Uma estranha doença parece estar a atacar muito de nós. Para combater a dor de dentes ou qualquer outro mal que nos acomete corremos para o mercado em busca de um novo modelo de televisão, celular ou eletrônico da moda. Alguma coisa estranha tem nos tirado um pouco o senso crítico e a capacidade de estabelecer prioridades. Às vezes agimos como se estivéssemos anestesiados, tomando decisões que normalmente não adotaríamos caso tivéssemos um mínimo de tempo para parar e pensar. Acontece que tudo tem sido tão corrido em nossas vidas, que tempo para pensar é algo raro.
De certa forma, muito de nós temos repetido o comportamento e mesmos erros de governantes, na fixação de prioridades, nos importando mais com o imediatismo dos resultados em detrimento do que realmente nos é necessário.
Negligenciamos nossa educação e a dos filhos, mas não pensamos duas vezes em participarmos do "show da vida", nos envolvendo nas arenas multi coloridas com espetáculos de qualidade duvidosa e, muitas vezes, colocando em risco nossa própria integridade física.
Fugimos das filas dos hospitais públicos, na ilusão de que nosso plano de saúde não nos decepcionarão quando forem acionados. Vã ilusão. Em muitos setores sentimos que tanto o que é público como o privado nos tem sido oferecido em qualidade muito abaixo da praticada em outros países, inclusive de economia de menor poder que a nossa.
Vamos para as ruas, em passeata, mostrarmos a nossa indignação com a realidade que nos cerca, mas depois sentimos que os ânimos são esfriados e voltamos à nossa rotina de indiferença ou apenas o desenrolar de críticas eivadas de humor, sem que as coisas ao redor se modifiquem.
Verificamos a constância de balas perdidas e outras nem tanto, convictos de que continuaremos blindados - nós e nossa família e se possível os amigos mais próximos. Logo deixamos de perguntar o fim do Amarildo, colocando em seu lugar algum novo nome.
Às vezes paramos e nos sentimos impotentes diante dos acontecimentos. Vemos viadutos caindo a nossa frente e pessoas morrendo em meio de enchentes, em seus barracos construídos em locais inadequados.
Assistimos anestesiados a crianças e jovens largadas pelas ruas, acreditando que, por alguma mágica, possuam horário para frequentar, assiduamente, as nossas escolas, com percentual de matrícula de quase 100 por cento.
Levantamos bandeiras secundárias, deixando de lado as vitais como saúde, educação, habitação, saneamento, cultura e lazer.
Aceitamos o jogo político que nos entulha goela abaixo um monturo de partidos, nos quais se perpetuam os eternos "salvadores da pátria", enfraquecendo a cada dia a nossa incipiente democracia.
Vemos contritos, o crescimento de ministérios, agências reguladoras e órgãos públicos, com grande parte das vagas preenchidas de forma irregular, com o concurso público deixado de lado.
Nos anestesiamos com discursos e promessas e pela propaganda de que tudo vai melhorar.
Subimos na balança da farmácia e verificamos que estamos muito longe do peso ideal e prometemos - mais uma vez - uma mudança radical no Ano Novo.
No balcão, ingenuamente ou não, pedimos ao vendedor o remédio essencial: Educação de Qualidade.
Mas, na saída, enfrentamos a fila do caixa, carregando nosso pacotinho com o genérico que há vários anos consumimos e que só nos faz dormir, como uma droga que não precisa ser liberada.
Mauricio Figueiredo
Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
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