Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

A derrota de Haddad

RADICALISMO, DOENÇA
INFANTIL DA ESQUERDA

No ensaio "Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo", de maio de 1920, Lênin ataca membros da Terceira Internacional, acusando-os de desvio ideológico à esquerda.

A esquerda brasileira acaba de ser derrotada nas urnas, mostrando o desencanto de parcela acentuada do povo com as suas principais bandeiras.

Poderia se dizer que a esquerda foi derrotada pela corrupção e pelo clima geral de insegurança que campeia de Norte a Sul do país, dois pontos que o presidente eleito Jair Messias Bolsonaro soube colocar como prioridade em seus discursos, atraindo fortemente o eleitorado.

Abraçada a bandeiras atraentes para um público juvenil, mas distanciada do chamado "povão", o candidato do PT, Fernando Haddad, tentou nos minutos finais da prorrogação virar o jogo, utilizando de armas que não seduzem mais a massa, como a presença marcante de artistas afinados com um certo intelectualismo universitário. Quando procurou colocar o hip hop na trilha musical, tudo desafinou ainda mais com um discurso crítico do Mano Brown.

A própria esquerda cavou sua sepultura ao utilizar um radicalismo hostil a segmentos respeitados da sociedade. Em nome de um feminismo controvertido e de uma defesa inábil das minorias, agrediu-se as igrejas e isso ao eleitor comum soou de forma falsa, quando presenciou Haddad e Manuela, comungando durante uma missa e em outros atos religiosos.

O "ajoelhar tem de rezar" passou para o eleitorado uma imagem de falsidade e apelação. 

Tentou-se dar ao público a imagem do candidato adversário como um ser grotesco e radical, mas a esquerda acabou usando a mesma arma com que acusava Bolsonário: violência, intolerância e agressividade na tentativa de convencimento do eleitor.

A ideia de que se rouba no Brasil desde o tempo de Cabral (o descobridor) sempre esteve no imaginário popular. O "rouba mais faz", de Ademar de Barros; o presidente bossa nova de JK com compra de porta aviões e a construção de Brasília; e tantos outros, incluindo o silêncio sobre os gastos do período militar (Transamazônica, Ponte Rio-Niterói, Usinas Nucleares, etc) são alguns entre múltiplos exemplos.

A novidade do PT foi enfatizada por um de seus líderes maiores, José Dirceu: "somos o partido que não rouba e não deixa roubar".

Com a explosão do lava-jato, entre outros escândalos, ficou marcado na cabeça de muitos a ideia de um partido traidor do povão. 

Durante os debates e propaganda eleitoral, a corrupção associada ao Partido dos Trabalhadores foi marcante. 

No segundo turno, o candidato Fernando Haddad passou a ter uma pesada cruz para carregar nos ombros. 

A meninada nas ruas e nas escolas contribuiu, em muito, para aumentar o distanciamento do povão. Intolerância contra professores e colegas que ousaram nadar contra a maré deu a ideia de disputa entre moedas da mesma face.

O esperado apoio de Ciro Gomes não ocorreu, bem como de outros da chamada esquerda ou centro. A esquerda partida dá a entender que para 2022 terá de ser na base de cada um por si. 

Haddad tentará capitalizar a expressiva votação de 45 milhões de brasileiros, mas consciente de que muita dessa gente vem de outras fontes. Fez um discurso de derrotado para a plateia juvenil, mas depois de colocar a cabeça no travesseiro verificou que é preciso se afastar do radicalismo. Democraticamente, enviou cumprimento ao presidente eleito.

Depois de uma facada no estômago, o próprio Bolsonaro vem ganhando consciência de que o Brasil fruto das urnas exige que se pegue leve nos discursos e nas ações. 

Quem optar pela doença infantil do radicalismo ficará falando sozinho ou quem sabe lotando plateias revolucionárias no melhor dos shows de rock anglo-americano, aumentando ainda mais o muro de distanciamento do povo. (Mauricio Figueiredo)

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