Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Queima-se gente

Um gravíssimo acidente que vinha sendo anunciado foi o que atingiu o cinegrafista da TV Bandeirantes. Qualquer manifestação de rua é fruto de um confrontamento entre policiais e grupos que fazem a opção pelo enfrentamento como forma de contestar o chamado status quo, mesmo que esse tenha sido, em parte, legitimado pelo processo democrático.

Análises ideológicas, à parte, o grande fato é que temos instituído uma cultura do foguetório, pela qual quanto mais barulho melhores são nossos argumentos. É uma espécie de que ganha quem fala mais alto, quem grita mais, quem esperneia, quem solta o verbo, de preferência acompanhado de muitos palavrões. Carros de som perturbam o sossego das pessoas, trafegando com alto-falantes possantes anunciando o mais diversificado tipo de produtos, desde a goiabada de Petrópolis até a oferta sensacional de uma de nossas Casas comerciais que não se contentam com os encartes nos jornais e propagandas no rádio e televisão, passando pelo mundo da internet.

Nem o Natal, antes festejado com humildes presépios e árvores multicoloridas por luzes e neve de algodão fugiu ao bombardeio geral. A que se tornou tradicional queima de fogos em Copacabana se espalhou pelas demais praias da cidade, ganhando filiais em outros estados, e, ação de particulares que por conta própria soltam os seus rojões infernizando a vizinhança na comemoração do nascimento do menino-Deus.

De vez em quando, uma fábrica clandestina de fogos explode, gerando pânico, acompanhada da notícia pelas autoridades do rigorosos inquérito que de praxe duram de 15 até 30 anos, como na esperança de que o assunto acabe sendo superado por um novo e esquecido por todos. A afirmação da rigorosa punição aos culpados também passa a ser apenas figura de retórica.

Em um país, no qual a bandidagem tem acesso facilitado a todo tipo de armamento, o cidadão comum também tem como brinquedo a compra de fogos de artifício, bombas e rojões na quantidade que bem desejar, não precisando prestar contas a ninguém em torno da utilização de seu arsenal bélico.

Como o coquetel Molotov, inventado por um general russo, já não fazia os efeitos pirotécnicos ideais para a nossa guerrilha urbana transmitida via televisiva, como uma espécie de guerra do Golfo, alguém teve a "brilhante" ideia de trazer para a praça o multicolorido rojão com que o Estado festeja a chegada de um novo ano diante de seus súditos embasbacados.

Queima-se fogos, queima-se estoque, queima-se dinheiro e agora queima-se gente.


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