Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

sexta-feira, 1 de junho de 2018

DEMOCRACIA DE FACHADA

Não há campo mais fértil para a instalação de Estados autoritários, tanto de direita como de esquerda, do que a existência de uma frágil democracia. Ao longo da História, o Brasil foi marcado por pequenos períodos de liberdade democrática. Na República, iniciada com um golpe militar contra o imperador Pedro II em que pese o Marechal Deodoro ser monarquista e amigo do rei, a construção do Estado democrático sempre esbarrou nos privilégios de uma elite agrária e posteriormente de uma insípida elite industrial e citadina.
A Revolução de 30 sob o comando de Getúlio Vargas surgiu como marco para a modernização do país, mas acabou resultando na ditadura do Estado Novo, instituída em 1937. O Brasil vivia a luta ideológica girando em torno da construção do socialismo soviético com a revolução comunista de 1917 e o surgimento do pensamento anarquista e do movimento operário brasileiro, com a criação dos Partidos Comunistas. E no campo da direita a criação do movimento integralista de Plínio Salgado flertado com um forte nacionalismo inspirado nos matizes do nazi-fascismo.
A chamada Guerra Fria após a II Guerra Mundial e derrota do nazismo hitlerista colocou o Brasil no campo aliado dos Estados Unidos, tanto que nossa participação nos campos da Itália deu-se por meio de nossas tropas integrando o V Exército norte-americano. A criação da Escola Superior de Guerra (ESG) definitivamente colocou o país diante da hegemônica dos Estados Unidos na luta ideológica contra o bloco soviético capitaneado pela Rússia.
A revolução comunista cubana de Fidel Castro-Guevara acirrou a guerra ideológica, aumentando nos meios militares a preocupação de o Brasil ser alvo do mesmo processo o que implicaria indiscutivelmente em uma intervenção militar norte-americana. O cerco as ideias socialistas aumentou resultando no novimento militar de 1964, inicialmente, visto como medida saneadora preparando o país para as eleições que estavam previstas para 1965. Juscelino Kubitschek era apontado como o mais forte candidato, mas outros almejavam um lugar no Planalto, especialmente, o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, o mais forte opositor do governo Goulart.
Posteriormente, com a queda do muro de Berlim, 1989, e desmoronamento da União Soviética a Guerra Fria perdeu a força e o sentido do passado. O regime militar brasileiro chegou a exaustão com o agravamento da situação econômica brasileira.
A redemocratização do país, através do processo de abertura política de forma gradual passou a fazer parte do pensamento dos próprios militares tendo em vista a perda de força do movimento comunista.
Chamado de mago ou bruxo, o general Golbery do Couto e Silva teve participação ativa na idealização do processo de abertura política. O último presidente do regime militar João Figueiredo pegou pesado ao afirmar que não haveria retrocesso e que "prenderia e arrebentava" quem se opusesse.
A abertura política, no entanto, não foi um processo feito sem uma estratégia política e militar. O país passou de dois partidos únicos (Arena-MDB), no modelo americano bipartidário forte do partido Republicano e Democrático, para o retorno do pluralismo democrático, inclusive, com a participação dos partidos comunistas os primeiros proscritos ao longo da história e a criação até de um Partido dos Trabalhadores no bojo do processo industrial brasileiro com base no ABC paulista e a aposta no aburguesamento do operariado brasileiro, aliado ao movimento estudantil enfraquecido pela nova realidade do aumento brutal do número de matrículas nas criadas e estimuladas faculdades e universidades privadas, com a União Nacional dos Estudantes (UNE) praticamente sumindo do mapa.
No quadro internacional, no qual o Brasil está inserido, consolidou-se novas formas de pensamento influenciando a própria esquerda. Foram incorporadas novas bandeiras como a do feminismo, ecologia e a chamada revolução sexual e maior permissividade em relação ao uso de drogas em geral, a partir do chamado "desbunde". A globalização mundial também enfraqueceu o sentido de nacionalismo. O mesmo jovem que defende teses socialistas tradicionais é o que curte o rock, os filmes e toda produção cultural do chamado lixo da burguesia. A cultura de massas do século XX passou a ser o padrão mundial.
Golbery em seus livros tinha acentuado que "o comunismo é uma “ideologia dissociadora, pretensamente campeã da justiça social e das verdadeiras liberdades do homem, que se mascara sob as mais justas aspirações nacionalistas e os mais nobres ideais democráticos, que faz da demagogia o seu melhor aliado e, da corrupção o cúmplice mais fiel, que solapa todas as crenças e desmoraliza todas as virtudes, que repudia a religião como ópio dos povos e propaga um fanatismo estéril como vil sucedâneo, que mistifica, que escraviza, que envenena, que mata” (1958:141)."
 Em outro texto, Golbery luta “contra a pior forma de entreguismo, que é esse entreguismo psicológico dos teleguiados comunistas . . .” (1959e:232).
Esse discurso do general, um dos ideólogos do governo militar e do processo de abertura política figura hoje ainda forte no cenário nacional, no qual uma "democracia de fachada", inundada de partidos políticos em verdadeira corrida pelo poder, no qual a corrupção à esquerda e à direita passa a ser a base do próprio fortalecimento de grupos com a barganha de cargos políticos e consequentemente o esfacelamento do Estado, deixa o Brasil diante de um dilema  crescente: o caminho da construção de uma Democracia verdadeira, no qual a Educação e o enriquecimento cultural do povo brasileiro pleno de analfabetos das letras e também os funcionais, cujas postagens e linha de pensamento são visíveis nas redes sociais ou a opção rasteira da aventura por uma nova Intervenção Militar.
Dessa vez, o inimigo não é mais o fantasma esqualido do comunismo, mas o próprio assalto aos cofres esvaziados dos celeiros da nação por mãos de larápios beneficiados por um arremedo de democracia.
O Brasil precisa se libertar da sua Escravidão do Egito e caminhar, mesmo que seja pelo deserto, rumo a terra da Liberdade e isso só é possível com Educação, Saúde, Cultura e Lazer de qualidade para o nosso povo. (Mauricio Figueiredo)

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