Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

domingo, 12 de abril de 2009

Páscoa: Jesus Cristo sem rótulos I


Minha velha vó Iracema disse para que não perdesse tempo discutindo religião. Nesse período de Semana Santa – com o perdão de minha vó – faço uma ressalva. Recebi o sempre inteligente blog Escuta Zé! do jornalista José Luiz Teixeira, com o título “Era Jesus Cristo socialista?”
Como antigo estudante de História da Faculdade do Pedro II confesso que tenho lá minhas dúvidas. Como diria o mestre Benito Alemparte: “há controvérsias”.
Na área do jornalismo há a célebre citação de Alcindo Guanabara, quando inquirido em uma redação de jornal a escrever sobre Jesus: “a favor ou contra?”
Há Danilo Nunes com o seu “Judas: traidor ou traído?”. Há uma série de obras históricas – com maior ou menor grau de veracidade que podem levar o leitor para o caminho que quiserem.
Dependendo do que seja socialismo, é possível que Jesus tenha sido socialista.
Contudo, neste começo de 2001 assistimos impávidos (e colosso) o desgaste das palavras. Há contumazes autoritários que aparecem na realidade atual com discursos de democratas. Serviçais de ditaduras pregam lições de democracia. Antiéticos escrevem sobre ética e dão cursos e palestras sobre o assunto.
Do ponto de vista histórico Jesus sequer era cristão. Jesus era judeu. Mas, e daí?
Da mesma forma, Marx não se considerava marxista. E daí?
As palavras figuram em nossa sociedade muitas vezes como rótulos e servem para que lobos se vistam com pele de cordeiro.
O sentido da Páscoa (Pessach – a travessia) é o da libertação da escravidão. A escravidão da ignorância e do não se permitir o acesso a todos a uma boa educação; a escravidão da doença e não se permitir a todos o acesso a um bom sistema de saúde; a escravidão ao desamor e não se permitir a todos o acesso ao amor; e por aí vai.




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Páscoa: Jesus Cristo sem rótulos II

No Sermão do Monte, o Nazareno alertava à multidão para que o escutassem bem, aqueles que não fossem surdos (não a surdez apenas física, mas a surdez da alma). Roberto (o rei Carlos) afirma que todos estão surdos e poucos têm a capacidade de ouvir nos dias atuais.
O Sermão do Monte (ou da Montanha – para os que preferem o exagero, pois não havia montanhas no local) é a síntese da mensagem de Jesus. Quem quer ir direto a fonte, sem interferências de terceiros basta ler a mensagem e ponto final.
Nesse aspecto, o ponto do Sermão que talvez aproxime Jesus de uma visão pragmática e fundamental para o entendimento de nossa sociedade dita cristã seja justamente o trecho:

“... Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus; mas aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus.
Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que particais a iniqüidade.”

(Mateus VII)


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Páscoa: Jesus Cristo sem rótulos III

O teólogo Emmet Fox observa a citação de Mateus: “E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou de sua doutrina; Porquanto os ensinava como tendo autoridade, e não como os escribas.”

E assinala Emmet Fox: “Mateus nos diz que as pessoas ficaram admiradas com a doutrina de Cristo, e é sempre assim. A mensagem de Cristo é 100% revolucionária. Derruba todos os padrões e todos os métodos, não só do “mundo” como de todas as religiões convencionais ou ortodoxas, pois faz com que desviemos nosso olhar de fora para dentro, do homem e de suas obras para Deus.”


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Páscoa: Jesus Cristo sem rótulos IV

Já o filósofo Roger Garaudy frisa que “Jesus não definiu qualquer programa político nem doutrina social que se impusesse a todos os povos e a todos os tempos. Não se trata, portanto, de pretender sacralizar, em nome da fé, uma obrigação de ser de direita ou de esquerda. Mas o que podemos e devemos clamar, com todas as nossas forças, é que, em nome de nossa fé, não podemos tolerar a divisão do mundo em dois, o Norte e o Sul, e a acumulação da riqueza num pólo da sociedade e da miséria no outro. Se o mundo não é um, nem nossa vida pessoal, nem nossa história comum podem ter sentido.”
E acrescenta Garaudy: “Nossa tarefa é reunir todos os homens de fé – seja qual for essa fé – contra o mundo atual do não-sentido, criar núcleos de resistência ao não-sentido, denunciando e combatendo tudo o que é contrário a uma unidade sinfônica do mundo, em que cada criança, cada mulher, cada homem possa desenvolver plenamente todas as riquezas humanas que tem em potencial, a fim de que cada povo, cada cultura, cada fé traga suas contribuição à unidade fecundante do mundo.
Isso implica combater aquilo que se opõe a essa unidade, pretendendo impor uma dominação imperial, o que não passa de uma falsa unidade.”

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Páscoa: Jesus Cristo sem rótulos V

Finalmente, para quem deseja fugir do Jesus – muitas vezes – esteriotipado de Hollywood, o blog indica “O Evangelho Segundo São Mateus”, do cineasta comunista Píer Paolo Pasolini, eleito pelo Vaticano como um dos melhores filmes sobre religião de todos os tempos e segundo o crítico Derek Malcolm, do The Guardian “um filme memorável sobre Jesus.”
Um detalhe: não é um Jesus branco nem de olhos azuis (ou seja, um Jesus sem rótulos. Ou na complementação de Garaudy: “É o que se exprime quando se diz que Deus se fez homem em Jesus, nos revelando todas as dimensões do homem: sua dimensão divina, isto é, sua relação com Deus; sua dimensão cósmica, quando, além do invólucro que parece encerrá-lo, a natureza inteira transforma-se em seu corpo; sua dimensão comunitária, quando cada um sente pessoalmente responsável pelo destino de cada um dos outros.

E isto se chama amor. Ou Deus.”
Uma ótima Páscoa para todos os leitores: a Páscoa-Pessach – a travessia da escravidão para a liberdade.

Um comentário:

  1. Na busca de idéias para fazer meu tcc sobre gestão de pessoas baseadas no caráter de Jesus, comecei a ler esse post e algo q me chamou atenção foi:Do ponto de vista histórico Jesus sequer era cristão. Jesus era judeu. Mas, e daí?
    Só queria dizer Jesus ele era o Cristo, e que somente após sua morte, os seus discípulos passam a ser chamados CRISTÃOS, por obviamente serem seguidores de Cristo. Desta forma Jesus era o Cristo de Deus em sua essência, e nasceu sim em meio a um povo judeu.em amor Claudia

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