Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Esquerdismo, doença infantil do Facebook



Crítica de Lênin, de 1920, continua mais do que atual
 
Quando eu era jovem, nos anos 60, em pleno fervor revolucionário (a Revolução Cubana foi vitoriosa em 1º de janeiro de 59), era comum no movimento estudantil execrarmos alguns jornais, entre os quais o Globo, considerado o bastião da Direita, aliado do golpe militar de 64. Nenhum estudante esquerdista lia o Globo. Então, um professor de Português com quem conversava muito, me indagou se eu tinha lido uma determinada notícia no que na ocasião ainda não era o maior jornal do país. Respondi que não lia publicações reacionários. O velho mestre me advertiu que essa era uma grave falha na minha formação. Ele dissera que quando a gente lê, ouve ou acompanha apenas o que acha que gosta acaba ficando capenga em termos de pensamento, pois não confronta nossas ideias com as dos quem pensam diferente da gente.
 
Foi uma lição que não assimileir de pronto. Mas depois com o passar dos tempos passei a utilizar. Hoje acho que o meu ecletismo muito útil em termos pessoais e profissionais. Por isso, compreendo, em parte, a campanha que alguns - muitos não tantos jovens - fazem contra a mídia tradicional, em especial a revista Veja, disparado a de maior tiragem no país, e da mesma forma com a programação da TV Globo.
 
Uma das coisas que o velho mestre me ensinou era que Marx era leitor assíduo de Balzac, tendo absorvido do escritor muito pontos importantes da análise da burguesia. Da mesma forma o revolucionário Lênin, na crítica ao comportamento de alguns intelectuais, observou que "o esquerdismo é a doença infantil do comunismo". Essas coisas são facilmente observáveis no Facebook, onde internautas pintam como esquerdistas e ao mesmo tempo, em contradição, endeusam o estilo de vida norte-americano. Na hora de citar uma música, um músico, um cineasta, um filme, um comportamento, 90% ou mais por cento é proveniente do universo norte-americano ou inglês. Todos morrem de amores por Havana, mas o avião em que viajam tem rumo certo para Nova York, Paris, Londres e se pudessem Tóquio.
 
Em uma Redação de jornal, jovem repórter ao ver um exemplar de Veja em minha mesa, me interpelou, querendo saber como eu tinha coragem de ler aquela porcaria. Por curiosidade perguntei que revista ela me aconselharia. Citou a Caros Amigos e me indicou como leitura especial a Piauí. Ficou surpresa, quando eu a informei que a Piauí é nada menos que uma revista do Grupo Abril, assim como a SuperInteressante, a Nova Escola, Exame, Vida Simples, Você S/A, Bravo! e de tabela a Playboy.
 
O total desconhecimento do que seja Comunicação de Massa leva as pessoas a esse tipo de equívoco. Quando você dispõe de 200 reais, fora mais 200 no caso de levara alguma companhia, sem contar custo de transporte (gorjeta do flanelinha, no caso de ser um consumidor dos carros fabricados anualmente no mundo capitalista) e mais uma grana preta para fazer algum tipo de graça no restaurante da moda e em alguns casos um estica no motel três estrelas se a noite romântica render, no clima de uma boa telenovela, tem a oportunidade de ver de perto a arte de uma Fernanda Montenegro, um show do Paralamas ou de algum cojunto famoso (ou não tão famoso) estrangeiro, etc. 
 
Nesse caso, você torce o nariz para o povão inculto que se delicia com o Big Brother, com o Hulk, com o Faustão e que queima um carvão na laje assistindo a transmissão de uma partida de futebol qualquer. Você torce o nariz para o cara que assiste na periferia da cidade o campeonato de vôlei de praia e quando pode vai mergulhar no piscinão com a sua família, levando o arroz de forno e a galinha assada.
 
O esquerdista de fachada que curte produções como Cidade de Deus ou Tropa de Elite, ficando indignado de não terem sido indicados para o Oscar, se esquecem que em tudo isso tem o dedo da Vênus Platinada.
 
A visão distorcida desses falsos intelectuais é a de que tudo onde não há o consumo popular passa a ser de elite e por isso, de qualidade. Quando o povo passa também a curtir, o artista - antes maldito e que não tinha onde cair morto - passa a ser visto como comercialesco e sem valor.
 
"Esquerdismo, doença infantil do comunismo" é texto de Lênin de 1920. Ainda oportuno nos dias atuais.
 

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Por que a escola de seu filho é uma M...?

Por que a escola de seu filho é uma Mediocridade?

A escola não funciona, pois ela caso fosse eficiente seria um dos principais instrumentos da formação do pensamento crítico de nossa população. O indivíduo que pensa criticamente não aceita o atual processo de concentração de renda no país. O fato de sermos a sexta maior economia do mundo não significa que nossa população terá acesso a melhor qualidade de vida. Longe disso.

Como foi dito pelo general Garrastazu Medici, durante a ditadura, a economia brasileira tem crescido, mas o povo continua pobre. A chamada ascensão social da classe C, por exemplo, representa um ganho de mercado, mas não significa que esses brasileiros (como aliás muitos das classes dirigentes) estejam aptos a fazerem uma análise crítica de nossa realidade e de suas próprias vidas. Muitos o fazem por intuição.  Olham a miséria de suas casas, suas ruas, seus bairros. A insegurança de sua família. As doenças abatendo a todos, entre outras mazelas, e vê que há algo de errado.

O crescimento do PIB não significa melhoria de nosso desenvolvimento humano. A nossa distribuição de renda per capita demonstra isso. A concentração de riqueza é perniciosa para o desenvolvimento sustentável do país. Ela emperra o salto de qualidade e o próprio desenvolvimento tecnológico.

Um super rico pode ter 20 automóveis na garagem, mas dificilmente terá 2 mil. Pode ter 10 ótimas casas, mas dificilmente residirá em todas ao mesmo tempo. Mas não se trata de se desestimular o enriquecimento. Pelo contrário, essa é a tônica do crescimento chinês. Uma riqueza bem aplicada é estimulante para a economia. Ela gera empregos e desenvolvimento.

O que não pode existir é a riqueza parasitária, proveniente do assalto aos cofres públicos (nossa corrupção foi calculada por baixo em 50 bilhões anuais em desvio dos recursos nas mais diversas áreas). Quando o roubo impera, o brasileiro — leia-se o pobre — passa a ser tratado como cidadão de segunda ou terceira categoria.

Na saúde apenas 30% da população possui plano de saúde, aos demais 70% que são os milhões e milhões de brasileiros restam os hospitais públicos. Eles como as escolas públicas não funcionam porque foram feitos para não funcionar.

Muitas pessoas não entendem que saúde e educação, em nosso mundo globalizado, passaram a ser excelentes negócios. O ensino privado, por exemplo, tem excelentes serviços prestados ao desenvolvimento brasileiro. Mas, sua função estratégica era a de servir como um diferencial dentro da estrutura educacional do país. A escola particular eficiente passaria a ser um importante instrumento a modelar o panorama geral. Ao contrário disso, no regime do general que detectou o crescimento econômico ("Milagre Brasileiro") ao lado do empobrecimento da população, houve grande estímulo ao processo de privatização, que vai muito além da igenuidade de descrições como as da "Privataria Tucana" e outras.

O que há em curso é um modelo muito antes registrado pelo filósofo Herbert Marcuse, nos anos 60, quando assinalava a existência de uma Ideologia do Estado Industrial comum tanto ao mundo Capitalista (Estados Unidos) como ao mundo Comunista (União Soviética). O pensador, muito antes de ganhar curso a popularização da economia global, fazia menção a ideologia do crescimento econômico a qualquer custo em detrimento do próprio elemento humano. Frisava que o mundo caminhava para a criação de um Exército de Marginalizados e indagava: "O que vamos fazer quando o Exército de Marginalizados se revoltar?"

A questão é que em muitos lugares do mundo, o exército de marginalizados não se revoltou. Não foi dado a ele capacidade para isso. O próprio crescimento vertiginoso das drogas faz parte do processo. Que perigo pode oferecer milhares e milhares de crianças e jovens amortizadas pelos efeitos do crack? Que perigo pode oferecer milhares de crianças e jovens exterminadas pelo aparato de segurança pública oficial dos governos e também pelas milícias clandestinas?

Até movimentos como o MST reconhece ter perdido fôlego, em nosso mundo no qual a distribuição farta de bolsas de todos os tipos capacita o "cidadão" para o imobilismo e conformismo. Como no estilo romano, "o pão e circo" faz a alegria das massas.

O Brasil é o terceiro maio mercado para venda de geladeiras e freezers, alcançando 4,8 bilhões de dólares. Só perdemos para a China e Estados Unidos. Em venda de automóveis só perdemos para a China, Estados Unidos e Japão. Em 2009 foram vendidos 6 milhões de carros no país. Mas, a felicidade de nossa gente se resume a isso?

O povão não tem carro. O povinho que ascende tem carro usado, poluente, de roda gasta e componentes modestos. Essa turma quando trafega em uma rodovia estadual e federal paga elevada taxas nos pedágios. Ela paga o mesmo que o super milionário que desfila em seu carrão. De verdade a massa dos marginalizados ajuda a tocar a economia, conforme bem detectou Dicró ao mostrar que o mundo da criminalidade fazia a economia crescer (advogados, juízes, carcereiros, médicos, enfermeiros, etc).
Enriquecer a qualquer custo passa a ser a bandeira de muitos. Uns o fazem com uma pistola no bolso. Outros com uma caneta. Outros simplesmente metendo a mão nos cofres públicos.

Nada contra o crescimento econômico vertiginoso do país. Ele é gerador de riquezas e empregos. O que se torna inaceitável é se dar a maioria dos brasileiros péssimos serviços em áreas essenciais.

A questão é que se a escola pública melhorar de qualidade, inevitavelmente acabará com centenas de escolas privadas de baixo nível. O mesmo se dá com a área hospitalar. Se os hospitais públicos melhorarem de padrão, ocasionarão o fechamento de muitas clínicas particulares que proliferam por todo o canto, mas oferecendo serviço tão ruim como os públicos. A diferença é que no privado de baixa qualidade, o empregado não faz greve e o índice de falta ao trabalho é quase inexistente. O público é feito no sentido do não compromentimento com o cliente.

Como o serviço público é inchado de pessoal terceirizado, quarteirizado, contratados temporários e as chefias são ocupadas por apadrinhados políticos, ele, gerencialmente, é levado a um estado de caos. Isso, por exemplo, ocorreu com os Correios, anteriormente apontado pela população como uma das mais eficientes empresas públicas. O sucateamento cresceu com o empreguismo e a abertura para agências privadas que usam o escudo dos Correios.

O único remédio para isso seria uma verdadeira Revolução educacional-cultural, na qual como defendia o velho e ultrapassado Marx, cada um teria de acordo com as suas qualidades ou de acordo com as suas necessidades. Ou como ensinou o velho Mestre, com o seu amai ao próximo como a ti mesmo.

Mas na selva brasileira, o que prevalece é o total desamor com nossas crianças e jovens. "Cada qual ama a si próprio. Liberdade, igualdade, aonde está - não sei", já denunciava Mestre Candeia.

Com isso temos a população pobre enviando seus filhos para as escolas públicas deterioradas e parcela da classe média iludida com o mundo da mediocridade, na qual depositam seus filhos, crentes que estão sendo preparados para um grande futuro.