A escola não funciona, pois ela caso fosse eficiente seria um dos principais instrumentos da formação do pensamento crítico de nossa população. O indivíduo que pensa criticamente não aceita o atual processo de concentração de renda no país. O fato de sermos a sexta maior economia do mundo não significa que nossa população terá acesso a melhor qualidade de vida. Longe disso.
Como foi dito pelo general Garrastazu Medici, durante a ditadura, a economia brasileira tem crescido, mas o povo continua pobre. A chamada ascensão social da classe C, por exemplo, representa um ganho de mercado, mas não significa que esses brasileiros (como aliás muitos das classes dirigentes) estejam aptos a fazerem uma análise crítica de nossa realidade e de suas próprias vidas. Muitos o fazem por intuição. Olham a miséria de suas casas, suas ruas, seus bairros. A insegurança de sua família. As doenças abatendo a todos, entre outras mazelas, e vê que há algo de errado.
O crescimento do PIB não significa melhoria de nosso desenvolvimento humano. A nossa distribuição de renda per capita demonstra isso. A concentração de riqueza é perniciosa para o desenvolvimento sustentável do país. Ela emperra o salto de qualidade e o próprio desenvolvimento tecnológico.
Um super rico pode ter 20 automóveis na garagem, mas dificilmente terá 2 mil. Pode ter 10 ótimas casas, mas dificilmente residirá em todas ao mesmo tempo. Mas não se trata de se desestimular o enriquecimento. Pelo contrário, essa é a tônica do crescimento chinês. Uma riqueza bem aplicada é estimulante para a economia. Ela gera empregos e desenvolvimento.
O que não pode existir é a riqueza parasitária, proveniente do assalto aos cofres públicos (nossa corrupção foi calculada por baixo em 50 bilhões anuais em desvio dos recursos nas mais diversas áreas). Quando o roubo impera, o brasileiro — leia-se o pobre — passa a ser tratado como cidadão de segunda ou terceira categoria.
Na saúde apenas 30% da população possui plano de saúde, aos demais 70% que são os milhões e milhões de brasileiros restam os hospitais públicos. Eles como as escolas públicas não funcionam porque foram feitos para não funcionar.
Muitas pessoas não entendem que saúde e educação, em nosso mundo globalizado, passaram a ser excelentes negócios. O ensino privado, por exemplo, tem excelentes serviços prestados ao desenvolvimento brasileiro. Mas, sua função estratégica era a de servir como um diferencial dentro da estrutura educacional do país. A escola particular eficiente passaria a ser um importante instrumento a modelar o panorama geral. Ao contrário disso, no regime do general que detectou o crescimento econômico ("Milagre Brasileiro") ao lado do empobrecimento da população, houve grande estímulo ao processo de privatização, que vai muito além da igenuidade de descrições como as da "Privataria Tucana" e outras.
O que há em curso é um modelo muito antes registrado pelo filósofo Herbert Marcuse, nos anos 60, quando assinalava a existência de uma Ideologia do Estado Industrial comum tanto ao mundo Capitalista (Estados Unidos) como ao mundo Comunista (União Soviética). O pensador, muito antes de ganhar curso a popularização da economia global, fazia menção a ideologia do crescimento econômico a qualquer custo em detrimento do próprio elemento humano. Frisava que o mundo caminhava para a criação de um Exército de Marginalizados e indagava: "O que vamos fazer quando o Exército de Marginalizados se revoltar?"
A questão é que em muitos lugares do mundo, o exército de marginalizados não se revoltou. Não foi dado a ele capacidade para isso. O próprio crescimento vertiginoso das drogas faz parte do processo. Que perigo pode oferecer milhares e milhares de crianças e jovens amortizadas pelos efeitos do crack? Que perigo pode oferecer milhares de crianças e jovens exterminadas pelo aparato de segurança pública oficial dos governos e também pelas milícias clandestinas?
Até movimentos como o MST reconhece ter perdido fôlego, em nosso mundo no qual a distribuição farta de bolsas de todos os tipos capacita o "cidadão" para o imobilismo e conformismo. Como no estilo romano, "o pão e circo" faz a alegria das massas.
O Brasil é o terceiro maio mercado para venda de geladeiras e freezers, alcançando 4,8 bilhões de dólares. Só perdemos para a China e Estados Unidos. Em venda de automóveis só perdemos para a China, Estados Unidos e Japão. Em 2009 foram vendidos 6 milhões de carros no país. Mas, a felicidade de nossa gente se resume a isso?
O povão não tem carro. O povinho que ascende tem carro usado, poluente, de roda gasta e componentes modestos. Essa turma quando trafega em uma rodovia estadual e federal paga elevada taxas nos pedágios. Ela paga o mesmo que o super milionário que desfila em seu carrão. De verdade a massa dos marginalizados ajuda a tocar a economia, conforme bem detectou Dicró ao mostrar que o mundo da criminalidade fazia a economia crescer (advogados, juízes, carcereiros, médicos, enfermeiros, etc).
Enriquecer a qualquer custo passa a ser a bandeira de muitos. Uns o fazem com uma pistola no bolso. Outros com uma caneta. Outros simplesmente metendo a mão nos cofres públicos.
Nada contra o crescimento econômico vertiginoso do país. Ele é gerador de riquezas e empregos. O que se torna inaceitável é se dar a maioria dos brasileiros péssimos serviços em áreas essenciais.
A questão é que se a escola pública melhorar de qualidade, inevitavelmente acabará com centenas de escolas privadas de baixo nível. O mesmo se dá com a área hospitalar. Se os hospitais públicos melhorarem de padrão, ocasionarão o fechamento de muitas clínicas particulares que proliferam por todo o canto, mas oferecendo serviço tão ruim como os públicos. A diferença é que no privado de baixa qualidade, o empregado não faz greve e o índice de falta ao trabalho é quase inexistente. O público é feito no sentido do não compromentimento com o cliente.
Como o serviço público é inchado de pessoal terceirizado, quarteirizado, contratados temporários e as chefias são ocupadas por apadrinhados políticos, ele, gerencialmente, é levado a um estado de caos. Isso, por exemplo, ocorreu com os Correios, anteriormente apontado pela população como uma das mais eficientes empresas públicas. O sucateamento cresceu com o empreguismo e a abertura para agências privadas que usam o escudo dos Correios.
O único remédio para isso seria uma verdadeira Revolução educacional-cultural, na qual como defendia o velho e ultrapassado Marx, cada um teria de acordo com as suas qualidades ou de acordo com as suas necessidades. Ou como ensinou o velho Mestre, com o seu amai ao próximo como a ti mesmo.
Mas na selva brasileira, o que prevalece é o total desamor com nossas crianças e jovens. "Cada qual ama a si próprio. Liberdade, igualdade, aonde está - não sei", já denunciava Mestre Candeia.
Com isso temos a população pobre enviando seus filhos para as escolas públicas deterioradas e parcela da classe média iludida com o mundo da mediocridade, na qual depositam seus filhos, crentes que estão sendo preparados para um grande futuro.
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