Uma
das características do mundo atual, como efeito do processo de
globalização, tem sido a instituição de um quase pensamento único.
Apesar da profusão das informações por meio dos modernos meios de
comunicação, nos quais se destaca o crescimento da internet e a
veiculação de “ideias” ou pré-conceitos
pelas redes sociais há um
estímulo à aceitação
do modo de pensar padronizado com pouco
espaço para
a inovação, reflexão e ideias
próprias.
No
século passado, filósofos como Jean
Paul Sartre manifestaram
preocupação
com esse processo de massificação e
coisificação da
sociedade. O intelectual
francês destacava o fato de em seu tempo
de
escolas, as classes possuírem número
pequeno de estudantes,
comparativamente
com a época atual (e se referia aos anos 60),
com os
professores tendo de lidar com elevado
número de alunos e em várias
turmas.
A
cultura de massa estudada por muitos como
Edgar Morin permitiu o acesso
de muitos bens
culturais a um maior número de pessoas,
desfazendo o
conceito elitista de o conhecimento
estar ao alcance apenas de uma
minoria.
O
problema, no entanto, é que a produção
cultural obteve crescimento
vertiginoso e com
o empobrecimento intelectual do público, devido
à
queda universal da qualidade da educação, a
chamada cultura de massa
passou a prevalecer
na esfera social.
Os
megaeventos colocados à disposição do público
precisam estar associados
ao glamour das luzes,
das cores, da potência do som, do barulho, do
grotesco e do inusitado. A um cantor não basta
cantar. É preciso que
haja o acréscimo de um
sinalizador, espalhando chamas e fumaça, no
melhor estilo do Mané Fogueteiro.
OK,
na música clássica também há espaço para
um canhão verdadeiro
ilustrando musicalmente
as conquistas de um Napoleão. Há busca da
criatividade e do novo está na raiz do processo
artístico.
Mas
há horas que o sucesso advém de algo
mais minimalista. João Gilberto,
um banquinho e
um violão, “pra fazer feliz a quem se ama”.
Ou
até mesmo, o samba de uma nota só. Não
importa. Há os que procuram
fugir do processo
de massificação para que possam vir à tona
respirar.
Fugir do pensamento de rebanho,
contudo, exige uma solidificação
cultural, que
nem sempre é adquirida com o voar de um
aeroporto a outro,
conhecendo-se cidades e gente.
Às
vezes, se vai mais longe, preso em um pequeno
espaço de um quarto
rodeado de livros que
verdadeiramente penetram na cabeça do
indivíduo,
fazendo que os neurônios adormecidos
comecem a despertar.
Machado
de Assis não precisou de empreender
muitas para produzir sua obra
magistral. O poeta
Drummond arriscou apenas ir a Buenos Aires,
assim
mesmo descendo do avião indo direto a
um teatro, recebendo a premiação e
logo retornando.
E
pensando bem, até Jesus Cristo em sua trajetória
percorreu um espaço
pouco menor que um raio como
o de Rio-São Paulo, mas com sua mensagem
transformou todo o pensamento ocidental com
grande influência em todo
mundo.
Panem
et circenses é a forma latina que significa
pão e circo criada pelos
antigos governantes romanos
que via na reserva alimentar e diversão como
a melhor
forma de diminuir a insatisfação popular contra os
desmandos
da elite no poder.
A
democracia é o regime implantado com o objetivo
de garantir a cidadania
a toda a população. Ela, só se
constrói com o acesso à boa educação,
bens culturais,
saúde, habitação e todas as coisas que garantem uma
boa
qualidade de vida.
Na
Roma antiga espetáculos sangrentos, como o das
lutas dos gladiadores,
eram acompanhados pela
distribuição de pães para diversão da população.
Em
pleno século XXI há um pouco desse mecanismo,
nos qual as pessoas são
assediadas. É o mundo das
drogas, do sexo, dos shows, da rebelião sem
causa,
da fama de 15 minutos em um processo de robotização
das pessoas.
Na antiguidade, isso foi descrito pelo
humorista e poeta romano Juvenal
(100 d.C) como
a política do pão e circo.
Em
sua Sátira X descrevia a falta de informação do
povo, com o afastamento
dos assuntos políticos por
meio da comida e diversão. Hoje vivemos a
obesidade
do corpo em alguns casos ou a dos corpos sarados ao
lado da
obtusidade da mente. E até, em alguns casos,
nossos humoristas são mais
de nos fazer chorar.
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