Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A sociedade de massas e o pão e circo

 


 Uma das características do mundo atual, como efeito do processo de globalização, tem sido a instituição de um quase pensamento único. Apesar da profusão das informações por meio dos modernos meios de comunicação, nos quais se destaca o crescimento da internet e a veiculação de “ideias” ou pré-conceitos 
pelas redes sociais há um estímulo à aceitação 
do modo de pensar padronizado com pouco 
espaço para a inovação, reflexão e ideias
próprias. 
 
No século passado, filósofos como Jean 
Paul Sartre manifestaram preocupação 
com esse processo de massificação e 
coisificação da sociedade. O intelectual 
francês destacava o fato de em seu tempo 
de escolas, as classes possuírem número
pequeno de estudantes, comparativamente 
com a época atual (e se referia aos anos 60), 
com os professores tendo de lidar com elevado
número de alunos e em várias turmas.
  
A cultura de massa estudada por muitos como
Edgar Morin permitiu o acesso de muitos bens 
culturais a um maior número de pessoas, 
desfazendo o conceito elitista de o conhecimento
estar ao alcance apenas de uma minoria. 
O problema, no entanto, é que a produção 
cultural obteve crescimento vertiginoso e com 
o empobrecimento intelectual do público, devido 
à queda universal da qualidade da educação, a 
chamada cultura de massa passou a prevalecer 
na esfera social. 
Os megaeventos colocados à disposição do público
precisam estar associados ao glamour das luzes,
das cores, da potência do som, do barulho, do 
grotesco e do inusitado. A um cantor não basta
cantar. É preciso que haja o acréscimo de um 
sinalizador, espalhando chamas e fumaça, no 
 melhor estilo do Mané Fogueteiro. 
OK, na música clássica também há espaço para 
um canhão verdadeiro ilustrando musicalmente 
as conquistas de um Napoleão. Há busca da 
criatividade e do novo está na raiz do processo 
artístico. 
Mas há horas que o sucesso advém de algo 
mais minimalista. João Gilberto, um banquinho e 
um violão, “pra fazer feliz a quem se ama”.
 Ou até mesmo, o samba de uma nota só. Não
 importa. Há os que procuram fugir do processo
 de massificação para que possam vir à tona 
respirar. Fugir do pensamento de rebanho, 
contudo, exige uma solidificação cultural, que 
nem sempre é adquirida com o voar de um
aeroporto a outro, conhecendo-se cidades e gente. 
Às vezes, se vai mais longe, preso em um pequeno
espaço de um quarto rodeado de livros que 
verdadeiramente penetram na cabeça do
indivíduo, fazendo que os neurônios adormecidos
comecem a despertar. 
Machado de Assis não precisou de empreender
muitas para produzir sua obra magistral. O poeta 
Drummond arriscou apenas ir a Buenos Aires,
assim mesmo descendo do avião indo direto a 
um teatro, recebendo a premiação e logo retornando. 
E pensando bem, até Jesus Cristo em sua trajetória 
percorreu um espaço pouco menor que um raio como 
o de Rio-São Paulo, mas com sua mensagem
transformou todo o pensamento ocidental com
grande influência em todo mundo. 
Panem et circenses é a forma latina que significa
pão e circo criada pelos antigos governantes romanos
que via na reserva alimentar e diversão como a melhor
forma de diminuir a insatisfação popular contra os 
desmandos da elite no poder. 
A democracia é o regime implantado com o objetivo
de garantir a cidadania a toda a população. Ela, só se
constrói com o acesso à boa educação, bens culturais,
saúde, habitação e todas as coisas que garantem uma 
boa qualidade de vida.
Na Roma antiga espetáculos sangrentos, como o das
lutas dos gladiadores, eram acompanhados pela
distribuição de pães para diversão da população. 
Em pleno século XXI há um pouco desse mecanismo, 
nos qual as pessoas são assediadas. É o mundo das 
drogas, do sexo, dos shows, da rebelião sem causa, 
da fama de 15 minutos em um processo de robotização 
das pessoas. Na antiguidade, isso foi descrito pelo 
humorista e poeta romano Juvenal (100 d.C) como 
a política do pão e circo. 
Em sua Sátira X descrevia a falta de informação do 
povo, com o afastamento dos assuntos políticos por
meio da comida e diversão. Hoje vivemos a obesidade 
do corpo em alguns casos ou a dos corpos sarados ao 
lado da obtusidade da mente. E até, em alguns casos, 
nossos humoristas são mais de nos fazer chorar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário