repente, pacientes cercassem a equipe médica de um hospital exigindo "milagres", mesmo com a falta de equipamentos e material médico adequado, além de pessoal qualificado. Ou os pais na saída da escola fossem cobrar dos professores pelo mau rendimento dos filhos nas provas ou reprovação no ENEM.
Isso não ocorre nem com a nossa classe política.

É hora de deixar o Imperador em paz. E no momento, o futebol é a sua tábua de salvação.
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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Um tiro no peito do Brasil


No dia 24 de agosto de 1954, o presidente Vargas (do ponto de vista histórico, o mais importante político da História Moderna do Brasil) com um tiro no coração saiu de maneira pomposa, como registrado em sua "Carta Testamento", da vida para entrar na História.

Era uma época de um país ainda romântico e de certa forma inocente. A morte de Getúlio Vargas foi resultado de todo um clima político que acabou envolvendo o então presidente no que se convencionou chamar de "Mar de Lama".

No Brasil de hoje, nem um mar de lama é capaz de derrubar um presidente. Quando mundo pode resultar em um "impeachement", mesmo assim se o indivíduo não ficar "esperto" no cargo e logo de saída avisar em alto e bom som de que "não sabia de nada".

O problema de Getúlio é que convocou para a sua Guarda Palaciana, um tal de Gregório. Tratava-se de um negro alto e sempre pronto a defender o chefão com a própria vida. Em suma: um indivíduo despreparado para o elevado cargo que ocupava, o que é comum ainda no Brasil atual, gerando lambanças como as do "mensalão" e outras mais.

O líder da Oposição ao governo Getúlio era o brilhante jornalista e político Carlos Lacerda. Hábil no uso das palavras, com discursos contundentes e também dono de um dos textos mais precisos da história do jornalismo brasileiro.

O governo Getúlio, no entanto, tinha o apoio popular, marcado pelo que se convencionou também chamar de "populismo", uma espécie de "bolsas" dos dias atuais, que obedece à máxima chinesa: "não importa a cor do gato, o importante é que ele mate o rato". E Getúlio era cognominado como "o pai do pobre", expressão tirada da Bíblia.

E o que fez Gregório em defesa do Poderoso Chefão? Decidiu matar o mal pela raiz. Armou uma cilada para Lacerda, contratando um pistoleiro para matar o político-jornalista. O episódio é conhecido como Atentado da Tonelero, pois foi naquela rua de Botafogo, na zona sul do Rio, no dia 5 de agosto, que o pistoleiro brasileiro, mostrando toda sua incompetência acabou acertando o Major Vaz, da Aeronáutica, e o pé de Lacerda (mas há getulistas que juram que Lacerda apenas mandou engessar o pé para dar maior dramaticidade ao atentado).

Uma lambança dessa fez o "mar de lama" transbordar. Além de Lacerda, os militares aumentaram o cerco contra o velho presidente, levando-o ao desfecho dramático do suicídio.

"Morreu o paí dos pobres. O que será agora dos pobres", registrava Erico Verissimo em um de seus livros, no qual um popular comentava a dramaticidade do fato. E o próprio escritor gaúcho dava a resposta através de outro personagem: "vai continuar pobre como sempre".

CARTA TESTAMENTO


Cópia da Carta-testamento de Getúlio Vargas, 24 de agosto de 1954:
Cquote1.svgMais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
"Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
"Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
"E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte.
Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Cotas: o voto do ministro


 As pessoas deveriam se esclarecer melhor sobre o assunto. A adoção de cotas pelo Brasil se deve - única e exclusivamente ao cumprimento de acordos internacionais em que o país foi considerado um dos mais racistas do mundo. Deviam ter conhecimento de que fora a Nigéria, o Brasil é o país com o maior número de negros no mundo (embora não pareça, pois os negros estão confinados nas favelas e presídios). E deveriam conhecer o voto do Doutor Joaquim Barbosa no STF em defesa das cotas: Joaquim Barbosa foi o quinto ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a votar a favor da reserva de vagas em universidades públicas com base no sistema de cotas raciais. Para ele, as ações afirmativas são políticas públicas voltadas à concretização da neutralização dos efeitos perversos da discriminação racial, de gênero, de idade e de origem.

Cota é tão importante que até a Xuxa está virando morena...

domingo, 19 de agosto de 2012

Voto nulo: Façam a Revolução!!!


Na época da ditadura militar, na qual utilizou-se o artifício de se manter um Congresso em funcionamento, com suas ações tuteladas pelo regime, no que se convencionou chamar eufemisticamente de "democracia relativa", a campanha pelo voto nulo nas eleições possuía um sentido de resistência por parte de muitos, embora, outros alinhados no partido da oposição permitida (o MDB - Movimento Democrático Brasileiro) procuravam de alguma forma lutar para o retorno do país à normalidade democrática.

Com a queda da ditadura e o retorno do país à normalidade democrática, vendo-se a democracia como um Estado a ser construído no dia a dia, o Brasil embora ainda muito longe de um modelo ideal, pois o aperfeiçoamento das instituições requer várias reformas como a da política, judiciário e outras mais, se afasta cada vez mais do longo período de autoritarismo.

É verdade que não há consenso em relação ao Estado democrático. Muitos possuem um pensamento de esquerda que só acredita na verdadeira modificação do quadro social por meio de uma revolução e por isso classificam a democracia como a brasileira e de outros países, como sendo a chamada "democracia burguesa" e aplaudem regimes como o cubano, Coreia do Norte ou o chinês (apesar de toda guinada deste último para o modelo de capitalismo de estado).

Da mesma forma existe o pensamento de direita que vê em regimes autoritários, como o estabelecido pelas ditaduras como a melhor forma de se avançar. Ou seja, de colocar a casa em ordem, combater a criminalidade e através de um estado policial afastar qualquer tipo de oposição ao governo.


A grande maioria, no entanto, continua apostando no difícil trabalho de construção de um país moderno e democrático, onde as opiniões circulem livremente e da mesma forma as informações, o que tem sido muito facilitado com o surgimento de tecnologias modernas como as que deram origem às redes sociais. Falar que a mídia no Brasil é controlada por seis famílias é chover no molhado, pois o que se vê na prática é a enorme diluição do poder da comunicação. Quem faz um trabalho bem feito (mesmo originado com poucos recursos) acaba alcançando o sucesso esperado.

Construção de sites, blogs, etc é um caminho no entanto que exige esforço intelectual e muito trabalho. Mas há os que preferem panfletar e assinar manifestos e comodamente ficarem de fora do jogo político.

Campanhas como as veiculadas da internet pela anulação do voto demonstram apenas o desconhecimento de pessoas em relação à própria legislação em vigor, sob a alegação de que um elevado número de votos nulos anularia o pleito. Trata-se de algo inexistente.

Na ditadura, pegar em armas como muitos fizeram, com o sacrifício da própria vida, ou anular o voto foram formas de luta conscientes e importantes.

Já no Estado democrático (mesmo que se considere uma democracia burguesa), tal proposta não faz sentido. Ou então, que se siga o caminho: Façam a Revolução!!!

sábado, 18 de agosto de 2012

Sociedade sem escolas: opção brasileira


Sonho de Ivan Illich se faz presente no Brasil
Nos anos 60, o educador Ivan Illich lançou um livro manifesto pregando o fim das escolas (Sociedade sem escolas). De verdade, se tratava de uma crítica ferrenha ao sistema educacional em todo o mundo, demonstrando que a falta de valorização da escola pelos diversos governos contribuia para a formação de pessoas incultas, bárbaras e sem formação política que permitisse reais transformações sociais. Quando o magistério público federal brasileiro completa três meses de greve, sem que o impasse seja resolvido, o ideal de Ivan Illich mostra que é algo plausível na considerada sexta maior economia do mundo.      

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

De chafariz a estátua de Renato Russo: o dinheiro público



"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"
 
 
 
Marco do governo Cesar Maia, na Ilha do Governador, dois imponentes chafariz (apelidados pela população de Bráulios) são exemplos claros da maneira como o poder público gasta o dinheiro do contribuinte ao seu bel prazer.

Com imponentes ladrilhos que eram para brilhar à noite com a água a jorrar, os elefantes brancos situados no bairro da Portuguesa, na Estrada do Galeão, em pouco tempo foram relegados ao abandono, servindo de foco de mosquito e um deles para abrigo de mendigos. 

Uma das passarelas erguida nas imediações também teve as lâmpadas arrancadas e por defeito de construção, em dias de chuvas, apresentam várias goteiras. A maioria das pessoas dá preferência ao sinal existente no local, evitando a passarela, praticamente, abandonada.

O ex-prefeito que construiu outras obras consideradas absurdas, entre as quais a cidade da música, reaparece no cenário político, com a informação de não possuir mais rendimento, tendo doado seu dinheiro para terceiros.
Agora na Ilha, o atual alcaide, em boa hora, mandou derrubar um dos chafariz, dando lugar a uma pracinha furreca (sem árvores, sem brinquedos) em um espaço exíguo, na qual foi colocada uma estátua do Legião Urbana, Renato Russo.

O ex-líder da Legião nasceu na Ilha do Governador, onde passou a infância e adolescência, antes de mudar para Brasília, com os pais. A informação é de que voltou a residir na Ilha, nos seus últimos dias de vida, tendo morrido em 1996, aos 36 anos de idade.

Uma justa homenagem a um jovem poeta, cultuado por muitos. Ao elaborar a estátua, o artista Ique foi providencial, colocando Renato Russo, agarrando de maneira firme o microfone, parecendo cantar um de seus muitos sucessos. 

Pelo menos, roubar o microfone do líder do Legião parece ser tarefa difícil, como é comum com outros homenageados, a exemplo do óculos de Drummond, na Praia de Copacabana.

Ou quem sabe, no futuro, outro governante apresentar novo projeto para a área, deslocando a estátua para outro local. 

Para a população, em si, na da muda. Como cantava Renato Russo “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”.
 
 

domingo, 12 de agosto de 2012

MEU PAI

 
Lembro meu pai ainda novo
comigo agarrado em sua mão...
 
Lembro meu pai velhinho
e eu segurando sua mão...
 
Em qualquer situação,
ele sempre me conduzindo;
ele sempre me guiando...
 
Eu sou uma parte dele
e disso nunca me esqueço.
 
___________________________________________
 
(Nesse domingo dia dos Pais
volto minha memória e pensamento
para meu querido e amado pai
Lourival da Costa Figueiredo)

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Mensalão: chega de "aves de rapina"






País não tolera mais assaltos aos cofres públicos


 Há quem diga que a roubalheira começou quando a primeira caravela de Cabral aportou na Terra de Santa Cruz, continuando pela Vera Cruz e se consolidando no, finalmente, Brasil. A roubalheira do passado, no entanto, não é justificativa para que o povo e a sociedade brasileira continuem aceitando essa série de crimes (que resultam em mortes de pessoas sem acesso a uma saúde adequada, a habitação digna, a saneamento exemplar, a educação de qualidade, ao lazer prazeroso e ao trabalho mínimamente bem remunerado), cujo cálculo por baixo é apontado como de cerca de 50 bilhões de reais desviados anualmente dos cofres públicos.

Cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF) fazer um julgamento histórico, dando aos réus do processo todo direito à defesa, mas usando da firmeza necessária na aplicação da punição, quando as provas forem mais que evidente. O povo brasileiro está cansado de julgamentos que no fim de tudo acabam no que popularmente passou a ser chamado de pizza.

Se realmente houve roubalheiras no passado (desde a caravela de Cabral) são fatos que não justificam mais a continuação dessa perversa trilha em pleno século XXI.

O Brasil que caminha firme para se tornar a quinta maior economia do mundo, não pode mais tolerar a convivência com as suas "aves de rapina".

A roubalheira, a politicagem espúria, o assalto aos cofres públicos, o preenchimento de vagas na administração direta e indireta por meio de ação entre amigos não devem ter mais espaço. A punição exemplar dos culpados pelo Mensalão pode ser o caminho para um novo Brasil e consolidação de nosso Estado democrático. Esse é, sem dúvida, um momento histórico.

Mauricio Figueiredo

sábado, 28 de julho de 2012

Picareta: peça da engrenagem

O problema da democracia é que achamos sermos sempre os perfeitos. Somos os
iluminados capacitados a escolhermos os bons candidatos. Estamos sempre
alinhado no partido da justiça social e apto a construir o melhor futuro para o nosso
povo. Os candidatos adversários, os dos partidos que não são nossos aliados, são
aqueles que concentram os mais de 300 picaretas, os desonestos e os incapazes.

Os nossos picaretas e aliados picaretas são sempre melhores do que o dos adversários.
Criticamos o eleitor que por protesto ou opção escolhe votar nos candidatos tidos
como "grotescos", ignorando que muitos dos que apoiamos também possuem grande
telhado de vidro.

Quando a nossa turma, que antes não fazia acordo com a parte adversária, rasga a
cartilha e começa a se aliar com tudo e com todos, avaliamos o fato como estratégia
política e continuamos sonhando um sonho dos inocentes.

Não tememos o ridículo e tentamos vender aos outros o nosso peixe, mostrando que
é mais puro e não cheira a estragado.

E seguimos na nossa missão de orientar a massa ignara.

Mas, quanto a mim não: bigorna, martelo, foice, parafuso, prego ou picareta... Eu
mesmo faço a escolha. E cada um que escolha, livremente, a peça da sua
engrenagem.

Papo furado

CAPITALISMO - Há um papo dejavu aqui na internet de se chamar sem vergonhice de capitalismo. Quando eu era criança chamavam isso de imperialismo americano. Um paiseco ao Norte do continente que escolheu o Brasil para ser pobre, sofredor e humilhado e deixou velhos inimigos como Japão, Alemanha e outros se desenvolverem. Capitalismo e todos os demais ismo, inclusive aquele que o Muro caiu... Esse papo está meio ultrapassado. A história do capitalismo é uma só: aos vencedores as batatas, diria Machado de Assis. Ninguém, como no nosso caso, tem culpa de 20 anos de ditadura; de democracia de arremedo durante muitos e muitos anos; de roubalheira desregrada com os culpados não sendo punidos exemplarmente; e tudo o mais. Isso tudo não tem nada a ver com capitalismo...

sábado, 21 de julho de 2012

Política e telhado de vidro


Má utilização das Redes Sociais

Alguns militantes de partidos políticos

 incorrem no grave erro de utilização das 

Redes Sociais com o intuito de angariar 

votos para suas agremiações 

ou candidatos, com a velha e surrada 

tática de tentativa de descredenciar o 

candidato oponente 

de maneira pouco qualificada. 

As recentes pesquisas 

de opinião — como no passado — 

demonstram que grande parte do eleitorado

rejeita esse tipo de

propaganda que soa de forma negativa.


No intuito de “vender o seu peixe” 

o internauta acaba caindo no grotesco,

 procurando colocar o candidato adversário 

como alguém que concorre com 

o único intuito de fazer o pior governo 

para o povo, 

estando compromissado apenas com

 os ricos e poderosos 

(empresários, banqueiros, entre outros). É 

o tipo de discurso que talvez não seduza 

sequer os incautos. 

Sobretudo, em eleições municipais o que 

conta é a qualificação do candidato. São as 

suas reais propostas 

para a cidade e a exequibilidade da 

adoção das medidas prometidas.

De certa maneira, a propaganda 

agressiva de alguns internautas em relação

 a candidatos adversários, 

resulta na antipatia em torno de

 suas legendas e candidatos, dando 

a impressão de que não possuem

 proposta para o município a não ser 

a de atirar pedras 

no telhado do vizinho (e normalmente 

os seus são de 

vidro extremamente vulnerável)







sexta-feira, 18 de maio de 2012

PONTE DO SABER


IGNORÂNCIA NA PONTE DO SABER - A Ponte do Saber foi construída para desafogar o trânsito proveniente da Ilha do Governador-Aeroporto Tom Jobim e Cidade Universitária. Nos primeiros meses tudo funcionou uma maravilha. Mas, como o que é bom pode ser piorado, a Polícia Militar passou a fazer, regularmente, toda manhã, blitz no local, retendo todo o tráfego. Se contar para o meu primo em Portugal, ele vai pensar que a Ponte do Saber é mais uma piada de brasileiro.


sábado, 7 de abril de 2012

A DOR DA GENTE NÃO SAI NO JORNAL 1

A DOR DA GENTE NÃO SAI NO JORNAL 1 - "Tentou contra a existência. Num humilde barracão. Joana de tal. Por causa de um tal João. Depois de medicada, retirou-se pro seu lar. Aí, a notícia carece de exatidão. O lar não mais existe. Ninguém volta ao que acabou. Joana é mais uma mulata triste que errou. Errou na dose. Errou no amor. Joana errou de João. Ninguém notou. Ninguém morou. Na dor que era o seu mal.

A dor da gente não sai no jornal" (Haroldo Barbosa e Luiz Reis)

A DOR DA GENTE NÃO SAI NO JORNAL 2 -

Nós, os "testemunhas oculares da história", que em nossa atividade diária convivemos com tantas tragédias, falcatruas, roubalheiras, maracutaias e, na medida do possível, muitas vezes, nas entrelinhas, em nome da objetividade dos fatos ou dos interesses patronais, nem sempre coincidentes com o dos leitores, muitas e muitas vezes paramos para pensar sobre a importância do nosso humilde trabalho.

 Nós que como os Tomés incrédulos, estamos sempre preparados para "ver para crer" e prontos para colocarmos as mãos nas feridas.

Nós que seguimos adiante com nossas "mãos sujas de m...", sem temer a fedentina e a sujeirada, sempre em busca da notícia, também, muitas vezes, escondemos nossas dores, na certerza de que elas não saem no jornal.

www.aprovacaoautomatica.blogspot.com

domingo, 18 de março de 2012

Jorge Goulart e a cabeleira do Zezé

O cantor Jorge Goulart, de 86 anos, um dos grandes nomes da chamada "Era do Rádio", na década de 1950, morreu no sábado, 16 de março. Era casado com a cantora Nora Ney, outra grande artista da época. Um de seus grandes sucessos foi a marchinha carnavalesca "Cabeleira do Zezé", composta por João Roberto Kelly e Roberto Faissal.

Na época do politicamente incorreto, Goulart cantava: "Olha a cabeleira do Zezé. Olha a cabeleira do Zezé. Será que ele é? Será que ele é?"

Mas, a grande polêmica não foi, na ocasião, em torno da sexualidade do Zezé, na qual, conforme a canção pairava a dúvida se "será que ele é transviado?" e sim com relação a indação de que "será que ele é Maomé?" - levantada por alguns setores do islamismo.

Embora tendo grandes sucessos no carnaval, Jorge Goulart, também, foi o primeiro cantor a gravar o  clássico “A voz do Morro” ( “eu sou o samba, a voz do morro sou eu mesmo sim senhor, quero mostrar ao mundo que tenho valor, eu sou o rei do terreiro”), de Zé Keti. Foi tamb ém puxador de samba de grandes escolas como a Império Serrano, Imperatriz Leopoldinense e Unidos de Vila Isabel.

Uma época em que não levávamos as coisas tão a sério.

sábado, 17 de março de 2012

Palavrões

Não sei o motivo das pessoas de bem ainda falarem palavrão.
Os palavrões atualmente não chocam mais ninguém. O palavrão
de hoje foi substituído pelo assalto aos cofres públicos, roubalheira
geral, desvio de verbas, impunidade para crimes do colarinho branco,
etc.

Enquanto as elites dilapidam o dinheiro do povo, muitos fazem a
cartase com inocentes ...

sábado, 3 de março de 2012

O Brasil e seus políticos-saúva

"Ou o Brasil acaba com a Saúva ou a Saúva acaba com o Brasil" (Mário de Andrade)

O prefeito do Rio está construindo um hospital na esquina da minha rua. A obra foi idealizada na administração anterior, quando às vésperas das eleições o alcaide derrubou um posto de gasolina, um restaurante e uma igreja evangélica, abrindo espaço no terrenão para a construção do prometido hospital. Vitória garantida e o hospital nunca saiu do papel. Seria o anexo do Paulino Werneck, que cai aos pedaços no bairro da Cacuia no caminho do Cocotá, com falta de equipamentos, de limpeza, de médicos, enfermeiros e tudo o mais.
Paulino Werneck foi um médico nascido em São José do Rio Preto, em Petrópolis, em 1860, que foi o primeiro diretor do atual Souza Aguiar e introdutor do Sistema de Socorro Urgente nas ruas do Rio, que inicialmente foi rejeitado pela população com o argumento de que as ambulâncias causavam pânico.
Já agora o novo hospital é imponente e como um brizolão estrategicamente colocado na esquina de Haroldo Lobo, um antigo compositor brasileiro autor de sucessos como "Tristeza" - Tristeza por favor vai embora, minha alma implora está vendo o seu fim - que os estudantes entoavam em passeatas nos anos de chumbo, referindo-se a ditadura - e Estrada do Galeão, cujo nome já merece ser mudado para um de nossos políticos mortos ou morto-vivo que tanto fizeram para a infelicitação do povo. O hospital é bonito, mas não há garantia de que terá o fundamental, ou seja, pessoal qualificado para fazê-lo funcionar.
O SUS -Sistema Único de Saúde - segundo pesquisa do governo só funciona bem para 2% dos brasileiros. Trata-se de uma pesquisa que qualquer um pode fazer apenas olhando o panorama visto da ponte, sem cobrar nada dos combalidos cofres públicos.
E o governo federal, às vésperas das eleições, constatou que a Cidade Maravilhosa que aniversariou no dia 1° de março - 447 anos - data da sua fundação e que merecia ser feriadão, como já ocorre com o 20 de fevereiro, dia de São Sebastião, o padroeiro da cidade, esqueceu que o Rio é um dos principais aliados e colocou o município e o estado entre os piores do ranking nacional.
O estado já escolado nesse tipo de pesquisa, que em educação nos colocou em penúltimo lugar, só ganhando do frágil Piauí, uma espécie de América Mineiro, hipoteticamente falando como dizia Valdir Amaral, entre os estados, ficou quieto no seu canto.
Já o prefeito do Rio, no calor de 46 graus que assola a cidade, botou a boca no trombone. Com amigos como esses, ninguém precisa de inimigos. O Ministério da Saúde não levou em conta a amizade histórica da presidente Dilma com o governador Cabral e o próprio prefeito de tabela, iniciada na gestão Lula (o governo inesquecível tal qual Rebeca).
O prefeito fez menção a construção de novos hospitais e a melhoria da situação da saúde na cidade. Como testemunha ocular da história, nas minhas caminhadas diárias - receita básica para o combate da obesidade, colesterol, triglicérides, etc - vejo surgir das cinzas o belo hospital da Ilha do Governador, que, espertamente deixou de ser um simples anexo do Paulino Werneck e certamente terá um nome mais pomposo.
Paulino Werneck por sua vez continua entregue às traças.
Já as saúvas da atualidade são alguns - e muitos - maus políticos que sobrevivem diante da paciência do povo que nos os manda pastar em outro lugar.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Esquerdismo, doença infantil do Facebook



Crítica de Lênin, de 1920, continua mais do que atual
 
Quando eu era jovem, nos anos 60, em pleno fervor revolucionário (a Revolução Cubana foi vitoriosa em 1º de janeiro de 59), era comum no movimento estudantil execrarmos alguns jornais, entre os quais o Globo, considerado o bastião da Direita, aliado do golpe militar de 64. Nenhum estudante esquerdista lia o Globo. Então, um professor de Português com quem conversava muito, me indagou se eu tinha lido uma determinada notícia no que na ocasião ainda não era o maior jornal do país. Respondi que não lia publicações reacionários. O velho mestre me advertiu que essa era uma grave falha na minha formação. Ele dissera que quando a gente lê, ouve ou acompanha apenas o que acha que gosta acaba ficando capenga em termos de pensamento, pois não confronta nossas ideias com as dos quem pensam diferente da gente.
 
Foi uma lição que não assimileir de pronto. Mas depois com o passar dos tempos passei a utilizar. Hoje acho que o meu ecletismo muito útil em termos pessoais e profissionais. Por isso, compreendo, em parte, a campanha que alguns - muitos não tantos jovens - fazem contra a mídia tradicional, em especial a revista Veja, disparado a de maior tiragem no país, e da mesma forma com a programação da TV Globo.
 
Uma das coisas que o velho mestre me ensinou era que Marx era leitor assíduo de Balzac, tendo absorvido do escritor muito pontos importantes da análise da burguesia. Da mesma forma o revolucionário Lênin, na crítica ao comportamento de alguns intelectuais, observou que "o esquerdismo é a doença infantil do comunismo". Essas coisas são facilmente observáveis no Facebook, onde internautas pintam como esquerdistas e ao mesmo tempo, em contradição, endeusam o estilo de vida norte-americano. Na hora de citar uma música, um músico, um cineasta, um filme, um comportamento, 90% ou mais por cento é proveniente do universo norte-americano ou inglês. Todos morrem de amores por Havana, mas o avião em que viajam tem rumo certo para Nova York, Paris, Londres e se pudessem Tóquio.
 
Em uma Redação de jornal, jovem repórter ao ver um exemplar de Veja em minha mesa, me interpelou, querendo saber como eu tinha coragem de ler aquela porcaria. Por curiosidade perguntei que revista ela me aconselharia. Citou a Caros Amigos e me indicou como leitura especial a Piauí. Ficou surpresa, quando eu a informei que a Piauí é nada menos que uma revista do Grupo Abril, assim como a SuperInteressante, a Nova Escola, Exame, Vida Simples, Você S/A, Bravo! e de tabela a Playboy.
 
O total desconhecimento do que seja Comunicação de Massa leva as pessoas a esse tipo de equívoco. Quando você dispõe de 200 reais, fora mais 200 no caso de levara alguma companhia, sem contar custo de transporte (gorjeta do flanelinha, no caso de ser um consumidor dos carros fabricados anualmente no mundo capitalista) e mais uma grana preta para fazer algum tipo de graça no restaurante da moda e em alguns casos um estica no motel três estrelas se a noite romântica render, no clima de uma boa telenovela, tem a oportunidade de ver de perto a arte de uma Fernanda Montenegro, um show do Paralamas ou de algum cojunto famoso (ou não tão famoso) estrangeiro, etc. 
 
Nesse caso, você torce o nariz para o povão inculto que se delicia com o Big Brother, com o Hulk, com o Faustão e que queima um carvão na laje assistindo a transmissão de uma partida de futebol qualquer. Você torce o nariz para o cara que assiste na periferia da cidade o campeonato de vôlei de praia e quando pode vai mergulhar no piscinão com a sua família, levando o arroz de forno e a galinha assada.
 
O esquerdista de fachada que curte produções como Cidade de Deus ou Tropa de Elite, ficando indignado de não terem sido indicados para o Oscar, se esquecem que em tudo isso tem o dedo da Vênus Platinada.
 
A visão distorcida desses falsos intelectuais é a de que tudo onde não há o consumo popular passa a ser de elite e por isso, de qualidade. Quando o povo passa também a curtir, o artista - antes maldito e que não tinha onde cair morto - passa a ser visto como comercialesco e sem valor.
 
"Esquerdismo, doença infantil do comunismo" é texto de Lênin de 1920. Ainda oportuno nos dias atuais.
 

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Por que a escola de seu filho é uma M...?

Por que a escola de seu filho é uma Mediocridade?

A escola não funciona, pois ela caso fosse eficiente seria um dos principais instrumentos da formação do pensamento crítico de nossa população. O indivíduo que pensa criticamente não aceita o atual processo de concentração de renda no país. O fato de sermos a sexta maior economia do mundo não significa que nossa população terá acesso a melhor qualidade de vida. Longe disso.

Como foi dito pelo general Garrastazu Medici, durante a ditadura, a economia brasileira tem crescido, mas o povo continua pobre. A chamada ascensão social da classe C, por exemplo, representa um ganho de mercado, mas não significa que esses brasileiros (como aliás muitos das classes dirigentes) estejam aptos a fazerem uma análise crítica de nossa realidade e de suas próprias vidas. Muitos o fazem por intuição.  Olham a miséria de suas casas, suas ruas, seus bairros. A insegurança de sua família. As doenças abatendo a todos, entre outras mazelas, e vê que há algo de errado.

O crescimento do PIB não significa melhoria de nosso desenvolvimento humano. A nossa distribuição de renda per capita demonstra isso. A concentração de riqueza é perniciosa para o desenvolvimento sustentável do país. Ela emperra o salto de qualidade e o próprio desenvolvimento tecnológico.

Um super rico pode ter 20 automóveis na garagem, mas dificilmente terá 2 mil. Pode ter 10 ótimas casas, mas dificilmente residirá em todas ao mesmo tempo. Mas não se trata de se desestimular o enriquecimento. Pelo contrário, essa é a tônica do crescimento chinês. Uma riqueza bem aplicada é estimulante para a economia. Ela gera empregos e desenvolvimento.

O que não pode existir é a riqueza parasitária, proveniente do assalto aos cofres públicos (nossa corrupção foi calculada por baixo em 50 bilhões anuais em desvio dos recursos nas mais diversas áreas). Quando o roubo impera, o brasileiro — leia-se o pobre — passa a ser tratado como cidadão de segunda ou terceira categoria.

Na saúde apenas 30% da população possui plano de saúde, aos demais 70% que são os milhões e milhões de brasileiros restam os hospitais públicos. Eles como as escolas públicas não funcionam porque foram feitos para não funcionar.

Muitas pessoas não entendem que saúde e educação, em nosso mundo globalizado, passaram a ser excelentes negócios. O ensino privado, por exemplo, tem excelentes serviços prestados ao desenvolvimento brasileiro. Mas, sua função estratégica era a de servir como um diferencial dentro da estrutura educacional do país. A escola particular eficiente passaria a ser um importante instrumento a modelar o panorama geral. Ao contrário disso, no regime do general que detectou o crescimento econômico ("Milagre Brasileiro") ao lado do empobrecimento da população, houve grande estímulo ao processo de privatização, que vai muito além da igenuidade de descrições como as da "Privataria Tucana" e outras.

O que há em curso é um modelo muito antes registrado pelo filósofo Herbert Marcuse, nos anos 60, quando assinalava a existência de uma Ideologia do Estado Industrial comum tanto ao mundo Capitalista (Estados Unidos) como ao mundo Comunista (União Soviética). O pensador, muito antes de ganhar curso a popularização da economia global, fazia menção a ideologia do crescimento econômico a qualquer custo em detrimento do próprio elemento humano. Frisava que o mundo caminhava para a criação de um Exército de Marginalizados e indagava: "O que vamos fazer quando o Exército de Marginalizados se revoltar?"

A questão é que em muitos lugares do mundo, o exército de marginalizados não se revoltou. Não foi dado a ele capacidade para isso. O próprio crescimento vertiginoso das drogas faz parte do processo. Que perigo pode oferecer milhares e milhares de crianças e jovens amortizadas pelos efeitos do crack? Que perigo pode oferecer milhares de crianças e jovens exterminadas pelo aparato de segurança pública oficial dos governos e também pelas milícias clandestinas?

Até movimentos como o MST reconhece ter perdido fôlego, em nosso mundo no qual a distribuição farta de bolsas de todos os tipos capacita o "cidadão" para o imobilismo e conformismo. Como no estilo romano, "o pão e circo" faz a alegria das massas.

O Brasil é o terceiro maio mercado para venda de geladeiras e freezers, alcançando 4,8 bilhões de dólares. Só perdemos para a China e Estados Unidos. Em venda de automóveis só perdemos para a China, Estados Unidos e Japão. Em 2009 foram vendidos 6 milhões de carros no país. Mas, a felicidade de nossa gente se resume a isso?

O povão não tem carro. O povinho que ascende tem carro usado, poluente, de roda gasta e componentes modestos. Essa turma quando trafega em uma rodovia estadual e federal paga elevada taxas nos pedágios. Ela paga o mesmo que o super milionário que desfila em seu carrão. De verdade a massa dos marginalizados ajuda a tocar a economia, conforme bem detectou Dicró ao mostrar que o mundo da criminalidade fazia a economia crescer (advogados, juízes, carcereiros, médicos, enfermeiros, etc).
Enriquecer a qualquer custo passa a ser a bandeira de muitos. Uns o fazem com uma pistola no bolso. Outros com uma caneta. Outros simplesmente metendo a mão nos cofres públicos.

Nada contra o crescimento econômico vertiginoso do país. Ele é gerador de riquezas e empregos. O que se torna inaceitável é se dar a maioria dos brasileiros péssimos serviços em áreas essenciais.

A questão é que se a escola pública melhorar de qualidade, inevitavelmente acabará com centenas de escolas privadas de baixo nível. O mesmo se dá com a área hospitalar. Se os hospitais públicos melhorarem de padrão, ocasionarão o fechamento de muitas clínicas particulares que proliferam por todo o canto, mas oferecendo serviço tão ruim como os públicos. A diferença é que no privado de baixa qualidade, o empregado não faz greve e o índice de falta ao trabalho é quase inexistente. O público é feito no sentido do não compromentimento com o cliente.

Como o serviço público é inchado de pessoal terceirizado, quarteirizado, contratados temporários e as chefias são ocupadas por apadrinhados políticos, ele, gerencialmente, é levado a um estado de caos. Isso, por exemplo, ocorreu com os Correios, anteriormente apontado pela população como uma das mais eficientes empresas públicas. O sucateamento cresceu com o empreguismo e a abertura para agências privadas que usam o escudo dos Correios.

O único remédio para isso seria uma verdadeira Revolução educacional-cultural, na qual como defendia o velho e ultrapassado Marx, cada um teria de acordo com as suas qualidades ou de acordo com as suas necessidades. Ou como ensinou o velho Mestre, com o seu amai ao próximo como a ti mesmo.

Mas na selva brasileira, o que prevalece é o total desamor com nossas crianças e jovens. "Cada qual ama a si próprio. Liberdade, igualdade, aonde está - não sei", já denunciava Mestre Candeia.

Com isso temos a população pobre enviando seus filhos para as escolas públicas deterioradas e parcela da classe média iludida com o mundo da mediocridade, na qual depositam seus filhos, crentes que estão sendo preparados para um grande futuro.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Discursos presidenciais

"Na hora do voto, os políticos
devem mentir até para as suas mães"
 (Machiavel)


Conta-se, em tom de anedota, que um famoso político brasileiro, com o objetivo de contagiar a plateia, mencionou uma frase e atribuiu a autoria a uma grande personalidade mundial. Posteriormente, ao ser criticado pelo fato de que o personagem famoso jamais dissera tal coisa, não titubeou e declarou: "Se não disse, deveria ter dito".

Já em política, nos dias atuais, nada melhor do que a autenticidade. Saindo do óbvio, a presidente Dilma Rousseff, em discurso durante o Fórum Social Temático (FST) de Porto Alegre mencionou um trecho da canção "Grândola, Vila Morena" para caraterizar o novo modelo de desenvolvimento na América do Sul. Mencionar Portugal, tão ligado a nós em termos cultural, linguístico e afetivos foi um gesto inteligente, em um momento no qual a sociedade brasileira costuma estar tão excessivamente arraigada aos padrões culturais advindos dos Estados Unidos.

Ao citar uma passagem da canção "Grândola, Vila Morena", de Zeca Afonso, e o 25 de Abril em Portugal, quando defendeu um modelo de desenvolvimento mais "progressista" e "democrático", a presidente da República saiu da dicotomia estéril e improdutiva dos exemplos Estados Unidos-Cuba, em substituição à antiga União Soviética, esfacelada com a queda do Muro de Berlim, em 1989. "Na América do Sul, como diz aquela canção da Revolução dos Cravos, da Revolução Portuguesa, "O povo é quem mais ordena'", declarou em seu discurso.

De acordo com Dilma Rousseff, na maioria das nações latino-americanas está em curso um novo modelo de desenvolvimento, que oferece respostas mais efetivas aos desequilíbrios internacionais."Nossos países hoje não sacrificam mais sua soberania frente às pressões de potências, grupos financeiros ou agências de classificação de riscos". Ela considerou ainda que "grande parte do mundo desenvolvido" está a enfrentar a crise com "medidas fiscais regressivas", que provocam consequências sociais e ambientais "nefastas". Intuitivamente, Dilma Rousseff demonstrou que existe muita coisa entre o Céu e o Inferno, conforme destacava Shakespeare.

Mas por falar em Shakespeare, a grande mancada veio da França, quando François Hollande, candidato socialista às presidenciais, citou Shakespeare e o presidente Sarkozy citou Blaise Pascal.

Acontece que mesmo os adeptos socialistas de François Hollande, consideram-no um "casca grossa", em termos de formação cultural e ficaram abismados quando ele estufou o peito e disse: "Eles fracassaram porque não começaram pelo sonho", atribuindo o dito a Shakespeare.

A reação dos seguidores da candidatura Sarkozy foi imediata. Colocaram na boca do presidente-candidato, também pouco afeito as coisas culturais, a doce frase: "O homem tem tudo organizado para que ele esqueça que vai morrer", atribuindo-a a Pascal.

Como mentira tem perna curta, descobriu-se que a frase dita pelo socialista foi extraída do livro "The Vision of Elena Silves", mas o Shakespeare, não é o famoso do "Ser ou não ser: eis a questão", mas do jornalista da BBC Nicholas Shakespeare que escreveu a obra em 1989.

Quanto a declaração de Sarkozy, o jornal Libération, com base em especialistas, garante que ela não consta de qualquer obra de Pascal.

"Na hora do voto, os políticos devem mentir até para as suas mães", como disse Machiavel no "O Príncipe".

Se ele nunca disse isso, deveria ter dito.

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