Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Maitê Proença


Depoimento de Maitê Proença emociona abertura da Semana da Justiça pela Paz em Casa no TJ do Rio

Com um depoimento sobre a tragédia familiar vivenciada na adolescência e que marcou todo o futuro da sua família, a atriz e escritora Maitê Proença emocionou a plateia na abertura da 8ª edição da Semana da Justiça pela Paz em Casa, realizada nesta segunda-feira, dia 21, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). Convidada especialmente para o evento pela Presidência do TJRJ, Maitê Proença contou o assassinato da mãe com 16 facadas pelo pai. Um crime que ela presenciou quando tinha 12 anos de idade.
“Não gosto de falar muito sobre isso. Tínhamos uma família perfeita, eu tocava vários instrumentos, praticava esportes e falava idiomas. Minha mãe tocava piano de cauda e meu pai, quando chegava em casa à noite, contava histórias e fábulas da mitologia, havia mágica. Depois da morte da minha mãe, ele foi morar em uma chácara e, mais tarde, morou em um manicômio. Eu perguntei a ele porque não atirou em minha mãe e ele disse que a faca era uma extensão do corpo dele. Meu pai foi julgado por duas vezes e absolvido com a ajuda do meu depoimento. Eu não estava entendendo muita coisa naquela momento, mas sabia que se não manifestasse o meu amor por ele, meu pai se mataria. Eu tinha dois irmãos, não precisávamos de mais uma tragédia, ainda que tivesse nos tirado tudo, ainda que tenha tirado a pessoa que eu mais amava. Eu acho que aquele homem não era um assassino. Ele tinha cometido aquele gesto de loucura que tinha destruído a nossa casa, mas não continuaria naquela prática. Essa grande violência acontece em uma escala, não acontece num rompante. A situação neurótica é que leva a isso. Acho que minha mãe não foi cautelosa, porque ela conhecia a pessoa rígida que era o meu pai. Faltou alguma coisa na forma de agir daquela família” – disse a atriz, concluindo que toda a família fica marcada pela violência doméstica.
“Quando acontece uma coisa, não é só a mãe que sofre, as outras vítimas também sofrem.  A violência atinge a todos. Eu tinha dois irmãos, um se matou de tanto beber e o outro entrou para as drogas pesadas. Meu pai acabou se matando também. Então, quem sobrevive a isso, como no meu caso, passa a vida  perguntando se tem valor. Por que eu não consegui impedir? Ninguém pensou na gente, naquela estrutura alegre, nada daquilo foi levado em conta” – acrescentou a atriz para fazer um alerta às vítimas da violência.
“Cada ato de violência precisa ser analisado nas suas especificidades. É preciso punir, mas que não se puna as vítimas. Por último, a violência tem esse jogo de tensões em escalada, mas uma hora o padrão muda. É um objeto que voa, é uma palavra que não foi dita. E esse é o momento que a gente deve usar os dispositivos da lei. Você tem de pedir ajuda, usar a Lei da Maria da Penha, por exemplo. O primeiro gesto de violência pode ser o início do fim” – concluiu.
Abertura
Estão previstas a realização de 1,5 mil audiências no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, durante a Semana da Justiça pela Paz em Casa, que vai até a próxima sexta-feira, dia 25. Na solenidade de abertura, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), desembargador Milton Fernandes de Souza, disse que o tema da violência doméstica é preocupante no Brasil de hoje.
“A Justiça é protagonista neste tempo. É um tema atual e preocupante” – pontuou o desembargador.
A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça, ministra Cármen Lúcia, ficou impedida de presidir a solenidade de instalação da semana no TJRJ,  devido às péssimas condições de pouso de aviões no Rio de Janeiro, em razão da chuva. Cármen Lúcia enviou um vídeo com uma mensagem de saudação e de reconhecimento ao trabalho dos magistrados na campanha.
“Gostaria de trazer os meus cumprimentos a cada um dos participantes, nesta semana em que todo o Judiciário brasileiro faz esse esforço concentrado de dar uma resposta à sociedade. O Judiciário do Rio e, em especial a Presidência do Tribunal, valoriza ações especificas, providencias inovadoras, criando condições para que mulheres tenham acolhimento, ao procurar o Judiciário, para ter acesso pleno à jurisdição. O Judiciário do Rio tem dado exemplo do que é preciso fazer para que a gente responda de maneira eficaz permanente. Sou grata aos juízes que participam dessas ações ou tem essa competência exclusiva por demonstrarem um grau de humanidade que honraria qualquer povo e em qualquer lugar do mundo” - disse a ministra em sua mensagem.
Já o corregedor-geral da Justiça, desembargador Claudio de Mello Tavares, chamou a atenção para o crime de feminicídio no país que faz o Brasil ocupar o quinto lugar no ranking mundial, segundo dados da ONU. Segundo ele, em 64% dos processos de violência doméstica no TJRJ, o agressor é conhecido da vítima. Além disso, só no primeiro semestre deste ano 50 novas ações de violência doméstica contra a mulher foram abertas no Tribunal do Rio.
A desembargadora Suely Lopes Magalhães, coordenadora da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar, anunciou a programação da 8ª Semana da Justiça pela Paz em Casa, além das sessões e atos judiciais. Estão previstas palestras na Escola de Administração Judiciária (Esaj), em escolas municipais e a apresentação da peça “Elas por Elas”, no CCMJ (Museu da Justiça – Centro Cultural).
A presidente da Associação dos Magistrados do Rio de Janeiro (Amaerj), juíza Renata Gil, acentuou que o acontecimento se construiu em um verdadeiro ato de cidadania e é importante para chamar a atenção da sociedade para a rede de proteção que está disponível para a mulher vítima de violência.
Participaram também da abertura, o diretor-geral da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj), desembargador Ricardo Rodrigues Cardozo; a primeira-dama do Estado e presidente do Rio Solidário, Maria Lúcia Jardim, representando o governador Luiz Fernando Pezão; o vice-prefeito Fernando Mac Dowell, representando o prefeito Marcelo Crivella; o subprocurador-geral de Justiça Alexandre Araripe, representando o procurador-geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem; e o presidente da Associação Brasileira dos Magistrados, juiz Jayme de Oliveira. O evento contou com a presença de magistrados, advogados e policiais civis e militares.
Segunda parte
A segunda parte da cerimônia, presidida pela desembargadora Suely Lopes Magalhães, e com a participação da juíza Adriana Ramos de Mello, titular da I Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, foi composta de palestras da presidente do Instituto de Pesquisas Heloísa Marinho, psicóloga Maria Cristina Milanez Werner; e da coordenadora da ONG Cepia, Leila Linhares Barsted. Maria Cristina alertou sobre os efeitos psicológicos nas crianças que assistem no lar os atos de violência praticados pelo pai contra a mãe. Leila Linhares comentou a evolução da Lei Maria da Penha e se disse preocupada com os projetos em tramitação no Congresso que visam esvaziar os efeitos dessa lei. Compôs também a mesa a deputada estadual Martha Rocha.
A cerimônia foi encerrada com a apresentação da Orquestra Maré do Amanhã.

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