Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Imperador contrariado manda botar fogo em Roma

Em espetáculo na arena de Roma, a multidão vendo a coragem dos cristãos morrendo queimados em fogueiras ou sem temer leões esfomeados, cantando louvores ao seu Deus, em um gesto de compaixão começa a exigir do imperador Roma a libertação das pessoas que estavam sendo sacrificadas.

Mas, um assessor do imperador, de nome Tigelinus, um de seus principais auxiliares, ao ouvido de Nero aconselhava: "um deus não se curva à multidão". Então Nero ordenou a execução dos cristãos, mas se retirando frustrado do estádio, pois, o espetáculo não foi como queria. "Por que eles cantam felizes na hora da morte?" - indagava o imperador.

A história é contada de forma brilhante pelo escritor polonês Henryk Sienkiewicz, Prêmio Nobel de Literatura em 1905, sendo considerado um dos mais brilhantes escritores da segunda metade do século XIX. A  sua obra mais conhecida é o clássico da literatura também adaptado ao cinema Quo Vadis.

Como ocorre com Nero, também, nós muitas vezes agimos em nossas vidas, sempre prontos para recebermos elogios, especialmente dos amigos. Em hipótese alguma gostamos de ser contrariados. Quando isso ocorre nos sentimos injustiçados ou achamos que a outra pessoa não avalia bem a situação ou não compreende corretamente nosso ponto de vista.

Nessas ocasiões, em atitude tresloucada também tocamos "fogo em Roma", como forma de extravasar nossa ira. No caso de Nero, o registro feito é de que buscava inspiração para mais um poema cantado ao som de sua cítara. Quando o povo se revoltou veio a sugestão de um acólito para que jogasse a culpa nos cristãos. Normalmente é o que ocorre muitas vezes em que as pessoas procuram por um bode expiatório.

O poeta e escritor Petrônio, autor do Satiricon - que foi filmado por Fellini -, era um dos que viviam na corte de Nero e procurava dar a ele um pouco mais de lucidez em sua loucura, evitando com isso muitos desatinos.

Por isso, ao verificar que o imperador tinha se excedido em relação aos cristãos, ele confidencia aos amigos que iria se matar, pois não queria dar ao imperador o gosto de mandar executá-lo pelas críticas que fez ao gesto tresloucado de Nero.

No filme, ao contrário do livro, é inserido um comentário de Nero (interpretado por Peter Ustinov - foto) que bem simboliza a posição dos que não aceitam ser contrariados: "como ele se mata sem a minha autorização".

Mas, logo o imperador se recobra ao ver que o amigo lhe deixara uma carta de despedida, dizendo que se tratava "do amigo, do único de Roma que soube reconhecer devidamente minha arte."  Sienkiewicz escreve de forma magistral a carta atribuída a Petrônio, em que ele começa condenando Nero por todos os assassinatos que lhe abriram caminho para o trono, inclusive o da própria mãe. Em seguida, o acusa pelo incêndio de Roma e por muitos outros crimes.

No entanto, o que deixou Nero ensandecido foi o registro final em que Petrônio escreve que "a morte não era tão má, afinal de contas, já que, por meio dela, pelo menos, se livraria da já insuportável obrigação de vir Nero, achando-se gracioso ao dançar desengonçadamente, recitar versos ridículos e ferir seus ouvidos com um canto que deixava a qualquer um saudoso dos uivos dos cães."
Nero foi tomado de um ataque histérico, pois considerou a carta um deboche, mas que o tornava ainda mais colérico pelo fato de não poder se vigar mais de Petrônio.

O filme traz outra versão também deliciosa. Nela, em sua carta, Petrônio faz um apelo final ao imperador: "Nero, pela nossa amizade, poupa os seus ouvintes: deixa a música e a poesia em paz".

Isso é para enfurecer qualquer um. Por isso, pense bem antes de contrariar um amigo.

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