Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Rainha do Lar


AVENTAL TODO SUJO DE OVO

Minha mãe, com certeza, está entre as primeiras mulheres que nos anos 40, em plena Segunda Guerra Mundial, ingressou no mercado de trabalho, não como participante de algum movimento feministas, que não existia na ocasião, mas levada pela necessidade de lutar pelo pão nosso de cada dia, pois, minha avó viúva dificilmente teria condições de sustentar seus 11 filhos.

Eximia datilógrafa, o que corresponderia atualmente, a um especialista da área de informática, ela tornou-se secretária do então presidente da FNM (Fábrica Nacional de Motores), a popular Fê Nê Mê, Brigadeiro Guedes Muniz. A ida toda manhã, do ônibus da companhia que a apanhava no Sampaio, bairro da zona norte do Rio, rumo a Xerém, onde ficava a fábrica, por vezes se constituía em um tormento, principalmente nos dias de temporais, quando os raios caiam por todo o lado na estrada que conduzia o ônibus por entre as imensas árvores. A FNM ficava na subida da Serra para Petrópolis. Não podendo esconder seu imenso medo era alvo das gozações dos engenheiros e técnicos, sendo ela a única mulher no veículo.

Meu pai era um dos assistentes do brigadeiro e sempre retornava de Xerém de helicóptero. Mas, um belo dia batendo os olhos na secretária (minha mãe), mudou o rumo da prosa e passou a voltar da fábrica também de ônibus.

Quando meus pais se casaram ouve pressão de meus tios e da família de minha mãe para que meu pai fizesse com que ela deixasse o emprego. Na ocasião, não era comum mulher casada trabalhar fora, com exceção de profissões como o magistério e enfermagem, entre poucas outras. Ter cedido as pressões foi, segundo minha mãe, um de seus grandes arrependimentos, pois acreditava que se seguisse carreira talvez tivesse melhores condições financeiras, junto com meus pais, que passou a arcar praticamente sozinho com as despesas da nova família. Minha mãe mesmo assim sempre conciliou os trabalhos domésticos e a criação dos filhos com diversas outras atividades, com o objetivo de aumentar a renda familiar.

Nos Dias das Mães para ela era intolerável quando na rádio surgia Angela Maria entoando uma canção especial do dia, em que outras exaltações dizia que se via a mãe surgindo com o avental todo sujo de ovo. Para ela, tal imagem era degradante. “Onde já se viu uma mãe com avental todo sujo de ovo, como se não tivesse algo mais nobre a apresentar”.

Quando queríamos irritá-la, eu e as minhas irmãs, com meu pai puxando o coro, cantávamos no Dia das Mães os versos de que “Ela é a dona de tudo. Ela é a rainha do lar. Ela vale mais para mim que o céu que a terra que o mar...”. Porém, antes de chegarmos ao “avental todo sujo de ovo”, minha mãe indignada botava todo mundo pra correr.

Obrigado mãe: baixinho eu canto “A Rainha do Lar” com a doce impressão de que de repente você aparecerá colocando a casa em ordem.