Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

quinta-feira, 21 de março de 2013

Minha Casa, minha grande furada!

 Os anarquistas, um movimento romântico, que nunca deu certo no mundo real, preconizavam que a propriedade é um roubo. Marx, em um de seus escritos, desancou com a turma, que entre outras coisas, também, sonhava com uma sociedade sem policiais. Qualquer garoto que hoje entra para a universidade e que esteja um pouco desligado das coisas do mundo, ou seja, tenha papai e mamãe para bancar seus gastos mínimos, se apaixona pelos escritos anarquistas. É uma ótima literatura para conquistar namoradas também sonhadoras, entremeando com algumas canções de roqueiros revolucionários e outros do gênero.
Faço essa introdução para dizer que "minha casa não é mais a minha vida". Quando ingressei por volta dos 18 anos no mercado de trabalho, minha mãe me aconselhou para que não fizesse como a maioria dos jovens de minha idade que saía logo comprando um carro. A sabedoria de mãe me orientou para investir em um imóvel, o que fiz e não me arrependi.
Mas, hoje, com o passar dos anos e com a mudança do mundo, não é a dica que dou para os mais novos. Eu recomendaria um bom par de tênis e uma bicicleta.
E recomendaria ainda mais. Estiquem a adolescência até uns 30, 40 anos ou o máximo que puderem antes dos pais lhe botarem para correr, como em um delicioso filme europeu (desculpem ter esquecido o nome), em que os pais fazem de tudo para expusar o malandro de casa (acho que se chama Tangui), inclusive simulando até um divórcio entre o casal.
Comprar casa ou mesmo um terreninho no mundo atual é a maior dor de cabeça. Você escolhe um bairro acolhedor e de repente, da noite pro dia corre o risco de (como ocorre no Centro de São Paulo) ver sua rua ter se transformar em um ponto de comércio 24 horas de crack, ficando você ilhado no apartamento boa parte do dia.
Um especialista no assunto, também contrário aos investimentos em imóvel, cita o caso de seus avós que investiram as economias em um amplo e confortável apartamento em Copacabana. Com o passar do tempo, os filhos foram casando e deixando o apartamento e o casal de velhinhos ficou com um elefante branco, cheio de quartos, com gastos elevados com empregados e condomínio. E para agravar a situação, a rua famosa com a evolução dos costumes passou a ser ponto de prostituição e com isso, o valor do imóvel - o tal de elefante branco - caiu vertiginosamente.
No meu caso, meu apartamento valorizou muito por ser de fundos. Os apartamentos de frente se desvalorizaram com o boom dos automóveis e transportes em geral. A rua antes sossegada passou a ter duas linhas de ônibus circulando, além de kombis e vans que nas primeiras horas da manhã acordam os moradores com os assistentes dos motoristas gritando a pleno pulmões o itinerário. Nos fundos, reina sossego e a segurança como as de um castelo medieval rodeado de grades e porteiros 24 horas.
O imóvel em termos de qualidade sofre os impactos da economia. Esteve muito desvalorizado quando o garoto do vizinho aderiu a funk e vivia tocando a música do Bonde do Dendê em alto volume a qualquer hora do dia, sem que os pais o pudessem controlar - como acontece hoje em muitas famílias. Em boa hora, o menino se converteu a uma igreja, engravidou uma menina e caiu fora do apartamento. A paz enttão voltou a reinar.
O problema é nos fins de semana. Quando a economia melhora chega um caminhãozinho com cadeiras e mesinhas e se for festa de criança até com pula-pula e apesar da lei do silêncio o som dos bêbados e das equilibristas se arrasta até quase meia-noite, com o cheiro do churrasco queimado se espalhando pelo prédio.
Mas, como diz o ditado: ama seu vizinho como a si mesmo. Nos dias atuais, comprar imóvel é uma grande furada. O melhor é o aluguel. Você escolhe o seu paraíso e se em um ano ele virar o inferno é só você tocar fora, pois, nessa terra de ninguém o tempos de se queixar com o bispo também já passou.

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