Uma história de 50 anos atrás
UM GOLPE DESENHADO
DESDE O SUICÍDIO DE VARGAS
A ideia de um golpe militar no Brasil remonta há muitos anos antes de 1964.
Getúlio Vargas foi o chefe da Revolução de 1930 que depôs Washington Luiz. A ditadura Vargas ganhou maiores contornos, a partir de 1937, com a instauração do Estado Novo, apontado como um golpe dentro do movimento.
A participação do Brasil na II Guerra Mundial, com a derrota do nazifascismo, veio a enfraquecer os regimes ditatoriais, criando um clima geral pela democratização dos países. Desse modo, Vargas acaba sendo pressionado pelos ministros militares e acaba renunciando em 29 de outubro de 1945. Na eleição, em dezembro, é eleito o ex-ministro da Guerra general Eurico Gaspar Dutra, com o apoio do Partido Social Democrático (PSD) e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Em 1950, Getúlio, através do voto popular, é eleito presidente da República, mesmo sem ter o apoio de Dutra, mas tendo o apoio de Adhemar de Barros, político influente de São Paulo. O candidato da União Democrática Nacional (UDN) foi o brigadeiro Eduardo Gomes.
O governo nacionalista implementado por Vargas, com a campanha do "O petróleo é nosso", dando margens à criação da Petrobras, em 1953, gera um clima de insatisfação entre os setores conservadores. Com o jornalista e político Carlos Lacerda, como um dos principais opositores, o governo Vargas acaba se envolvendo em uma crise institucional, quando o chefe da guarda presidencial, Gregório Fortunato, contrata um pistoleiro para matar o adversário de seu chefe, mas no atentado de 5 de agosto de 1954 acaba sendo vitimado o major da Aeronáutica Rubens Vaz. A partir daí surge um forte movimento militar exigindo a renúncia de Getúlio.
Com o suicídio de Vargas, em 24 de agosto de 1954, abriu-se a possibilidade dos militares tomarem o poder. Mas, as grandes manifestações populares que surgiram com a morte do então líder denominado "pai dos pobres" não deu clima para esse tipo de movimento.
Desse modo, o vice Café Filho assumiu normalmente a presidência. Em outubro de 1955, Juscelino Kubitschek é eleito presidente, mas os golpistas tentam contrariar o resultado das urnas, com a alegação de que não houve maioria absoluta.
No mês de novembro daquele ano, militares ligados à UDN, o partido de Carlos Lacerda, defendem o golpe e no lugar de Café Filho assume o presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz. Arma-se o cenário para impedir a posse de Juscelino. Contudo, a posse é garantida pela ação do general Henrique Teixeira Lott, ministro do Exército, que depõe Carlos Luz, ocupando diversos prédios do governo, estações de rádio e televisão no Rio, capital da República. Provisoriamente assume o cargo o presidente do Senado, Nereu Ramos, até a posse de Kubitschek no ano seguinte.
Mesmo no governo JK tentativas de golpe surgem, sendo uma delas a de militares da Aeronáutica, mas os líderes posteriormente recebem a própria anistia por parte de Juscelino, cujo período governamental é apontado como um dos mais democráticos vividos pelo país.
Renúncia de Jânio é caminho para o golpe
Quando termina o governo Kubitschek, é eleito presidente, o ex-prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, da UDN, tendo por principal bandeira o combate à corrupção. Ele adota algumas medidas contraditórias, entre as quais a da maior independência do país no plano externo, chegando a condecorar o líder da revolução cubana Che Guevara. No mesmo ano de sua posse, 1961, no dia 25 de agosto, Jânio surpreende o país com a sua renúncia. Para alguns analistas seria a tentativa de ganhar apoio militar e da população para retornar ao cargo com maiores poderes para governar. Mas essa estratégia não deu certo.
Com a renúncia de Jânio, seu vice, João Goulart, encontrava-se em visita à China comunista. Herdeiro de Getúlio Vargas, pertencente ao PTB (partido trabalhista), a posse de Jango começou a ser questionada pelos militares, gerando uma crise institucional. A solução foi a instauração do regime presidencialista, como forma de diminuir o poder de Goulart.
Sem apoio popular e instalado de maneira artificial, o parlamentarismo não vingou, aumentando os problemas do país. Através de plebiscito Jango recupera o poder com a volta do presidencialismo. A partir daí institui seu Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social e em seguida as reformas de base (agrária, bancária, eleitoral e fiscal), com oposição do Congresso e principalmente do empresariado.
Nos anos 60, o mundo vive o clima tenso da Guerra Fria, com a bipolarização entre os Estados Unidos e a União Soviética, com a China correndo por fora. A revolução cubana cria entre os norte-americanos uma linha de endurecimento favorável a instalação de regimes ditatoriais na América Latina, como estratégia para evitar a cubanização dos países. Em total harmonia com essa linha, os oposionistas acusam Jango pelo agravamento da crise econômica e tentativa de abrir caminho para a comunização do país.
Em março de 1964, Jango promove um comício na Central do Brasil, no Rio, com cerca de 300 mil pessoas presentes, em defesa das reformas de base tidas como essenciais para tirar o país de sua situação de atraso e sobretudo opressão das camadas menos favorecidas da população.
A reação dos conservadores surge dias depois, em São Paulo, com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, com cerca de 200 mil pessoas.
O país vive uma situação de crise. Os conspiradores que organizavam o golpe militar, com o apoio civil dos governadores do Rio, Carlos Lacerda; Minas Gerais, Magalhães Pinto; e São Paulo, Ademar de Barros, pretendiam deflagrar o movimento em abril. Contudo, em Minas Gerais, o general Mourão Filho precipita as ações, deslocando tropas em direção ao Rio na madrugada de 31 de março para 1º de abril, tomando a cautela de que o movimento não ocorresse no chamado dia da mentira, com conotações pejorativas.
31 de março ou 1º de abril, o grande fato é que a ação militar foi o início de um grande período de ditadura que se instalou no país. É uma história que completa 50 anos agora em 2014.
Mauricio Figueiredo
Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera
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